A luta de ribeirinhos no Xingu contra a construção da maior mina de ouro a céu aberto do Brasil

A mineradora canadense Belo Sun quer construir uma imensa mina de ouro na região da Volta Grande do Xingu, no Pará; projeto prevê a extração de 74 toneladas de ouro em 20 anos de operação. Além dos impactos ambientais, especialistas alertam para os riscos de rompimento da futura barragem, que pode inundar a área com 9 milhões de m3 de lixo tóxico.   

Além dos impactos ambientais, especialistas alertam para os riscos de rompimento da futura barragem, que pode inundar a área com 9 milhões de m3 de lixo tóxico.

A mesma região já sofre os impactos da hidrelétrica de Belo Monte, que desviou até 85% das águas do Rio Xingu, levando à morte de peixes e ao declínio da pesca por ribeirinhos e indígenas. 

O projeto da Belo Sun foi impugnado no ano passado, o que levou apoiadores a perseguir e intimidar aqueles que se opõem à construção da mina; clima na região é de tensão.

Em uma tarde úmida de julho, quando o sol começava a descer sobre o Rio Xingu, na Amazônia brasileira, uma jovem mãe preparava o café da tarde quando seu telefone tocou. Quando atendeu, uma voz feminina alegou ter informações importantes para compartilhar. “Manda um áudio”, respondeu a mãe, distraída por panelas fervendo e uma criança brincando no chão de concreto. “Não posso”, disse a voz, urgentemente, através de uma conexão fraca. “Eu tenho que falar com você agora.”

A mulher relatou que pistoleiros estavam na área procurando por um membro da comunidade que havia deixado a cidade. Ele era um opositor declarado de um projeto de mineração local e havia recebido ameaças. A mãe ficou muito preocupada: conhece o homem desde criança, e agora ele talvez nunca mais possa voltar para casa e para sua família. Na Vila da Ressaca, todos temem constantemente pela segurança uns dos outros. Segundo um levantamento da  Global Witness, o Brasil é o país mais perigoso do mundo para os defensores do meio ambiente.

A Vila da Ressaca, uma comunidade de cerca de 600 moradores próxima a Altamira, no Pará, fica no meio da Volta Grande do Xingu, um ponto onde o rio faz uma grande curva e abriga uma rica sociobiodiversidade. Suas poucas dúzias de barracos de madeira cercados por florestas, pastagens e garimpos artesanais são o marco zero da saga da mineradora canadense Belo Sun e seu plano de construir a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil, às margens do rio. Moradores, especialistas e ONGs vêm alertando há anos sobre os riscos apresentados a um ecossistema que já sofre com os efeitos de uma das maiores hidrelétricas do mundo.

Inaugurada em 2016 diante de intensa oposição, a vizinha usina de Belo Monte desvia até 85% das águas do Xingu para alimentar suas dezoito turbinas — uma sentença de morte para o rio. Como se isso não bastasse, a região continua sofrendo com a violência ligada à grilagem de terras, desmatamento e mineração clandestina que se agravaram desde a conclusão da barragem.

Por: Andrew Johnson
Fonte: Mongabay

TEXTO NA ÍNTEGRA DISPONÍVEL EM: AMAZÔNIA.ORG.BR 

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