Missão Alto Solimões realizou mais de 6,5 mil procedimentos de saúde em aldeias do Amazonas

Após sete dias de intenso trabalho, a Missão Alto Solimões chegou ao fim. Essa é 16ª missão indígena e 19ª ação interministerial entre os Ministérios da Defesa, da Saúde e da Justiça.

Tabatinga, 17/12/2020 – Após sete dias de intenso trabalho, de 7 a 14 de dezembro deste ano, a Missão Alto Solimões chegou ao fim. Essa é 16ª missão indígena e 19ª ação interministerial entre os Ministérios da Defesa, da Saúde e da Justiça. Ao todo, 27 profissionais de saúde das Forças Armadas atenderam quatro comunidades indígenas das etnias ticuna, kaixana e kokama, das aldeias Umariaçu I e II, Campo Alegre e São Sebastião, na região de Tabatinga, no Amazonas. Foram realizados mais de 6,5 mil procedimentos em distintas áreas da saúde e atendidos cerca de 1700 indígenas.

Para o coordenador administrativo da Missão Alto Solimões, Coronel Eduardo Passos, o trabalho como um todo foi cumprido de forma positiva e gratificante. “Tivemos uma ação de Estado na qual demonstramos que os brasileiros, tanto nos grandes centros urbanos quanto nos mais longínquos rincões, são importantes”, concluiu.

Ginecologistas, infectologistas, pediatras, clínicos gerais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, veterinários e auxiliar em veterinária integraram a equipe médica. Levar atendimento especializado foi o foco da missão, já que, em decorrência da pandemia da Covid-19, os indígenas foram orientados a evitar deslocar-se a municípios próximos para buscar atendimento de saúde.

Satisfação  

No domingo (13), houve a última visita da equipe médica, na Aldeia São Sebastião, a 305 quilômetros do 8º Batalhão de Infantaria de Selva (8º BIS), onde os profissionais de saúde estavam baseados. Segundo o cacique Izidio Curica de Souza, o trabalho realizado ajudou não só sua aldeia, mas os moradores das áreas próximas.

“Fico muito feliz em ver pessoas vindo de lugares tão distantes para nos ajudar. Muitas pessoas que não são da aldeia vieram para ser atendidas, isso é bom para todos”, contou.

Experiência 

Os profissionais que integraram a Missão Alto Solimões afirmaram que a realidade nas aldeias proporcionou uma vivência totalmente distinta da qual estão habituados. Distante dos centros urbanos, eles se depararam com o estilo de vida dos povos indígenas. Essas comunidades moram em plena Floresta Amazônica cercadas de árvores e rios.

Os indígenas mantêm costumes tradicionais, como o cultivo da roça, casas de palafitas e edificações de alvenaria. Preservam hábitos e culturas, como pintura corporal, produção de artesanatos, rituais, danças e crenças. Também há a manutenção do dialeto próprio de várias etnias, como as línguas ticuna, cocama e caixama. Nos contatos com os profissionais, havia intérpretes, pois muitos dos pacientes não falam português.

O Tenente Médico Leonardo Florian, clínico-geral do Hospital da Aeronáutica de Canoas (HACO), no Rio Grande do Sul, definiu a experiência na Missão Alto Solimões como “gratificante”. “Entrei em contato com uma realidade diferente do que estou acostumado e, de certa forma, muito semelhante também. Encontrei muita similaridade entre a vida nas aldeias e as vilas mais afastadas de Porto Alegre”, disse ele.

Questionado sobre as consultas, o médico afirmou que boa parte das queixas se refere a dores contínuas e que vêm há um longo tempo. “Uma mulher de 35 anos tinha a córnea toda deformada. Ela nasceu com o problema e nunca tratou. Então a encaminhamos para a oftalmologia. Foi impactante vê-la conviver tanto tempo com algo tão diferente”, relata.

Na quinta missão indígena da qual fez parte, a Capitão Médica do Exército Fernanda Dalcomo, ginecologista, afirmou que este tipo de trabalho leva à reflexão. “Participar dessas missões muda a vida da gente. Repensamos tudo que vemos no dia a dia, a forma como reagimos as coisas. Creio que passamos a ser pessoas melhores.”

Segundo a Capitão Dalcomo, as missões a ensinaram a ter mais empatia e mudar de postura em várias situações. “Depois de ter participado da missão, consigo me conectar ainda mais com eles.”

Atendimento veterinário 

Os médicos atenderam nos consultórios do Polo Base do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), unidade de saúde que oferece serviços básicos de saúde da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI). A coordenadora do Polo Base da Aldeia São Sebastião, Marisa Calmon, destacou a relevância da ação. “A nossa unidade aqui é muito grande e não temos especialistas”,

Para realizar o controle de doenças transmitidas por animais, as zoonoses, o apoio veterinário realizou 211 atendimentos. O Tenente Médico-Veterinário Fernando Brasiel Sampaio, do 6° Batalhão de Polícia do Exército (BPE), ressaltou que as doenças mais frequentes identificadas foram leishmaniose, raiva e larva migrans, parasita transmitido pelas fezes dos animais, que podem ser passadas aos humanos.

“Se não tivermos esse controle epidemiológico de vermifugação, pode-se ter problemas, como bicho geográfico nas crianças, que muitas vezes caminham descalças pela aldeia”, afirmou Brasiel Sampaio.

Durante os procedimentos, em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses de Tabatinga, houve, também, vacinação contra raiva nos cães e gatos. “Com esse trabalho, nós fazemos mitigação ao máximo de problemas de saúde única, que envolve a saúde dos seres humanos, animas e meio ambiente”, destacou o Tenente Médico-Veterinário.

Barreiras nas aldeias   

Em algumas comunidades indígenas há barreiras de controle que têm como protagonistas os próprios indígenas. Conforme informa o coordenador-geral da Fundação Nacional do Índio (Funai) na região do Alto Solimões, Jorge Baruf, esses grupos recebem apoio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e Fundação Nacional do Índio (Funai). “Quando a Funai está junto em uma ação como essa é um facilitador para a abertura a área interna das comunidades. Inibir a entrada de pessoas que não moram na aldeia é o principal motivo da barreira”, disse Baruf.

Ao término da Missão, Baruf agradeceu a equipe médica das Forças Armadas. “Quando o Estado brasileiro se faz presente, neste momento de pandemia e na forma de saúde, isso tem um valor que vocês não podem imaginar”, disse ele, dirigindo-se aos 27 profissionais. “Cada detalhe, cada diagnóstico que foi passado, vai ecoar por muitos anos”, concluiu.

Apoio Logístico Aéreo   

Para chegar até as aldeias, na ponta da linha, o caminho percorrido pelos profissionais de saúde foi longo. A Missão envolveu militares do Distrito Federal, do Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e da Bahia. Para conduzi-los, o Primeiro Esquadrão do Segundo Grupo de Transporte da Força Aérea (Esquadrão Condor) realizou o transporte tanto na ida como na volta.

A viagem incluiu jornalistas convidados para conhecer a missão, que embarcaram na terça-feira (08) e retornaram no sábado (12), a convite do Ministério da Defesa e da Saúde.

Para alcançar as aldeias, devido ao difícil acesso, o trabalho da equipe aérea dos helicópteros que transportou a equipe médica foi imprescindível. Para isso, foram acionados o 2º Batalhão de Aviação do Exército Brasileiro (2º BAvEx), sediado em Taubaté (SP) e o 4º Batalhão de Aviação do Exército Brasileiro (4º BAvEx), com sede em Manaus (AM).

O Centro de Coordenação de Logística e Mobilização do Ministério da Defesa (CCLM) é o setor do Ministério da Defesa responsável por organizar a logística das missões. Nas missões indígenas, o desafio é ainda maior, tendo em vista as dificuldades de acesso a áreas remotas do país.

O Tenente-Brigadeiro do Ar João Tadeu Fiorentini, Chefe de Logística e Mobilização do Ministério da Defesa, disse que a missão é planejada minuciosamente, organizando datas, profissionais de saúde, transportes e alojamentos. No caso das missões indígenas, as articulações são feitas junto com a Secretaria Especial de Saúde Indígena e com as Forças Armadas.

Cada planejamento de missão requeria, primeiramente, contato com Força Aérea para viabilizar o transporte. “A partir desse sinal verde de que, em cerca de 15 dias seria possível o apoio da FAB, nós disparávamos as necessidades para as demais Forças Singulares. Nunca houve uma operação desse porte em termos de logística”, disse o Brigadeiro Fiorentini.

Em seguida, o Brigadeiro Fiorentini acrescentou que: “Foi uma experiência que em seis meses percorremos o Brasil. Foram fornecidas orientações, consultas, mantimentos e tratamento veterinário”.

Missões Indígenas  

As missões de apoio a comunidades indígenas ocorrem no contexto da Operação Covid-19 de enfrentamento aos efeitos do novo coronavírus. A ação busca evitar a necessidade de deslocamento dos indígenas às cidades em busca de assistência médica.

Desde junho, foram realizadas 16 missões indígenas, em parceria com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), instituição do Ministério da Saúde. Ao todo, 401 profissionais de saúde participaram das operações e realizaram mais de 63 mil atendimentos. As ações ocorreram sete estados: Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Roraima, Maranhão e Mato Grosso. As principais etnias abrangidas foram yanomami, kanamarí, macuxi, tiryós, xavante, karajás, terenas, guajajara, kaxinauás, kayapó, wai-wai e ticunas.

Operação Covid-19 

Em 20 de março, o Ministério da Defesa ativou o Centro de Operações Conjuntas para atuar na coordenação e no planejamento do emprego das Forças Armadas no combate ao novo coronavírus. No total foram envolvidos 10 Comandos Conjuntos, que cobrem todo o território nacional, além do Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), de funcionamento permanente. A iniciativa integra o esforço do governo federal no enfrentamento à pandemia.

As demandas recebidas pelo Ministério da Defesa, de apoio a órgãos estaduais, municipais e outros, são analisadas e direcionadas aos Comandos Conjuntos para avaliarem a possibilidade de atendimento. De acordo com a complexidade da solicitação, tais demandas podem ser encaminhadas ao Gabinete de Crise, que determina a melhor forma de atendimento.

Por Mariana Alvarenga

Fotos: Divulgação MD

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