Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXXII
Descendo o Rio Madeira ‒ XIII
Câmara e Senado Voltam sua Atenção para a Descoberta de Nova Olinda
Significação Política e Econômica do Rico Lençol Petrolífero da Amazônia
Grande Interesse pelas Amostras Ontem Chegadas a Esta Capital
Grande vem sendo o repercussão popular da descoberta de petróleo no poço de Nova Olinda, no interior do Amazonas, fato esse ocorrido aos primeiros minutos de domingo último. Essa repercussão pode ser medida pelos comentários de rua, nos quais se sente a presença de um entusiasmo digno de assinalação. Também nos meios econômicos desta Capital e dos Estados a notícia em apreço foi recebida com vivas demonstrações de alegria, pela influência que o novo acréscimo de produção do “ouro negro” nacional representa como atenuarão da crise de divisas em que se debate o país.
Ontem, a ocorrência de Nova Olinda ocupou inteiramente as sessões das duas Casas do Congresso, nas quais vivos depoimentos foram prestados a respeito da significação econômica e política da descoberta de rico lençol petrolífero na Amazônia.
No Senado, o Sr. Juraci Magalhães que foi Presidente da “Petrobras”, proferiu longa exposição sobre o assunto. Seguiram-se na tribuna, os Senadores Cunha Melo, do Amazonas, e Kerginaldo Cavalcanti, do Rio Grande do Norte.
Na Câmara dos Deputados
Na Câmara, o primeiro orador a ocupar-se do assunto foi o Sr. Gabriel Hermes Filho, do Pará, até há pouco Presidente do Banco de Crédito da Amazônia. Em sua oração, o Deputado referiu-se, inicialmente, à importância econômica da descoberta, sobretudo por coincidir com a chegada ao Congresso, da mensagem do Presidente Café Filho, documento esse repleto de desalento em relação ao consumo de divisas pela importação crescente de derivados de petróleo. Aludiu o Sr. Gabriel Hermes Filho, ainda a circunstância de haver jorrado o petróleo em plena Amazônia, criando ali uma nova fonte de riqueza, justamente no local onde técnicos brasileiros haviam, desde 1936, afirmado a existência de ricos lençóis, numa área de dois mil quilômetros quadrados, pelo menos. E terminou por fazer um apelo ao Chefe do Governo e ao Ministro da Fazenda no sentido de tudo facilitarem ao equipamento da Petrobras, a fim de que esta possa prosseguir suas atividades tão bem iniciadas. O discurso do Sr. Gabriel Hermes Filho foi entrecortado de apartes, todos representando manifestações de apoio a conceitos expedidos pelo orador ou de entusiasmo diante da descoberta. O Sr. Carvalho Sobrinho, por exemplo, lembrou que, em São Paulo, há várias regiões cujo subsolo, embora com as mesmas características dos depósitos sedimentares em que se encontra o “ouro negro”, não tinham ainda prospecção.
O Sr. Afonso Arinos, por outro lado, manifestou dúvidas sobre as nossas possibilidades em matéria de meios financeiros e organização econômica para fazer com que as reservas petrolíferas, de existência comprovada, venham a satisfazer às necessidades atuais. O segundo orador foi o Sr. Flores da Cunha, que, em palavras de fé, caracterizou a descoberta de Nova Olinda como uma visão luminosa surgida no meio dos pesadelos em que vivemos mergulhados. A seguir, usou da tribuna o Sr. Pereira da Silva que, após realçar a influência que o petróleo de Nova Olinda vai exercer na Amazônia, recordou dificuldades que teriam sido postas, por técnicos estrangeiros, anos atrás, às pesquisas no local agora indicado como detentor de ricos lençóis.
O último Deputado a falar sobre a matéria, que ocupou toda a sessão da Câmara, foi o Sr. Áureo Mello. Após referir-se à situação de penúria da Amazônia, o orador exortou o Governo a criar refinarias em Manaus.
Amostras de Petróleo Amazonense
A direção dos “Diários Associados”, do Pari, remeteu a esta Capital um vidro contendo amostra de petróleo de Nova Olinda, de que foi portador o Sr. Renato Barbosa.
Ontem, a amostra foi exibida em todas as dependências dos “Diários Associados”, do Rio, tendo o jornalista Renato Barbosa relatado o entusiasmo que se apossou da população de Belém ao tomar conhecimento da descoberta, entusiasmo que fez com que “vários cidadãos saíssem à rua empunhando Bandeira Nacional”.
Acompanhado de vários repórteres dos “Diários Associados”, o Sr. Renato Barbosa esteve, a seguir, no Senado e na Câmara, onde o vidro de petróleo passou de mão em mão, sendo examinado por leigos e entendidos.
Declarações do Sr. Odilon Braga:
O ímpeto do jorro do petróleo no poço pioneiro de Nova Olinda comprova a existência de uma poderosa jazida, a primeira desta categoria a ser descoberta no Brasil. Sempre depositei as maiores esperanças na existência do petróleo na Amazônia, sobretudo na região andina. O produto de Nova Olinda acaba de alargar muito aquelas esperanças. Daqui por diante, a “Petrobras” tem diante de si um grande futuro.
Declarações do Sr. Fernando Ferrari: “O encontro de petróleo no Amazonas reforça, uma vez mais, a grande razão que nos assiste ao defender, por todos os meios, as jazidas petrolíferas, que constituem não um sonho do novo El-Dotado, mas realidade viva, que jorra em benefício do Brasil”. Declarações do Sr. Saturnino Braga: “A Impressão é de que se trata de óleo de poucas impurezas, assemelhando-se mesmo, nas aparências, a óleo lubrificante. Esta, pelo menos, é minha impressão visual”.
O Sr. Aliomar Baleeiro declarou que: “como baiano, folgava em saber que a Amazônia tirara do segredo de suas terras o petróleo pelo qual todos ansiamos”. O Sr. Mourão Vieira recordou que, desde 1935, na base de estudo de técnico estrangeiro, tivera a sensação de que, realmente, seria encontrado petróleo em seu Estado.
O Sr. Oswaldo Orico recordou que, há cinco anos, tivera oportunidade de escrever dizendo que o petróleo haveria de jorrar na Amazônia.
O Sr. Artur Levy, Presidente da “Petrobras”, recebeu também ontem a primeira amostra do petróleo extraído do poço de Nova Olinda. Essa amostra foi levada até Belém pelo Sr. Nilson Brandão comandante do primeiro avião que desceu naquele local, e, da capital paraense enviada ao Rio pela Assessoria de Relações Públicas da Petrobrás.
Por outro lado, o Coronel Artur Levy recebeu informes técnicos a respeito do óleo que agora vai ser quimicamente examinado. (Conclusão) (O JORNAL, N° 10.598)
Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 18.12.2020 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
Bibliografia
O JORNAL, N° 10.589. Depõe uma das Maiores Autoridades Mundiais em Petróleo… – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – O Jornal, n° 10.589, 18.03.1955.
(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
- Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
- E-mail: [email protected].