A Terceira Margem – Parte DXXIII

Descendo o Rio Branco

Hiram Reis e Silva -um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Antropologia Oportunista e Enganosa

No capítulo anterior fiz um pequeno relato de uma ocorrência, na BR-174, que teve participação dire­ta do meu caro Cmt do 6° BEC, Cel Luiz Ornélio da Cos­ta Machado. Contatei, sem sucesso, amigos de longa data da arma de engenharia, com a finalidade de en­contrá-lo com o intuito de que ele reportasse, com suas próprias palavras, a versão do fato e fiquei muitíssimo chocado ao ler em um jornal de Santa Catarina a triste notícia do seu passamento para o Oriente Eterno.

Hora de Santa Catarina
Florianópolis, SC – Terça-Feira, 08.11.2016
Idoso Desaparecido há mais de uma Semana é Encontrado Morto na Cachoeira do Bom Jesus
[Leonardo Thomé]

Oito dias depois de sair para caminhar e não ser mais visto, o aposentado Ornélio da Costa Machado, 81 anos, foi encontrado morto na tarde desta Terça-feira, próximo a uma região de mangue, na Cacho­eira do Bom Jesus, quase no limite com Ponta das Canas, no norte da Ilha. […] Ornélio, aposentado do Exército do Brasil, era casado há 54 anos com Mara Regina da Silva Machado, 71 anos. Ela revelou ao “Hora de Santa Catarina” que na manhã do dia 31 de outubro, Ornélio, como de costume, saiu para fazer sua caminhada matinal até a praia. (HSC, 08.11.2016)

O Coronel Machado era um “trecheiro” dos mais notáveis de nossa Engenharia Militar. A sua grande experiência aliada a um profundo conhecimento técnico e liderança invulgar transmitiam aos seus subordinados uma tranquilidade e confiança nas suas próprias ca­pacidades permitindo que dessem o melhor de si para o cumprimento de tão augusta missão. Essa pesquisa tão específica permitiu que acessássemos um artigo do já mencionado “antropólogo” (?) Stephen G. Baines, que reproduziremos novamente, em ordem cronológica:

O Território dos Waimiri-Atroari e o Indigenismo Empresarial (páginas 17 e 18)
UNB – Brasília, DF – 1993
[Stephen Grant Baines]

Um militar, capitão do 6° BEC, que acompanhava o General Euclydes de Oliveira Figueiredo e represen­tantes da Paranapanema em suas visitas a esta área indígena, organizou reuniões em Manaus em 1983, apoiando a proposta da Paranapanema de financiar a implantação de fazendas modelo em troca de autori­zação para realizar pesquisa e lavra de mineração dentro da área indígena através de acordos diretos entre a empresa e os capitães Waimiri-Atroari com o pagamento de royalties. (BAINES, 1993)

Minhas reportagens a respeito do tema, sob o título “Resgates Históricos? Por quê?”, foram publicadas no jornal digital ClicNews em 08.08.2011, reproduzida no FAPESP, no Blog Póstumo do Giulio Sanmartini no dia 15.08.2011 dentre outros, e sob cabeçalho “Indíge­nas e o Direito de Mineração” no jornal Gente de Opini­ão de 02.10.2011 entre outros…

Foi também repercutido no meu livro Desa­fiando o Rio-Mar – Descendo o Negro editado pela AMZ Editora, em 2015.

Desafiando o Rio-Mar
Descendo o Negro
Caxias do Sul, RS – 2015
[Hiram Reis e Silva]

Os antropólogos de hoje, ideologicamente compro­metidos, fundamentam suas “teses” e “laudos antro­pológicos” em posicionamentos ideológicos carrega­dos de posturas pré-concebidas e não em fatos e comprovações científicas.

O Dr. Stephen Grant Baines é apenas um exemplo destes famigerados antropólogos estrangeiros que são acolhidos pelas hostes entreguistas que vicejam neste país a soldo de interesses alienígenas. […]

A inspeção, em julho de 1983, do Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo, Comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA), foi uma inspeção de rotina a uma Unidade Militar sob seu comando e só faziam parte da comitiva os militares do comando do CMA, 2° Grupamento de Engenharia de Construção e do 6° BEC. A verdade é que o Ministro Extraordinário para Assuntos Fundiários General Danilo Venturini, em agosto de 1983, determinou ao Comandante do 6° BEC, Coronel de Engenharia Ornélio da Costa Machado, que realizasse estudos junto às Comunidades nativas para verificar da possibilidade de exploração de minérios em terras indígenas por empresas privadas. (REIS E SILVA, 2015)

Qual não foi minha surpresa encontrar um docu­mento mais atual do Baines em que ele usa as mesmas palavras de meus artigos e livro, alterando radical­mente o seu texto de 1993, sem ter qualquer prurido de deixar de citar a autoria de sua fonte.

Mineração e Usinas Hidrelétricas em Territórios de Povos Indígenas e de Outras Populações Tradicionais na Região Amazônica: A Necessidade de Novas Críticas Epistêmicas
29ª Reunião Brasileira de Antropologia
Natal, RN – 03 a 06.08.2014
[Stephen Grant Baines]

Em reuniões realizadas em Manaus, entre repre­sentantes (?) do 6° Batalhão de Engenharia de Cons­trução [6° BEC] do Exército ([1]) representantes do Grupo Paranapanema e da FUNAI, organizadas por um capitão do ([2]), o mesmo afirmou que o Ministro Extraordinário para Assuntos Fundiários General Danilo Venturini, em agosto de 1983, determinou ao Comandante do 6° BEC, Coronel de Engenharia Ornélio da Costa Machado, que realizasse estudos junto às comunidades indígenas ([3]) para verificar da possibilidade de exploração de minérios em terras indígenas por empresas privadas. ([4]) (BAINES, 2014)

Jornal do Comércio, n° 33.156 ‒ Manaus, AM
Sábado, 07.01.1984
Euclydes Inaugurou a Escola Indígena com o Nome de seu Pai

O General Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho, Co­mandante da Escola Superior de Guerra, inaugurou, ontem, às 12h00, o Centro Educacional “Euclydes de Oliveira Figueiredo”, localizado na reserva dos índios Waimiri-Atroari, no quilômetro 270, da BR-174 [Manaus-Caracaraí]. O Centro Educacional é fruto de um pedido pessoal do chefe indígena Viana Iwandrera ao General Euclydes, quando este visitou aquela comunidade ainda como comandante do Comando Militar da Amazônia ‒ CMA.

O Comandante da ESG, acompanhado do Coman­dante da Base Aérea de Manaus, Cel Acir Rebelo, do Comandante do 2° Grupamento de Engenharia de construção, General Luiz Gonzaga de Oliveira, do General da reserva Mário Humberto Cardoso da Cunha, do Superintendente Regional de Produção da Mineração Paranapanema Junhici Tomita e do Delegado Regional da FUNAI, Kazuto Kawamoto, desembarcou no aeroporto do Núcleo de Apoio Waimiri-Atroari poucos minutos antes das 11h00.

Em seguida, foram para o Posto Indígena de Terra­plenagem, onde fica localizado o Centro Educacional “Euclydes de Oliveira Figueiredo”. O General Eucly­des e sua comitiva, a convite do chefe indígena Viana percorreram vários núcleos de plantações diversi­ficadas por eles cultivadas.

Conheceram ainda a comunidade de “Jawara”, com­posta por 5 malocas, habitadas por 34 índios Atroari. O ex-comandante do CMA ficou impressionado com a diversificação das culturas de subsistência dos Atroari. Sempre cercado pelos índios, na sua maioria crianças e mulheres, Euclydes Figueiredo Filho co­nheceu as técnicas rudimentares de fabricação de farinha de mandioca.

A explicação foi feita pelo chefe Viana Iwandrera, elogiado pelo chefe da ESG pela sua capacidade de dinamizar aquele núcleo indígena. Dirigindo-se aos índios que os cercavam, o General Euclydes declarou:

‒ Viana é chefe de vocês. A ele vocês devem obede­cer. 

A reserva dos índios Waimiri-Atroari mede 1 milhão e 850 mil hectares. Ao todo, eles são aproxima­damente 700, distribuídos em várias comunidades.

Ainda existem vários núcleos arredios, embora estejam sendo contatados há anos pela Fundação Nacional do índio.

O PI Terraplenagem, localizado à margem da BR-174 é um dos pontos de atração da FUNAI, que vem “cumprindo com muita habilidade a sua meta de tra­balho”, como admite o delegado Kazuto Kawamoto.

Inauguração 

O General Euclydes e o chefe Viana desenlaçaram a fita de inauguração do “Centro Educacional Euclydes de Oliveira Figueiredo” ‒ construída em madeira rústica e coberta com palha de buritizeiro. O chefe Viana, num ligeiro discurso de agradecimento, decla­rou:

O General esteve aqui. Deu atenção para o índio. Prometeu escola. Hoje escola está pronta. Estamos muito alegres obrigado General Figueiredo

O Delegado Regional da FUNAI, por sua vez, agra­deceu a colaboração das unidades militares instala­das na região pela contribuição que vêm dando à execução do plano da política indigenista oficial, tendo como ponto básico a integração do índio à comunidade nacional.

Ele declarou, por outro lado, que Euclydes Figueiredo Filho, quando Comandante do CMA, não mediu esfor­ços em ajudar a FUNAI no cumprimento de sua missão, concernente à proteção integral do índio e de seu patrimônio.

Explicou que a afixação do nome do seu saudoso pai, o Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo, naquele Centro Educacional, significa a gratidão pelos serviços que prestou às comunidades indígenas quando Comandante do CMA.

Por outro lado, destacou que a homenagem justi­ficava uma dupla homenagem: ao Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo e ao Gen Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho.

A Paranapanema 

A exemplo do delegado da FUNAI, o General Euclydes Figueiredo agradeceu à Mineração Paranapanema pelo gesto de reconhecimento ao seu pedido pessoal.

Ele disse que assim que o chefe Viana pediu-lhe uma escola, repassou essa reivindicação aos seus amigos da Paranapanema, que explora uma área de mine­ração contígua à reserva dos Atroari. Disse o General, referindo-se à Mineração Paranapanema:

‒ Eu estou profundamente emocionado com essa oportunidade de ver realizado por vocês aquilo que me pediram pra fazer. Eu não fiz nada. Eu só fiz é pedir aos amigos. E os amigos me atenderam. 

Em seguida, o ex-Comandante do CMA disse que na Amazônia todos devem trabalhar conjuntamente, ressaltando que:

‒ Isso bastaria para justificar a nossa vinda e a nossa permanência no Comando é a nossa missão. É a missão do Exército. A gente procura ajudar a todos aqueles que trabalham em favor da população local, assim como a Marinha e a Aeronáutica. 

Emocionado, Euclydes declarou que estava muito gratificado pelo fato de os índios terem escolhido o nome do seu pai, para homenageá-lo. Encarou a homenagem como uma prova de reconhecimento aos bons serviços prestados por seu genitor à comunidade nacional, ressaltando que ele seria sempre lembrado num local onde nunca tinha servido como militar.

Presente 

Antes de retornar ao NAWA, Euclydes conversou iso­ladamente com os índios que ali se encontravam, fazendo perguntas e respondendo indagações dos Atroari. O chefe Viana entregou-lhe um arco e duas flechas como presente. Euclides Figueiredo e sua comitiva ainda visitaram, no dia de ontem, a Mineração Paranapanema, no município de Presidente Figueire­do. (JC, N° 33.156)

Parece que na falaciosa narrativa atual isto também não foi considerado pelas lideranças WA como um tipo de apoio do Exército Brasileiro à Comunidade.

REPERTÓRIO FOTOGRÁFICO

Cel Luiz Ornélio da Costa Machado
General Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho

 

Jornal do Comércio, n° 33.156, 07.01.1984
Jornal do Comércio, n° 33.156, 07.01.1984
Visita à Aldeia WA da Terraplenagem
Visita à Aldeia WA da Terraplenagem
Visita aos WA (Tuxaua Tomás)
Minas do Pitinga, Giuseppe Craveiro
Neiva e Danielle no Rio Abonari
Vanessa e Danielle no Rio Abonari
Família Reis e Silva no Rio Abonari
Família Reis e Silva no Pitinga
Viagem à Boa Vista, RR (agosto, 1983)
Viagem à Boa Vista, RR (agosto, 1983)
Construção BR-174 (ST Ávila)
Balsa no Rio Branco, Caracaraí (ST Ávila)
Monumento da Linha do Equador (ST Ávila)
Monumento da Linha do Equador (ST Ávila)
Gen Bda Franklimberg R. de Freitas – etnia Maués
Braço Forte, Mão Amiga

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 16.12.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia 

BAINES, Stephen Grant. O Território dos Waimiri-Atroari e o Indigenismo Empresarial – Brasil – Brasília, DF – UNB, 1993. 

HSC, 08.11.2016. Idoso Desaparecido há mais de uma Semana é Encontrado Morto na Cachoeira do Bom Jesus – [Leonardo Thomé] – Brasil – Florianópolis, SC – Hora de Santa Catarina 08.11.2016.  

REIS E SILVA, Hiram. Desafiando o Rio Mar – Descendo o Negro – Brasil – Caxias do Sul, RS – AMZ editora, 2015.  

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com

[1]    Havia apenas um representante, eu, o Capitão de Engenharia Hiram Reis e Silva, responsável pela malograda presença do tal Baines na reunião. (Hiram Reis)

[2]    Faltou 6° BEC no original. (Hiram Reis)

[3]    Trocou a palavra “nativas” por “indígenas” do texto original por mim redigido. (Hiram Reis)

[4]    Ao omitir meu nome mesmo usando informações retiradas de artigos de minha lavra mostrando quão tendencioso é. Omite, intencio­nalmente, que a primeira reunião realizada foi com as lideranças Waimiri-Atroari. (Hiram Reis)   

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