AC – Índios Shanenawá realizam o IV Festival da Caiçuma em Feijó

Os índios Shanenawá da Aldeia Morada Nova, situada às margens do Rio Envira, em Feijó, realizam desde a última segunda-feira, o Festival da Caiçuma. Participaram do evento índios de várias etnias, além da população do município, que também é convidada. O gerente do posto da Funai em Feijó, Carlos Brandão, disse que o evento é importante para a cidade e está inserido no calendário de atividades culturais do lugar.A caiçuma é tradicionalmente feita de macaxeira, mas também pode ter a banana como origem A bebida faz parte da tradição e cultura indígena e está sempre presente nos rituais e festas nas tribos.

O prefeito Dindim Pinheiro disse que o evento é muito importante para a cultura indígena e feijoense. “A cultura indígena tem uma forte influência na gastronomia, no artesanato, nas tradições, nos valores e lendas do nosso povo. E não podemos esquecer de tudo o que foi feito em benefício da população indígena desta terra pelos inesquecíveis Inácio Shanenawa e o centenário Bruno Brandão Shanenawa”, destacou o prefeito. (Feijoacre.com) Veja a história dos Shanenawás:

A história do povo Shanenawa é comum àquelas vividas por grande parte das populações indígenas no Acre. No início do século 20 foram vítimas da rápida e violenta ocupação da região em função do extrativismo de caucho e seringa.

No processo de desenvolvimento da economia regional, os Shanenawa foram inicialmente alocados como mão-de-obra para o fornecimento de carne e outros bens alimentícios aos trabalhadores dos seringais, sendo posteriormente integrados à lida na própria extração de borracha e à atividade de amansamento dos índios “brabos” do alto rio Envira.

Após alguns deslocamentos os Shanenawa passaram a viver em uma porção de terra que mais tarde foi homologada com o nome Katukina/Kaxinawa. Isso se deveu a um engano, pois eles foram confundidos com índios Katukina e chamados como tal.

Com receio de perder o direito sobre suas terras, tendo em vista todo o histórico de violência e injustiça que sofreram, os Shanenawa resolveram não desfazer o mal entendido. Estudos lingüísticos realizados na década de 1990 comprovam esta situação, visto que a língua shanenawa é da família Pano e não Katukina. (Povos Indígenas no Brasil)

Perseguição e sofrimento

Após três ou quatro décadas de perseguições e sofrimentos, decorrentes da violenta ocupação e exploração do Acre, teve início um novo período, que compreende as décadas de 1910 a 1980. Foi um período de fortalecimento das empresas seringalistas que se instalaram nos principais rios e abriram colocações para a exploração da borracha por toda a parte, restando pouco espaço para que pequenos grupos indígenas se refugiassem.

No processo de desenvolvimento da economia da borracha, os índios foram alocados como mão-de-obra para o fornecimento de carne de caça e outros produtos da alimentação e foram posteriormente integrados à lida do seringal e à própria extração da borracha. Além destas atividades, os Shanenawa também participaram do “amansamento” dos índios “brabos” – como eram chamados os índios não-contatados – da região do alto rio Envira.

Seus modos de vida passaram por uma reestruturação: a moradia foi transferida mais para o interior da floresta, onde há seringueiras. Houve uma maior fartura de caça, mas por outro lado, deixaram de lado o acesso à grande quantidade de peixes dos rios e as duas colheitas agrícolas que faziam durante o ano.

A época do declínio das atividades extrativistas abriu espaço para as atividades pecuárias na região, o que aumentou consideravelmente os conflitos pela posse de terra.

Em 1930, depois da ida de alguns índios Shanenawa para o rio Envira e após passarem algum tempo mais próximos às regiões de cabeceiras de rios, chegaram à cidade de Feijó para trabalhar em um seringal. A aldeia Morada Nova foi a primeira e, ainda em 2000, representava o maior núcleo habitacional dos Shanenawa. Pouco depois ela foi desmembrada e deu origem a outras três. Ainda nessa época percebia-se que essa aldeia exercia certa influência sobre as demais, embora fossem respeitados os espaços territoriais e sociopolíticos estabelecidos em cada uma delas.

Posteriormente, quando o seringal mudou de proprietário, foi permitido aos Shanenawa que morassem naquelas terras. Com a abertura da BR-364 e o agravamento dos conflitos entre índios e colonos, a Funai deu início ao longo processo de retomada das terras, que durou cerca de dez anos.

O atual território ocupado pelos Shanenawa foi ocupado no final da década de 1950, e foi incorporado como espaço onde passaram a exercer sua subsistência, sua organização social, política e cultural.[Carlos Antônio Bezerra Salgado, 2005]

Luta pela terra

Na época em que chegaram para explorar as terras acreanas os seringueiros se depararam com uma diversidade de indígenas na região, mas não se interessavam pelas distinções lingüísticas e culturais que eles apresentavam. Com alguns poucos nomes foram batizadas todas as populações indígenas, fazendo muitas vezes uma mesma denominação recair sobre grupos completamente diferentes.

Com a construção de vilas em territórios que antes viviam populações indígenas, os Shanenawa perderam seu espaço e não tinham lugar para se estabelecerem. Tiveram que trabalhar na coleta de borracha como empregados dos brancos para sobreviver.

Mesmo assim, esses “donos dos seringais”, quando não tinham mais serviços, os expulsavam da terra. E isso ocorria em todos os lugares em que o grupo chegava, pois só podia ficar no seringal enquanto havia trabalho.

Os Shanenawa contam que insistiram muitas vezes com as autoridades do Estado do Acre com relação à necessidade de terem um lugar para morar. Alegaram que seu povo estava morrendo por doenças, fome e até a mando dos “patrões” quando resistiam à ordem de sair. Após algum tempo eles encontraram um documento que comprovava sua ocupação na terra – segundo relatório do CIMI (1976).

O documento referido diz que eles estavam morando em um pedaço de terra que pertencia ao governo – o governo havia comprado o seringal e fez diversas doações, inclusive para os caboclos. Trata-se de um documento provisório que foi substituído por um título de terra quando a demarcação da Terra

Língua

A língua Shanenawa pertence à família Pano e é falada, sobretudo, pelos mais velhos. Apesar de ter sido proibida na época em que trabalharam nos seringais, os Shanenawa jamais a esqueceram.

Os jovens e as crianças, embora entendam o idioma de seus pais, conversam entre si exclusivamente em português. A despeito disso, nota-se que entre os Shanenawa alguns membros mais velhos, aliados a jovens, demonstram forte engajamento na luta pela manutenção da identidade cultural do povo, e procuram sempre se comunicar em Shanenawa.

Além disso, as escolas das comunidades vêm sendo concebidas como espaço de aprendizagem da língua, em oposição ao processo de escolarização na cidade, que ignora não apenas o idioma, mas os modos de vida indígenas.

Nome

O nome ‘Shanenawa’ etimologicamente é composto pelas formas shane (espécie de pássaro de cor azul) e nawa (povo “estrangeiro”). Assim, eles seriam o “povo pássaro azul”.

Os Shanenawa dizem que este é um pássaro difícil de ser visto, mas sua ocorrência é sinal de conflito, guerra entre grupos indígenas.

[Gláucia Vieira Cândido, 2004; Projeto ‘Fortalecimento da cultura Shanenawa da aldeia Nova Vida’, enviado pela aldeia Nova Vida ao Prêmio Culturas Indígenas – Edição Xicão Xukuru, 2008]

Atividade econômica e alimentação

Os Shanenawa dedicam-se à economia de subsistência e para complementar a alimentação, compram alguns itens na cidade. Fazem roçados em locais próximos às aldeias, escolhidos em pontos adequados, mais altos e bem drenados, e lá cultivam principalmente macaxeira, banana, milho e amendoim.

Em uma escala menor, também plantam batata-doce, inhame, abóbora, cará, cana-de-açúcar e, ainda, algumas frutas como mamão e melancia. Além disso, consomem frutos que coletam, como é o caso do caju, da manga, do ingá, entre outros.

Nos meses de dezembro até abril é possível encontrar açaí, que é coletado em quantidade e com grande freqüência, sendo apreciado por todos os Shanenawa. O coco jaci também é muito apreciado, e é coletado constantemente e comido cru ou assado.

Sua produção é maior nos meses de fevereiro e março. Os temperos mais usados são a pimenta malagueta tradicional, o sal, o urucum, o alho e principalmente a pimenta do reino, que é parte integrante da culinária regional acreana.

Os Shanenawa também criam pequenos animais. O único alimento de manufatura artesanal é a farinha, muito apreciada e produzida em pequena escala, para atender ao consumo doméstico.

O cardápio principal dos Shanenawa é composto de peixe, macaxeira e mingau de banana. A influência da culinária não-indígena está no uso do sal marinho e no consumo de arroz, feijão e carnes diversas (principalmente de pato), alimentos comprados geralmente nos mercados de Feijó, bem como no preparo de certos pratos, como as carnes, por exemplo.

Organização social e política

A organização familiar shanenawa é baseada em núcleos compostos por um casal de velhos, do(a)s filho(a)s solteiro(a)s, dos filhos casados e suas esposas, netos e filhos de criação.

Estão organizados em cinco clãs: Waninawa (povo da pupunha), Varinawa (povo do sol), Kamanawa (povo da onça), Satanawa (povo da ariranha) e Maninawa (povo do céu). Os filhos são membros do clã da mãe e como regra, em geral, só podem casar com indivíduos pertencentes ao mesmo clã. Mas isso, às vezes, não acontece, já que há muitos matrimônios interétnicos e de índios com não-índios. As famílias são monogâmicas, embora haja notícia de que no passado o chefe tivesse o costume de ter até três mulheres.

Os Shanenawa possuem uma organização centralizada na figura do chefe, cujo cargo é hereditário. À liderança cabe o dever de se dedicar inteiramente aos interesses da comunidade representando-a em contatos com autoridades públicas dos não-índios. O chefe tem poder de decisão, embora atualmente as decisões mais importantes sejam tomadas de forma coletiva em reuniões com outros importantes membros do povo.[Gláucia Vieira Cândido, 2004; Carlos Antônio Bezerra Salgado, 2005].

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