A Terceira Margem – Parte CDLXXIV

Descendo o Rio Branco 

O Canoeiro Hiram Reis e Silva

Braz Dias de Aguiar – Parte II

A 29.07.1928, partiu de Belém, Amazonas arriba, para alcançar Manaus a 7 de agosto. No dia imediato, continuou a viagem, a bordo já do “Inca” da “Amazon River”, que o deixou em Santa Isabel a 12. Com mais de três dias, em lancha, visitou São Gabriel, onde permaneceu até 26, para lhe determinar as coordenadas. Em salto menor, conheceu Paracuá, à margem direita do Caiari. De regresso, possuía informes esclarecedores de futuras expedições:

O rio Negro, até o porto de Santa Isabel é navegável por navios grandes, em época de cheia, e na de vazante, somente por aqueles de calado muito reduzido. Com algum esforço os navios podem subir até Camanaus, na época de cheia. Até Santa Isabel, o Rio Negro é muito largo, atingindo mesmo várias milhas, pouco correntoso, muito cheio de ilhas e bancos de areia. As suas ilhas formam outros tantos paranás ou canais, uns com suficiente profundidade para permitir a navegação dos navios, e outros que nem dão passagem às pequenas lanchas. O Rio Negro, da foz do Branco, seu afluente da margem esquerda, até Santa Isabel, não tem pedras, mas muitos bancos de areia. De Santa Isabel para cima os perigos aumentam pela grande quantidade de pedras e depois as corredeiras e cachoeiras. O trecho mais perigoso é de Camanaus a São Gabriel, onde estão as piores cachoeiras.

E depois de particularizar informações referentes aos tipos aconselháveis de embarcação, aos recursos e condições de trabalhos regionais, encerrou a 14 de novembro o relatório, por ventura o derradeiro que firmou como subchefe.

Missão de maior relevância caber-lhe-ia daí por diante. A primeira levou-o ainda uma vez a Manaus e Rio Negro, águas acima, até São Carlos, povoado venezuelano onde chegou a 1° de dezembro. Cumpria-lhe executar no terreno o que determinara o Protocolo de 24.06.1928, mediante o qual o Brasil e a Venezuela acertaram as condições dos trabalhos demarcatórios. Na ausência, porém, da Comissão venezuelana, retida em Bolívar, por falta de condução, estanciou em Cucuí, onde firmou o seu primeiro relatório de chefe da Comissão, a 07.01.1930.

Diria ao ministro:

Era meu desejo enviar a Vossa Excelência uma maior soma de serviços já feitos, nestes 32 dias em que a Comissão está aqui, porém a ausência dos representantes venezuelanos nos tem atrasado muito.

Por seu gosto avançaria através do Igapó, onde as Expedições anteriores julgaram impraticável a colocação de marcos, mas necessitava estar acompanhado dos confrontantes. E, assim, via aproximar-se a estação das chuvas, e nada mais conseguiu empreender, além da determinação das coordenadas de Cucuí, as de Huá, para o traçado da linha que ligaria os dois marcos distantes.

Raiou, entretanto, a esperança de apressar a marcha dos trabalhos, quando o chefe ilustre da Comissão Venezuelana, Francisco José Duarte, saudado com expressões amistosas, respondeu no mesmo tom, desculpando-se de somente a 16 de janeiro estar presente ao local ajustado para a primeira conferência, em “Cucuí à margem esquerda do Rio Negro e fronteira do Brasil com a Venezuela”. Ali se achava apenas a primeira turma brasileira, acampada a cerca de 10 km do Rio, “enquanto a segunda partira para o salto Huá”, no Rio Maturacá”.

Quando se reuniu para a segunda Conferência, a nove de fevereiro. Já podia a “Comissão Mista Brasileiro-Venezuelana” aprovar as operações de campo ultimadas, que abrangiam a construção de cinco marcos, dois na ilha de São João e três ao largo da linha geodésica Cucuí-Maturacá, de azimute calculado em 48°16’45,1” S.E.

A terceira já se efetuou em Manaus, onde Braz de Aguiar apresentou o plano de ação futura, prontamente aprovado. Partiram para Huá, em frente a cujo salto realizaram a quarta Conferência, que assinalou o acampamento ali montado. Em consequência dos resultados colhidos pelas turmas incumbidas da caracterização do morro Cupi, que não foi encontrado com feições peculiares, resolveram os demarcadores suspender os trabalhos, somente possíveis pela aerofotogrametria. Não deixaria, porém, Braz de Aguiar o ambiente fronteiriço, ao qual se aclimatara.

Assim, acertadas pelas Chancelarias as condições de fixação da divisória da Guiana Britânica, a 30 de abril já se achava ele na fazenda Conceição, “na foz e margem direita do Mau”, onde registrou a primeira Conferência da “Comissão Mista Brasileiro-Britânica”. Do levantamento deste Rio ocupavam-se os técnicos, da foz ao campo Lameiro, a 120 quilômetros, e também do Tacutu, desde a confluência do Mau ou Ireng até a forquilha, aberta em dois galhos.

Qual seria o formador principal? Divergiram os dois comissários. Sustentava o chefe britânico ser o Warmuriak simples afluente, em contrário ao parecer do Comandante Aguiar, que discutiu proficientemente o assunto em seu relatório de 14.07.1931, quando solicitou a decisão do Ministro das Relações Exteriores para dirimir a controvérsia.

Simultaneamente com os trabalhos no trecho imediato, a demarcação que dirigia em outros pontos levou-o ainda uma vez a Manaus, onde se registou, a 05.05.1935, a 10ª Conferência da Comissão Mista Brasileiro-Venezuelana, para homologação do que fora efetuado, a partir das proximidades do monte Roraima, pelo divisor de águas entre os rios Cotingo e Arabopo, na serra do Uaraí.

Destarte, ia ao mesmo tempo acudindo aos segmentos fronteiriços com dois confrontantes, a que não tardou a juntar-se o terceiro, quando o governo holandês também anuiu à fixação da lindeira comum.

Intensificou-se-lhe, por essa época, o ritmo das atividades, nos acampamentos estremenhos e nas capitais, onde pudesse conferenciar com as autoridades nacionais ou estrangeiras, de cujas decisões dependesse a eficiência das turmas em campo. Estanciava por maior prazo em Belém, onde montou o seu posto permanente de comando, de organização modelar, que maravilhava os interessados em conhecê-lo.

Há mais de um depoimento firmado por visitantes insignes, que lhe proclamaram a excelência da organização. Não era exclusivamente operoso escritório técnico, ao qual se anexou perfeito arquivo cartográfico, opulento de peças informativas das várias fases dos serviços.

Mas igualmente um centro de abastecimento, que reduzia ao mínimo a possibilidade molesta ([1]) de fome naquelas regiões despovoadas para onde partiam as turmas, confiantes na capacidade organizadora da chefia.

Rios encachoeirados, que arrebentariam mais de uma canoa. Matas que o Sol não clareia. Encostas íngremes. Nada faltaria para os afligir, se não houvesse, para lhes aliviar as canseiras, a assistência vigilante e carinhosa do chefe, que mais do ninguém, conhecia de experiência própria os sofrimentos irremediáveis que lhes causaria qualquer ato de imprevidência. Na mesma capital paraense firmaria a primeira ata final de demarcação de um dos trechos, que lhe estavam sob a jurisdição.

Em verdade, a 30.04.1938, reunida a Comissão Mista, que o tinha como chefe dos técnicos brasileiros, realizou-se expressiva cerimônia, em que principiou por saudar cordialmente em inglês, o Almirante Conrad Kayser, de cujo compreensivo concurso dependeu o rápido êxito das operações demarcatórias dos limites do Brasil com a Guiana Neerlandesa, na extensão de 593,40 quilômetros.

E, continuou, em linguagem vernácula, para afirmar, sem receio de contradita, pois se baseava na realidade:

Aqui, um grupo de brasileiros profundamente enamorados de sua terra e de sua gente porfia, sem cessar, num silencioso trabalho, pleno de sadio entusiasmo e intenso espírito de brasilidade, no sentido de transmitir a nossos descendentes um Brasil integrado, juridicamente por força do direito, na grandeza territorial que legitimamente herdamos de nossos maiores: um Brasil digno das alvissareiras esperanças que nos entremostra o porvir, um Brasil que prolonga a tradição gloriosa de um passado; um Brasil. Enfim, sem raias desconhecidas, a fim de que possamos conhecer até onde se estende a nossa soberania, para que possamos melhor respeitar a soberania de nossos confinantes.

E, em homenagem aos heróis anônimos, dedicar-lhes-ia expressões repassadas de carinho:

Não podemos esquecer, porém, ao concluirmos os trabalhos de demarcação como Suriname, os companheiros que caíram em meio da jornada.

Ao lado dos padrões que deixamos nas divisas, sentinelas inanimadas da pátria, deixamos também, com os corpos daqueles heróis obscuros, atalaias votivas da nacionalidade, outros tantos marcos que assinalam, mudamente, o esforço ingente e o sacrifício continuado daqueles que apisoaram o solo agreste e virginal de suas raias Setentrionais, que trabalharam na sombra, que viveram e morreram ignorados, após uma peleja sublime, e que nos legaram, amortalhados numa infinita saudade, os exemplos imperecíveis da suprema renúncia, da abnegação suprema, e mais que tudo, do patriotismo luminoso.

Virgílio Correia Filho (B. Geográfico n° 69, 1948)

Braz Dias de Aguiar (FON FON, N° 09)

Jornal do Brasil, N° 63
Rio de Janeiro, RJ ‒ Sexta-feira, 14.03.1930
Os Nossos Limites com a Venezuela
O “Jornal do Brasil” ouve o Comandante Braz de Aguiar, Chefe da Missão Brasileira
A Comissão Mista e o que ela já Realizou ‒ Episódios Interessantes ‒ A Odisseia dos Trabalhos ‒ O contato com os Índios ‒ Tudo Nacional ‒ O Magnífico Estado Sanitário do Pessoal

O Comandante Braz Dias de Aguiar recebeu o redator do Jornal do Brasil na manhã radiosa de ontem, em sua aprazível residência da Tijuca, à Rua Visconde do Cabo Frio.

O Comandante Braz de Aguiar não perde, mesmo no Rio, nos poucos dias em que que aqui permanece, o hábito salutar da sua vida de campo: levantar com a madrugada. Pouco depois das 7 horas ele já está em sua residência pronto para receber o mais matinal dos visitantes. Anteontem telefonamos para sua casa, pedindo-lhe que nos recebesse. E ele respondia-nos:

–  Pois não. Já amanhã, posso recebê-lo em nossa casa, pela manhã.

–  Às 11 horas. Comandante.

E ele:

–  Não, venha mesmo às 8 horas que já me encontrará de pé.

E, assim, ontem, às 8 horas e pouco, apertávamos o botão da campainha do ponto de sua residência. Um minuto depois ele nos recebia na sua confortável sala de jantar. No centro, divisamos um bronze representando um pirata pronto para a abordagem. Nas paredes, magníficas marinhas e, dando frente ao visitante, certamente sinal de fervor cristão da dona da casa, um grande quadro, também em bronze, representando o Coração do Jesus.

Os Setores das Nossas
Comissões de Limites

O Dr. Otávio Mangabeira, ao assumir o cargo de Ministro do Exterior, prestou o máximo da sua atenção, ao grave e sério problema da demarcação do nosso território procurando concluir dessa maneira, patrioticamente, a obra encetada pelo Barão do Rio Branco, e dividiu, com acerto, as nossas fronteiras, para a execução prática dessa tarefa em três setores: o Setor Norte, o Setor Oeste e o Setor Sul.

O Primeiro, compreende os nossos limites com a Venezuela e as três Guianas: o Segundo, diz respeito aos nossos limites com a Colômbia, Bolívia e o Terceiro ocupa-se das fronteiras brasileiras com o Paraguai, Argentina e o Uruguai.

O chefe da Comissão de Limites do Setor Sul é o Marechal Gabriel Pereira Botafogo; o da Comissão do Setor Oeste é o Dr. Estanislau Bousquet e o do Setor Norte é o Capitão-de-Mar-e-Guerra Braz de Aguiar.

Foi a este, pois, que acaba de regressar de Cucuí, onde esteve iniciando, com a Comissão Venezuelana, o serviço de limites do nosso País com a Venezuela e que já se apresta para seguir com destino ao Norte, a fim de começar o trabalho, com a missão britânica, de demarcação com a respectiva Guiana, que fomos ouvir acerca do que ele já pode realizar.

Ouvindo o Chefe do Setor Norte

Durante duas longas e agradáveis horas o Comandante Braz de Aguiar expôs ao nosso companheiro os curiosíssimos episódios dessa primeira jornada, apontando-nos documentos, desdobrando-nos mapas das regiões a demarcar, para que bem víssemos a penosa tarefa que pesa sobre os ombros dessas Comissões Científicas, obrigados todos os seus membros, chefes, auxiliares e trabalhadores a desempenhar a sua missão, ora, vadeando Rios e cachoeiras, às vezes, com água até a cintura, ora, montando serras de centenas de metros de altura, de dia ou de noite, ao Sol e à chuva. Disse-nos o Comandante Braz:

É devido a esses graves empecilhos que os trabalhos de limites com um único País, mas que representam milhares de quilômetros de extensão, como as nossas fronteiras com a Venezuela, que vão a mais de 1.300, duram, de ordinário, meses e meses, anos e anos.

É preciso estar bem a par dessas ocorrências para se poder ajuizar da demora de semelhante trabalho. Não são apenas as condições do terreno que se deve atender. É preciso pensar nas condições climatéricas e meteorológicas. Ainda este ano quando procedia à demarcação de limites com a Venezuela, somente no mês de janeiro tivemos 30 dias de chuva forte. Que é possível fazer nessas ocasiões? Como, com um céu de chumbo, é possível tomar observações?

O Comandante Braz de Aguiar sorri e continua:

Tenho encontrado pessoas que me dizem, ao me encontrarem no Rio: “Dias, você traça limites daqui?” É que não sabem que nem sempre se pode executar o serviço. Aqui venho de fugida. Agora mesmo bati o “record” da distância entre Cucuí e Rio: vim de lá até aqui em 23 dias. Cheguei ao Rio no dia 5, à noite, e no dia 20 já vou regressar ao Norte. Outros me interrogam: “Mas, você vai traçar limites que o General Rondon já determinou?” Ledo engano; a Comissão do benemérito bandeirante não é de limites. Ela é de fiscalização de fronteiras, de determinação do Ministério da Guerra. Certo, no seu percurso, o General vai fazendo observações, mas nunca traçando limites.

A Partida da Comissão

Depois desse exórdio ([2]), em que o Comandante Braz de Aguiar procura desfazer erros em que muita gente labora, resultando em injustas críticas para essas Comissões técnicas disse-nos ele:

A Comissão que lidero partiu do Rio, a 10.10.1929, a fim de se encontrar a 1° de dezembro, com a Comissão Venezuelana, na vila de São Carlos, território da República da Venezuela. Passando sobre toda uma série de dificuldades, a maior das quais a exiguidade do tempo, a Comissão na véspera daquela data estava em Cucuí.

No dia 1° de dezembro, dirigi-me a S. Carlos verificando que a outra Comissão não e certificando-me de que, dadas as dificuldades do transporte, não poderia alcançar aquele ponto antes de 15 de janeiro.

O Início dos Trabalhos

Como não era possível aguardar tanto tempo a chegada da Comissão Venezuelana, iniciei o traçado da linha Cucuí até o salto Huá, no Rio Maturacá, seguindo o mais possível a orientação da Comissão Mello Nunes, em 1914. Partindo da ilha S. José segue a linha o rumo SE; depois do 4 minutos passa pelo Igarapé Bonte, cujas margens baixas e alagadas vão até aos Igapós manadeiros do Igarapé chamado da Joaninha. Continua o terreno baixo e alagado até uma pequena elevação, onde existe uma capoeira. Saindo dessa capoeira, caímos em um grande baixo, onde somente em pontes do mais de 100 menos de comprimento conseguimos passar. Só encontramos terra firme no quilômetro, 10 onde está o acampamento da Dúvida, colina de 39 m de comprimento, por 18 de largura e 1,60 de altura, em relação à planície circunvizinha. Daí por diante, encontram-se baixos, Igarapés, Igapós até o quilômetro 15, onde acertamos em outra elevação de uns 600 m de largura, por 1.000 de comprimento.

Daqui partindo, caímos na planície sempre molhada e sulcada por numerosos Igarapés e baixios, até encontrar as águas dos afluentes do Erubichy. Desse modo, a linha geodésica Cucuí-Maturacá corre em uma planície emoldurada pela serra de Parima ou do Canabury e a margem esquerda do Rio Negro, sulcado por inúmeros igarapés formando um complexo inextrincável de vasos comunicantes que, à menor chuva, enchem e transbordam, inundando a planície que se transforma em um oceano no meio da floresta. Tal foi o terreno em que operou a primeira das duas Turmas em que dividi a Comissão, de fins de 1929 a princípios de 1930. Estávamos em meio desse serviço, quando chegou a Comissão Venezuelana, formando-se, então, a Comissão Mista, que ultimou o traçado dessa linha de 84 quilômetros.

A outra Turma, que não teve trabalhos menos árduos, subiu o Rio Negro, entrou no Canal de Cassiquiare, depois no Pacimoni, no Bacia, no Maruracá, até o Salto de Huá. Depois de ter determinado as coordenadas desse salto e dos marcos da linha, partindo desse mesmo ponto, foi obrigada a retirar-se por que a enchente do Rio já não permitia o trabalho. Os oficiais, na última noite, já observaram com água pela cintura. Foram colocados cinco marcos na linha Cucuí-Maturacá, além dos quatro que já haviam sido deixados pela Comissão Mello Nunes – Duarte, em 1914, permanecendo assim essa linha perfeita e definitivamente demarcada, de acordo com o protocolo do 31.08.1929.

Como se Compunham as Comissões

A Comissão Brasileira, disse-nos o Comandante Braz Dias de Aguiar:

Compunha-se da minha pessoa, como chefe; CT Waldemar de Araújo Motta e Capitão Francisco Pereira da Silva, ajudantes; Capitães Drs. João Baulino de Carvalho e Manuel Maurício Sobrinho, médicos; Capitão Alfredo Luna, secretário; 1° Ten Floriano Machado, auxiliar técnico, além de quatro radiotelegrafistas e um contingente militar. Do lado dos nossos amigos venezuelanos, a Comissão era esta: Dr. José Francisco Duarte, chefe; Dr. Simonpletrl, engenheiro; Dr. A. Hernandez, médico; Félix Cardona, radiotelegrafista e J. Spooner, mecânico. Juntou-se a eles o ornitologista americano H. Halt ([3]), que se fazia acompanhar de sua esposa, trabalhando ambos para a Sociedade de Geografia de Washington.

O Dr. José Francisco Duarte, é uma das mais vivas inteligências da Venezuela. De valor; mental inestimável, ele se encontrava, há anos, na Suíça, entregue a estudos de matemática pura.

O Magnífico Estado Sanitário da Comissão

Falou-nos, depois, o Comandante Braz do estado sanitário do pessoal que foi, uniformemente, excelente, não se registrando, apesar das zonas percorridas, em que os homens, muitas vezes, trabalhavam com água pela cintura, nem um caso de impaludismo, ou de gripe.

Contou-nos o ilustre Chefe da Comissão:

Aliás, eu sempre que admito o pessoal, recito-lhe o meu regulamento:

Trabalhar ao Sol, ou à chuva, usar o mosquiteiro; tomar medicamentos sem discutir para que fim ele é ministrado; respeitar os índios e comer quando seja possível.

Esta última parte justifica-se. Às vezes, o rancho está distante. Não é possível destacar um homem para ir buscá-lo, sabendo-se que ele só teria de comê-lo no trajeto.

Os médicos da Comissão levaram ambulâncias de acordo com a nosologia da zona a percorrer. Foi instituída a profilaxia contra o impaludismo, a febre tifoide e paratífica A e B.

Empregamos contra o impaludismo a profilaxia defensiva terapêutica e a mecânica. Na terapêutica, sais de quinino e arsenicais. Na mecânica os mosquiteiros.

Tudo Nacional

Desejo que o “Jornal do Brasil” frize ([4]) que o nosso aparelhamento é todo nacional; desde a lona até os víveres.

Estes os mais frugais e saudáveis: feijão, arroz, farinha. Carne: o “corned beef” ([5]), da indústria paulista, que foi muito apreciado pelos nossos companheiros venezuelanos. Gosto, no contato com o estrangeiro, de lhe demonstrar as nossas possibilidades econômicas. Parece-me que não faço mal com isso.

Cercados Pelos Índios

A uma pergunta nossa, respondeu o chefe da Comissão:

A segunda turma foi cercada pelos índios da tribo dos Macu. Eles se limitaram a observá-la, absolutamente não a molestando. O pessoal quis entreter com eles um comércio mudo, mas nada obteve.

É que os rapazes da Turma deixaram os presentes dependurados nas árvores e eles não lhes tocaram. Quem sabe se não cuidaram que se tratava de oferendas que eles fazem aos seus deuses para aplacar-lhes a cólera?

Para o Estudo da Nossa Fauna
e da Nossa Flora

A Comissão que chefio arrecada sempre tudo quanto possa interessar à nossa geologia e aos museus. A minúscula colina, que encontramos na linha Cucuí-Maturacá, é constituída de um afloramento de cristal. Eu trouxe para a repartição competente amostras de todos os terrenos por onde passamos.

Nesse ponto da palestra que, reconhecemos, se fazia longa, levantamo-nos e despedimo-nos. O Comandante Braz de Aguiar, apertando-nos a mão, quis levar a sua gentileza ao ponto de conduzir-nos até ao portão de sua residência. (JB, N° 63)

Braz Dias de Aguiar (FON FON, N° 09)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 24.08.2022 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia: 

BOLETIM GEOGRÁFICO, N° 69. Braz Dias de Aguiar, Mestre de Demarcadores! – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Conselho Nacional De Geografia, Boletim Geográfico, N° 69, 1948.

JB, N° 63. Os Nossos Limites com a Venezuela – O “Jornal do Brasil” ouve o Comandante Braz de Aguiar, Chefe da Missão Brasileira ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Jornal do Brasil, N° 63, 14.03.1930.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

[1]   Molesta: maléfica. (Hiram Reis)

[2]   Exórdio: prefácio. (Hiram Reis)

[3]   Muitas Comissões foram contempladas com a participação de cientis­tas, pesquisadores e naturalistas estrangeiros ou nacionais. (Hiram Reis)

[4]   Frize: enfatize. (Hiram Reis)

[5]   Corned beef: carne enlatada. (Hiram Reis)

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