Unidades de conservação estocam 28 anos de emissões nacionais de CO2

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e ((o))eco estimaram em primeira mão quanto carbono há na vegetação das unidades de conservação terrestres no país. O trabalho conecta as agendas globais de proteção do clima e da biodiversidade.

Arte: Glauco Lara / ((o))eco – Postada em: IPAM Amazônia

Parques e outras reservas ecológicas federais, estaduais e municipais, em terras públicas e privadas, cobrem por volta de 18% do território continental ou quase 1,6 milhão de km2 na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Pampa. A área é similar à do Amazonas.

Essas reservas compõem o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), cujas principais atribuições incluem manter a biodiversidade e os recursos genéticos do país. Mas, esse patrimônio público também é peça-chave para equilibrar o clima.

A vegetação acima e abaixo do solo nessas áreas guarda ao menos 19 gigatoneladas (Gt) de carbono, análogas a 28 anos de emissões nacionais de CO2, gás que amplia o efeito estufa e eleva a temperatura global. Em 2021, o país emitiu 2,42 Gt de CO2 equivalente, taxa que reúne outros gases que afetam o clima.

“É fundamental essa conversa entre as agendas climática e de biodiversidade no Brasil, onde as perdas de vegetação nativa são a maior fonte de emissões de gases-estufa”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam e doutora em Recursos Florestais e Conservação pela Universidade da Flórida.

A lista de reservas foi obtida junto ao ICMBio e ao Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC). Os cálculos usaram as médias de carbono estocadas nos diferentes tipos de flora de cada bioma, variando de 593,8 toneladas de CO2 por hectare (ha), na Amazônia, a 83,6 tCO2 por ha, na Caatinga.

Os estoques médios nos demais biomas são de 413,5 tCO2 por ha (Mata Atlântica), 178,8 tCO2 por ha (Cerrado), 153,9 tCO2 por ha (Pantanal) e 128,2 tCO2 por ha (Pampa). Os dados vieram da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção sobre Mudança do Clima das Nações Unidas.

Assim, as 10 áreas com mais carbono estão na Amazônia e são os parques nacionais Montanhas do Tumucumaque, do Pico da Neblina e do Jaú, as estações ecológicas do Grão Pará e da Terra do Meio, as florestas estaduais do Paru, do Trombetas e do Amapá, a Área de Proteção Ambiental Tapuruquara e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Cujubim.

O balanço mostra igualmente que as reservas amazônicas concentram 92% do carbono do SNUC, não só porque a flora nativa da floresta equatorial acumula naturalmente bem mais desse elemento que a de outras regiões, mas sobretudo pela gritante diferença de área protegida entre os biomas.

Enquanto unidades de conservação abrigam 28,41% da Amazônia, no Pampa a taxa é de 2,95%. Nas demais regiões o cenário não é menos preocupante. No Pantanal a área de conservação é de 4,68%, no Cerrado de 8,62%, na Caatinga de 9,16% e na Mata Atlântica de 10,38%. Os números são do CNUC.

Isso mostra que, sobretudo fora da Amazônia, há grandes oportunidades para ampliar o sistema de unidades de conservação e beneficiar, ao mesmo tempo e do nível local ao global, as agendas de conservação da biodiversidade e de proteção do clima.

Metas internacionais pedem a proteção de ao menos 17% das áreas terrestres mais importantes para manter a diversidade biológica e serviços ecossistêmicos. E esses conjuntos de reservas devem ser bem gerenciados e interligados a outras medidas protetoras da natureza.

Quanto às esferas administrativas, os estoques de carbono estão concentrados nas unidades de conservação federais (54,01%) e estaduais (42,53%), e bem menos das municipais (3,46%). Isso também se deve aos distintos montantes de territórios protegidos por cada esfera de governo.

A análise inédita aponta igualmente que as 10 unidades de conservação que mais perderam carbono entre a sua criação e o ano de 2022 foram nove Áreas de Proteção Ambiental e uma Floresta Nacional, todas reservas de uso sustentável distribuídas na Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado.

Por outro lado, o balanço evidencia uma diferença de apenas 6,5% entre os estoques de carbono verificados no estabelecimento das reservas e no ano passado. Isso confirma o papel indispensável do SNUC para conter as perdas de vegetação natural no país.

Todavia, não faltam ameaças à proteção ambiental brasileira. Além dos incêndios que esta época do ano calcinam o Pantanal e a Amazônia, projetos tramitando nos parlamentos federal e estaduais podem reduzir ou eliminar unidades de conservação que guardam 21% do carbono no SNUC.

As propostas legislativas envolvem áreas na Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pampa. A Estação Ecológica de Tamoios e os parques nacionais do Iguaçu, dos Campos Gerais, da Serra da Bodoquena e dos Lençóis Maranhenses figuram entre as principais reservas ameaçadas.

“Assegurar que a grande quantidade de carbono permaneça estocado pede um cuidado ainda maior com a incidência de fogo, o desmatamento e outras pressões sobre o sistema nacional de unidades de conservação”, lembra Ane Alencar, do Ipam.

A estimativa de carbono e de CO2 no SNUC e a análise de dados foram feitas por Bárbara Zimbres, pesquisadora do Ipam, e por Aldem Bourscheit, repórter de ((o))eco.

por Redação ((o))eco

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