Devolução de território indígena no Brasil “pode ser exemplo” para outros países

Chefe do Sistema da ONU no Brasil testemunhou momento de restituição de 282 mil hectares das terras ancestrais no Pará; prefeituras, governos federal e estadual apoiaram entrega de ajuda às pessoas retiradas do Alto Rio Guamá até junho.

Nações Unidas apoiam ações pelo desenvolvimento sustentável na Amazônia, inclusive colaborando com o Consórcio Interestadual da Amazônia Legal – Foto: Isadora Ferreira/ONU Brasil

As Nações Unidas no Brasil veem a devolução de território de comunidades nativas no Pará como um modelo para outras nações.*

Em finais de junho, a coordenadora residente da organização no país, Silvia Rucks, participou de um evento oficial com a presença de comunidades de 42 aldeias. Ela disse à ONU News, de Brasília, que o ato transcende as fronteiras brasileiras.

Terra ancestral livre 

“Eu tive a oportunidade e a honra de participar da cerimônia de devolução do território  do Alto Rio Guamá aos povos indígenas Tembé, Timbira e Kaapor. Fui recebida pelos caciques de várias comunidades, e por homens mulheres e crianças. Fiquei tocada pela emoção de pessoas que esperam mais de 30 anos para ver sua terra ancestral livre de invasores.”

A restituição de terra envolveu 282 mil hectares que integram o território nativo na Terra Indígena Alto Rio Guamá. O uso exclusivo desta extensão foi sancionado em 1993.

Silvia Rucks considera a parceria entre os diferentes setores como tendo um papel essencial no processo. Programas sociais implementados por diversas prefeituras, pelo governo estadual e órgãos federais visavam garantir o auxílio necessário.

Orgulho para o Brasil e um exemplo para outros países

No evento estiveram 10 lideranças indígenas e a secretária-executiva da Secretaria-Geral da Presidência da República, Maria Fernanda Coelho, bem como representantes dos governos federal e estadual.

“Isso foi resultado de um esforço conjunto de diversas instituições do Estado brasileiro, nos três níveis de governo, que juntas conseguiram pacificamente restituir a terra indígena aos seus ocupantes. E, ao mesmo tempo, prestar assistência para as pessoas removidas. É motivo de orgulho para o Brasil e um exemplo para outros países.”

As Nações Unidas apoiam ações pelo desenvolvimento sustentável na Amazônia, inclusive colaborando com o Consórcio Interestadual da Amazônia Legal. Um dos pilares é levar em conta a diversidade ao atender as pessoas que vivem na região.

A solenidade nas terras paraenses foi liderada por mulheres. A terra desocupada de forma pacífica foi devolvida a 2,5 mil pessoas na área após a presença de cerca de 1,6 mil não-indígenas de forma ilegal no território.

Pedidos de ação de reintegração de posse da terra

Na reunião na aldeia central estiveram a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Funai, Joênia Wapichana, e a secretária dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé.

A retirada de não-indígenas, conhecida como desintrusão, segue-se a uma decisão judicial da Justiça Federal de 2018. A sentença foi favorável aos pedidos de ação de reintegração de posse da terra que foi em grande parte desocupada de forma voluntária.

O cadastramento das famílias não-indígenas aconteceu entre maio e junho de 2023.

*Com reportagem do ONU Brasil.

PUBLICADO POR: ONU NEWS – Devolução de território indígena no Brasil “pode ser exemplo” para outros países | ONU News