Exploração de petróleo na Amazônia divide opinião entre políticos e especialistas

BELÉM (PA) – Especialistas ouvidos pela REVISTA CENARIUM dividem opiniões sobre a possibilidade de exploração de petróleo na bacia da Foz do Rio Amazonas. A ideia foi levantada durante evento do grupo Esfera Brasil, na segunda-feira, 15, que reuniu diferentes representantes de instituições interessadas no debate sobre sustentabilidade e inovação.

Mapa da Margem Equatorial: blocos em águas profundas estão distribuídos em bacias entre o Amapá e o Rio Grande do Norte (Reprodução/Petrobras)

Na ocasião, o governador do Estado do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou ser favorável que a Petrobras estude a exploração de petróleo. No discurso, o chefe do Executivo estadual se apresenta como defensor da pesquisa e do desenvolvimento científico, fala que preocupou os especialistas consultados.

Pesquisa

“Eu sou defensor da pesquisa em toda e qualquer área. Cercear o Brasil a pesquisar os seus ativos, seja no campo ambiental, ou qualquer outra atividade, é um retrocesso. A pesquisa vai nos dizer se é viável a exploração, conciliando com o processo de preservação ambiental ou não”, destacou Helder.

O governador reafirmou, no Painel de Sustentabilidade Amazônica, que a exploração dos recursos já acontece, porém, pelas mãos de outros países. “Eu posso admitir que a França explore petróleo nesta mesma bacia, há dez anos, e o Brasil não se permita a pesquisar a oportunidade para que uma empresa da dimensão da Petrobras possa fazer o mesmo?”, questiona sobre os incentivos.

Discurso inadequado

Para a professora Flávia Guedes, especialista em Ciências Naturais, o posicionamento dos representantes do governador do Pará se baseia em um vislumbre econômico que, na verdade, pode ser considerado inadequado da perspectiva de preservação ambiental.

“Mesmo que se utilize os termos sustentável e seguro, a atividade petroleira tem se mostrado enormemente ofensiva, uma vez que tais fragilidades são frequentemente questionadas nos planos de estudo. A exploração de petróleo é uma atividade de alto risco e alto impacto, além de ser atividade inversa ao que se propõe a mudanças de exploração de recursos.”

Tema sensível

Guedes endossa que esse posicionamento leva a uma ideia de que a economia coloca em risco a enorme biodiversidade do ecossistema marinho do recife da Amazônia, que tem enorme potencial para o crescimento da biotecnologia no País.

Para ela, a questão em torno da exploração desta bacia é sensível, por todos os impactos ambientais possíveis e a regulação dos trabalhos no local. Dessa forma, várias entidades enviaram ofícios ao governo federal tentando evitar que a permissão exploratória, na Amazônia, incentive a perfuração de outros solos.

A região visada fica nos limites entre o Pará e o Amapá e chama atenção pelo grande potencial. Apesar das preocupações, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não autorizou a perfuração na bacia amazônica.

“Assim como [essa medida pode] afetar, enormemente, outros ecossistemas amazônicos como os manguezais e afetar, diretamente, na vida de diversas comunidades tradicionais, economicamente, culturalmente e de forma geral na qualidade de vida dessas populações”, disse a especialista.

Cuidados 

Para a engenheira ambiental Gessica Da Silva e Silva, mestre em Ciências Ambientais pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e especialista em gestão de projetos pela Universidade de São Paulo (USP), a Amazônia é um ativo que precisa ser visto com um olhar de cuidado em relação às populações tradicionais.

“Eu penso que essa pesquisa deve ser feita para potencializar a sociobioeconomia. Apoiar estudos para exploração do petróleo, nesse bioma, irá potencializar o racismo ambiental que as comunidades mais pobres sofrem de forma muito intensa. É necessário promover desenvolvimento que proteja os nossos ribeirinhos, indígenas e quilombolas, porque são os protetores das nossas florestas, solos e rios”, disse.

Riscos 

A preocupação das entidades ligadas ao meio ambiente segue sobre os riscos de vazamentos de petróleo, na região, e outros acidentes similares, que representam um grave risco à diversidade do ecossistema daquele ambiente.

A ecóloga e cientista paraense Ima Célia Vieira, assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica Repam-Brasil e, recentemente, diplomada como membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) tem um posicionamento enfático quanto aos riscos: “Qualquer desastre e eventual vazamento na costa poria em risco mangues, recifes e os campos naturais”, disse.

Cabo de guerra 

Toda a discussão sobre os interesses na região ocasionaram um clima de tensão no interior do governo. De um lado, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, junto da Petrobras, defende a exploração da bacia e se mantém favorável ao projeto da estatal.

As divergências internas seguem de forma diplomática, com ambos os lados bem definidos, mas abertos ao diálogo. Um relatório preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não demonstrou haver possibilidade de exploração na região.

Por outro lado, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não enxerga benefícios no projeto e ainda afirma que o vê com os mesmos olhos que via a construção da usina de Belo Monte, razão pela qual, na época, escolheu sair do segundo governo de Lula, em 2008.

“É altamente impactante. Temos instrumentos para lidar com projetos altamente impactantes, que é o instrumento da avaliação ambiental integrada, da avaliação ambiental estratégica. Não pode ser licenciado como um caso isolado, temos que olhar para a bacia”, destacou a ministra sobre o tema.

PUBICADO POR: AGÊNCIA CENARIUM AMAZÔNIA – Agência Cenarium Amazônia (aamazonia.com.br)

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