Projeto piloto realizado pelo DSEI Alto Rio Negro atendeu indígenas da etnia Hupdah na calha do Rio Waupés.
O Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Rio Negro realizou, entre os dias 22 e 28 de junho, ações para o controle da tungíase em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). O projeto teve foco na capacitação teórica e prática de quatro Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) para serem multiplicadores em cinco aldeias: Vila de Fátima, do polo base de Iauaretê; São João, Cabeça da Onça, São Fernando e Waguia, atendidas pelo polo base de São José de Anchieta.
As ações foram coordenadas pela enfermeira Josefa da Silva Quirino (do DSEI/ARN), com orientações do Dr. Hollman Miller Hurtado e seu assistente – vinculados ao Ministério da Saúde da Colômbia. A supervisão ficou a cargo da Dra. Isabelle Roger, médica da OPAS. O projeto teve continuidade entre os dias 29/06 e 02/07 nas aldeias do povo Hupdah, na calha Médio Waupes.
A tungíase é uma ectoparasitose da pele causada por fêmeas grávidas da espécie de pulga Tunga penetrans e está associada a graves morbidades, particularmente em crianças. Sua origem está geralmente relacionada à pobreza. “Temos um problema muito sério, que é o controle populacional da tunga que habita o solo de zonas arenosas”, declara Hollman Miller, que há 25 anos trabalha e pesquisa esse problema de saúde pública.
Ainda segundo Hollman, o protocolo para encerrar o ciclo de transmissão se dá com o tratamento de pacientes infestados pela pulga com uma solução a base de dimeticona a 92%, capaz de tratar efetivamente as lesões de forma não invasiva, proporcionando melhor aceitação pelos pacientes. Também são ações eficazes: o tratamento de cachorros com uma solução de água com creolina, a desinfecção dos solos borrifando produto apropriado ao combate a tunga, além de ações educacionais de higienização dos ambientes e acompanhamento periódico por profissional.
A primeira ação de combate a tungíase foi realizada nas aldeias do polo base Auaris do DSEI Yanomami em 2018, em busca por tratamentos menos invasivos e mais resolutivos do que o processo tradicional de extrair as pulgas com agulhas, método altamente rejeitado por parte das mais acometidas, as crianças.
As ações da Operação Tumbira – que significa bicho-de-pé na língua indígena Nheengatu – para o controle da tungíase foi exitosa, tanto a capacitação como a sua execução. “Coroou todo o esforço das equipes que participaram e contribuíram para a aquisição do material (baldes, vassouras, buchas, sabão entre outros), declarou Josefa Quirino.
Ao final do projeto piloto foram atendidos 33 pacientes acometidos pela tungíase, sendo que dois foram diagnosticados com hiperinfestação e encaminhados para a Casa de Saúde Indígena-CASAI na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM). Foram feitas limpezas e desinfecção do solo em 43 domicílios e, no total, 28 cachorros receberam tratamento para tungíase.
A operação Tumbira realizou as seguintes ações:
- Ações de higiene pessoal (banho, lavagem de mãos e rosto e tratamento para piolho nas crianças) na Vila Fátima;
- Coleta de gota espessa para detecção de malária, microfilária e chagas pelos profissionais técnicos de laboratório e agentes de endemias;
- Realização de testagem rápida para sífilis, hepatites virais e HIV, com coleta de VDRL e sorologia nos casos detectados reagentes; e coleta e realização de exames parasitológicos com o objetivo de identificar o parasita predominante na região;
- Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças;
- A soro-vacinação dos indígenas já acometidos pela agressão do morcego pela EMSI do polo;
Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Gabriel da Cachoeira (AM), foram realizadas as ações:
- Captura de morcegos para controle e envio de amostra para análise laboratorial, visto que já foi encontrado morcego com o vírus da raiva no município;
- Vacinação contra a raiva em cães e gatos de todas aldeias envolvidas no projeto Tumbira;
O Brasil é pioneiro na elaboração de um programa para o tratamento integrado da tungíase. Por tratar-se de uma doença negligenciada, não existe estimativa mundial de prevalência do agravo, apenas relatos de casos semelhantes de infestação em comunidades na América Latina e África.
A dimeticona a 92% – que na realidade é um shampoo para tratamento de piolhos produzido na Alemanha e comercializado em toda Europa – recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a importação em caráter excepcional, pois ainda não possui registro no país na concentração utilizada.
Outro destaque para o sucesso da Operação Tumbira “foi a excelência das equipes do DSEI/ARN, principalmente os pilotos fluviais, a quem confiamos nossas vidas. O trabalho deles sempre demonstra muita confiança, sabedoria e técnica”, destacou Isabelle Roger, da OPAS.
DSEI ARN
FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE – Notícias SESAI – SAÚDE INDÍGENA