Ministério da Saúde – Missão Yanomami

Mais de cinco mil atendimentos médicos foram realizados em um mês no território Yanomami. Declaração de emergência completa 30 dias nesta segunda (20). Neste período, 78% das crianças atendidas ganharam peso. Vacinação na região está prevista para iniciar dia 25.

Foto: Igor Evangelista/MS

Um mês após a Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) ser declarada no território Yanomami, mais de cinco mil atendimentos médicos aos indígenas encontrados em grave situação de desassistência foram realizados na região. Entre as crianças acompanhadas na Casai (Casa de Saúde Indígena), 78% evoluíram do quadro grave de desnutrição para moderado.

Para o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, a operação na região tem apresentado resultado positivo. “Conseguimos ampliar a nossa capacidade de assistência na Casai e no território em geral. Mas, ainda temos alguns desafios, como a instalação do hospital de campanha em Surucucu, as ações de infraestrutura em todas as unidades de saúde indígena, mais acesso à água potável. Avançar nessas e outras metas brevemente é nossa prioridade”, destacou o secretário.

Os atendimentos emergenciais são realizados pela Força Nacional do SUS nos polos base das regiões de Auaris, Surucucu e Missão Catrimani. Em Boa Vista (RR), parte dos atendimentos são realizados pelas equipes de voluntários da Casai, ou no hospital de campanha montado na área externa, com apoio das Forças Armadas. Os casos mais graves são encaminhados para a rede hospitalar da capital.

Com a coordenação do Centro de Operações de Emergências (COE), são tomadas medidas para mitigar a grave crise sanitária e humanitária na qual esteve imerso nos últimos anos o maior território demarcado do Brasil, com mais de 31 mil indígenas em 376 comunidades.

Como possui várias frentes, a crise exige uma ação interministerial e apoio de diferentes instituições, com representantes que atuam no COE para o desenvolvimento de soluções divididas em temas, como logística, vigilância em saúde, nutrição, alimentação, insumos, infraestrutura e assistência.

Desnutrição em diferentes níveis, pneumonia, diarreia aguda, malária e tuberculose são algumas das doenças mais diagnosticadas entre a população Yanomami. A avaliação dos profissionais é que a maioria dos agravos é prevenível e podem ser tratados com os recursos atualmente disponíveis no SUS.

Cumprindo com o compromisso da transparência, o COE disponibiliza diariamente boletins com dados referentes aos atendimentos realizados pelas equipes de saúde na Casai e nos hospitais da região:

Primeiras ações

Desde o início da situação de emergência declarada no território Yanomami, o Ministério da Saúde enviou mais de 103 profissionais pela Força Nacional do SUS para reforçar os atendimentos na região, sendo 89 voluntários. Para a melhoria do atendimento oferecido na Casai, o COE providenciou instalação de bebedouros e avaliação clínica e nutricional de todos os ocupantes – acompanhantes e pacientes. Além disso, estão em fase de planejamento as reformas da cozinha e do refeitório, a instalação de novo telhado e a contratação de mais profissionais para atuação no local.

Foi na Casai que 15 das 19 crianças internadas em grave estado de desnutrição ganharam peso e evoluíram para o quadro moderado após protocolo elaborado pelas equipes de nutrição.

Na tentativa de reduzir a necessidade de remoções a Boa Vista, também está em andamento a formalização de parceria com a organização Expedicionários da Saúde para a instalação de um hospital de campanha, com alojamento, cozinha e laboratórios, no polo-base em Surucucu para atendimentos de urgência, emergência, recuperação nutricional e aprimoramento da assistência. O projeto deve ter início nas próximas semanas.

Articulação de urgência

“Desde o relatório da transição de governo, identificamos que a crise sanitária Yanomami precisaria de um plano emergencial interinstitucional. Já no início do ano começamos a articular algumas ações”, explica a pesquisadora Ana Lúcia Pontes, integrante do COE Yanomami.

Em 16 de janeiro, a primeira equipe, formada por profissionais do Ministério da Saúde e da Organização Panamericana da Saúde (Opas), chegou a Roraima para diagnóstico da situação. Com um cenário muito mais grave do que se imaginava, o trabalho resultou no relatório situacional com a constatação do aumento de índices preocupantes, como a taxa de mortalidade infantil.

Em 2020, esse indicador foi de 114,3 para cada mil nascidos vivos na TI Yanomami contra 11,5 em todo o Brasil. A mortalidade infantil era quase dez vezes maior entre os indígenas da etnia que na população brasileira como um todo. Diante da gravidade da situação e antes mesmo do fim da missão expedicionária, o governo articulou o início das ações na Casai, com apoio das Forças Armadas e a ampliação de distribuição de alimentos pela Funai e pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

“Havia uma demanda imediata de ampliação da atuação em campo e começou aí o planejamento para o envio de nove equipes da Força Nacional do SUS para entrar em área. Nesse momento, a ação foi focada em três polos que são Surucucu, Auaris e Missão Catrimani. Além de mais uma equipe para ficar ainda na Casai”, lembra Pontes.

Acesso às aldeias durante a Espin

Atendendo a um pedido das lideranças indígenas da região, as entradas no território e na Casai são restritas aos profissionais que atuam na missão, após publicação de portaria conjunta entre Funai e Sesai. Em situação de extrema vulnerabilidade, lideranças Yanomami tem apontado cuidados à exposição da imagem, sobretudo em relação aos indígenas doentes e aos seus mortos.

O dano socioemocional da exposição indevida é um transtorno comparável a algumas das mazelas físicas das quais essa população vem sendo vítima. O pedido de proteção tem sido reiterado por lideranças como Davi Kopenawa e Dário Kopenawa. Todos os pedidos foram devidamente ouvidos e documentados para a tomada de decisão que culminou na portaria de restrição de acesso.

Outra dificuldade é o acesso ao território, feito por via aérea em 98% dos casos e limitado a pequenas aeronaves e helicópteros. Isso torna necessário priorizar o uso dos recursos nas ações emergenciais, com o transporte de profissionais ligados à ação. Um ponto ainda mais delicado é o estado das pistas no território. Após anos de abandono, elas apresentam condições ruins de uso reduzindo ainda mais a capacidade de acesso à região.

Entrega de alimentos

Até o momento, foram distribuídas mais de 5,5 mil cestas de alimentos, em caráter emergencial, ao DSEI-Y. Com o auxílio de nutricionistas foram elencados alimentos com base em valores nutricionais próximos às necessidades e hábitos alimentares dos indígenas.

Os alimentos foram especificados por meio de nota técnica entre Funai, Sesai e Ministério do Desenvolvimento Social. A estimativa mensal de entrega é de 12,6 mil cestas com uma cobertura estimada de 282 comunidades priorizadas por estarem em situação de insegurança alimentar. Nesses locais, vivem cerca de 21 mil pessoas.

Testes para malária e vacinação 

O combate à malária na região também é prioridade do governo federal. o Ministério da Saúde já enviou 14,3 testes diagnóstico para a doença e mais de 240 mil medicamentos para tratamento da malária para o território Yanomami.

Alem disso, para a proteção contra a Covid-19 e outras doenças imunopreveníveis, o Ministério da Saúde vai antecipar a vacinação contra Covid para os indígenas Yanomamis. Cerca de 20 mil doses de vacinas bivalentes foram enviadas para o estado de Roraima para dar início à imunização do povo Yanomami em seis comunidades: Surucucu, Kataroa, Maloca Paapiú, Auaris, Missão Catrimani e Waputha. A ação deve ter início em 25 de fevereiro na Casai de Boa Vista e, em seguida, será levada aos polos.

Jéssica Gotlib
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