Relatório da Human Rights Watch mostra que, em 2019, mais de 2 mil pessoas foram hospitalizadas devido a doenças respiratórias ligadas às queimadas
Representantes da ONG Human Rights Watch apresentaram à Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal (6CCR/MPF) o relatório “O ar é insuportável: os impactos das queimadas associadas ao desmatamento da Amazônia brasileira na saúde”. Publicado em agosto deste ano, o estudo avalia o impacto da poluição gerada pela fumaça das queimadas na saúde pública de quem vive na região. A análise considerou dados de 2019.
A reunião virtual ocorreu na última sexta-feira (20). Na ocasião, a coordenadora da 6CCR, Eliana Torelly, afirmou que o lançamento da publicação é “bastante oportuno, diante da situação de queimadas ocorridas neste ano”. Além disso, traz ao debate dificuldades reais enfrentadas pela população local, avaliou a subprocuradora-geral da República: “Infelizmente, a Amazônia é ainda vista, por muitos governantes, como um vazio demográfico. E nós sabemos que são as populações tradicionais as grandes responsáveis pela manutenção daquela terra”. Segundo o relatório, mais de 20 milhões de pessoas vivem na região amazônica atualmente.
Realizado em parceria com os Institutos de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), o estudo da Human Rights Watch concluiu que as queimadas decorrentes do desmatamento da Amazônia tiveram impacto negativo significativo na saúde pública local, durante 2019. Os dados levantados apontam que mais de 2 mil pessoas foram internadas devido a doenças respiratórias e, somados, os pacientes ficaram internados durante 6.698 dias no hospital em razão da exposição à poluição do ar decorrente do fogo.
Torelly considerou como “muito valioso” o trabalho desenvolvido pela ONG, que apresentou no ano passado o relatório “Máfias do Ipê: como a Violência e a Impunidade Impulsionam o Desmatamento na Amazônia Brasileira”, sobre casos de violência contra defensores da floresta, inclusive povos indígenas. A subprocuradora-geral sugeriu ainda a apresentação do novo relatório à Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural (4CCR), dada a congruência com a temática defendida pelo órgão colegiado.
Covid-19 – Um dos pontos abordados na reunião foi a questão do novo coronavírus como um agravante aos problemas causados pelas queimadas na Amazônia. De acordo com o estudo da Human Righst Watch, a projeção é de que o impacto dos incêndios seja maior a partir de 2020, principalmente devido à fumaça ser agravante dos sintomas da covid-19 e à dificuldade no atendimento aos pacientes. Nesse sentido, a coordenadora da 6CCR destacou que a pandemia também acabou dando tom à atuação da Câmara neste ano, já que “todos os esforços foram voltados principalmente para dar resposta às questões emergenciais”.
Em relação ao monitoramento de contágio e óbitos nos territórios isolados e comunidades tradicionais, Torelly afirmou que as estatísticas não são totalmente confiáveis, em razão da precariedade desse mecanismo, já existente antes e agravado pela pandemia. “Acredito que o ponto central seria a desintrusão dos territórios, o que é um trabalho árduo e complexo. Estamos falando de um problema antigo, relacionado a tráfico de drogas, garimpo ilegal, doenças contagiosas e o próprio desmatamento ilegal”, disse.
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