UNFPA apoia venezuelanos indígenas no processo de integração ao território brasileiro

Agências da ONU têm realizado diversas atividades para ampliar o nível de informação e acesso daqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade social em Roraima.

1º Mutirão da Saúde em Ka’ubanoko, ocupação de refugiados e migrantes venezuelanos indígenas e não indígenas, em Roraima. Foto: UNFPA | Yareidy Perdomo.

Ka’ubanoko, que significa “meu lar” na língua Warao, é uma ocupação que conta com mais de 600 pessoas indígenas e não indígenas vindas da Venezuela.

O local sediou o 1º Mutirão da Saúde – atividade que reuniu comunidade local, agências das Nações Unidas, instituições públicas e outras organizações para tratar de cuidados médicos e sanitários, além de outros eventos e rodas de conversa sobre direitos, liderança e resiliência comunitária.

Bernandina é uma mulher indígena da etnia Warao que vive no Brasil há sete meses. Os Warao foram as primeiras pessoas indígenas venezuelanas que chegaram a Roraima em 2016, momento em que alguns familiares de Bernandina migraram para o Brasil.

Ela, porém, decidiu permanecer mais tempo na Venezuela, na esperança de manter seu espaço e sua família dentro do que considerava sua terra. Conforme relata, com o passar dos meses, sua situação foi se agravando, até que se viu obrigada a partir com suas filhas ao encontro dos outros familiares.

Bernandina chegou a Roraima no começo de 2019 com as duas filhas, no que ela considera um estado de completo desespero. “Eu estava muito desesperada e perdida, e a única coisa que queria era encontrar a minha família”, contou.

Depois de vários dias pelas ruas de Boa Vista, tentando encontrar algum familiar, Bernandina foi informada da existência de uma ocupação onde se encontravam pessoas de diferentes comunidades indígenas da Venezuela.

Lá, ela conseguiu se instalar e obteve uma feliz surpresa: encontrou o restante de sua família. “Todos eles estavam  aqui. Eu estava chorando e minhas filhas não entendiam nada”, comentou.

Ka’ubanoko – Um lar em Roraima

Ka’ubanoko é o nome que a comunidade indígena Warao deu à ocupação, que significa “meu lar”. É um espaço que conta com mais de 600 pessoas indígenas e não indígenas vindas da Venezuela.

“Aqui dormimos bem e comemos, mas estamos todos trabalhando para manter nossas famílias”, relatou Bernandina.

Atualmente, a ocupação é inteiramente organizada por seus próprios moradores, que designaram diferentes líderes para coordenar os trabalhos. Bernandina se tornou uma dessas lideranças.

Em Ka’ubanoko , ela trabalha na coordenação interna e na gestão de atividades que são realizadas conjuntamente com diferentes instituições que oferecem apoio à comunidade, como o Fundo de População da ONU (UNFPA).

1º Mutirão da Saúde – UNFPA, OIM, UNICEF, e demais parceiros prestam auxílio em Ka’ubanoko

Com o objetivo de oferecer assistência médica a comunidades de refugiados e migrantes em Roraima, agências da ONU e parceiros realizaram em 22 de agosto o 1º Mutirão da Saúde.

A atividade aconteceu na ocupação Ka’ubanoko e foi realizada por diversas instituições: Secretaria Municipal de Saúde; Conselho Indigenista Missionário; Serviço Jesuíta Pastoral do Migrante; Cáritas; Médicos Sem Fronteiras, em parceria com UNFPA; Organização Internacional para as Migrações (OIM); Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF); e a própria comunidade, por meio do apoio de suas lideranças indígenas e não indígenas.

O Mutirão da Saúde ofereceu, entre outras coisas, realização de testes rápidos de gravidez, HIV, hepatites, sífilis e  malária, assim como busca ativa de desnutrição infantil e consultas médicas.

O UNFPA disponibilizou kits de higiene para as famílias e realizou sessões informativas com diferentes grupos de mulheres, abordando os temas de saúde sexual e reprodutiva, especificamente com relação às infecções sexualmente transmissíveis e o acesso ao tratamento pela rede do estado de Roraima.

Segundo Leila Rocha, especialista em Saúde Sexual e Reprodutiva do UNFPA em Roraima, o local da ocupação não é o mais adequado, pois oferece riscos à população. “As condições ambientais e de infraestrutura os colocam em maior risco para as questões de saúde. Desta forma, ações como essas são extremamente importantes para essas comunidades”, explicou.

Alida Gomez, uma liderança indígena Warao, avaliou a atividade como o fruto do trabalho em conjunto da comunidade e dos comitês, que, segundo ela, “agora formam parte da gestão do nosso espaço”. “Este lugar não é apenas um abrigo, aqui cada um faz sua parte para seguir em frente e o que aconteceu hoje, o Mutirão, nos deixa muito feliz”, pontuou.

UNFPA em Roraima – Saúde sexual e reprodutiva

O UNFPA tem realizado diversas atividades para ampliar o nível de informação e acesso daqueles que estão em situação de maior vulnerabilidade social à saúde sexual e reprodutiva, entre outros direitos, incluindo a prevenção à violência baseada em gênero.

Por meio de estratégias de resiliência comunitária, a agência também apoia e incentiva mulheres líderes como Bernandina no processo de integração ao território brasileiro.

Bernandina, que foi uma das principais participantes das sessões de troca de experiências promovidas pelo UNFPA com a comunidade, disse reconhecer a importância dessas atividades. “Esta é a nossa casa e temos que cuidar dela. É importante que todos saibamos quando estamos vivendo uma situação de violência e, como nos ensinaram, não permitir que continue”, avaliou.

“Eu digo que todas temos que participar dessas rodas de conversa para melhorar nossa convivência, sobretudo aquelas que têm maridos. No começo, havia muita violência, mas acredito que estamos melhorando, somos muitas mulheres aqui”, contou .

Bernardina afirma estar bem com suas filhas e sua família em Boa Vista, e que pretende seguir apoiando a coordenação da ocupação.

FONTE: ONU –   

 

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