Dossiê Alto Xingu na revista do Museu Goeldi

Revista do Museu Goeldi publica dossiê sobre o Alto Xingu

Capa da revista com foto do Cacique Aritana Yawalapíti se preparando para o ritual itsatchi (kuarup). (Foto: Mila Petrillo, ago. 1985). – Fonte: Museu Goeldi

O dossiê é dedicado à memória do Cacique Aritana Yawalapíti e do antropólogo Pedro Agostinho   

Significados sagrados da Gruta de Kamukuwaká; o projeto Arquivo Kamayurá; a criação de conexões espaço-temporais Kalapalo e uma revisão conceitual e etnográfica da luta corporal da etnia; a socialidade indígena na cidade de Canarana e muito mais sobre a biografia do grande Aritana Yawalapíti – tudo na primeira parte do dossiê.

Diversos e importantes estudos científicos vêm sendo realizados no Alto Xingu, desde o século XIX, quando as primeiras expedições do etnólogo alemão, Karl von den Steinen, começaram a revelar as singularidades não apenas da área geográfica como da multiplicidade cultural, linguística e étnica dessa região de elevada relevância para o conhecimento de temas clássicos da antropologia social e de povos indígenas do mundo.

Hoje, cerca de 140 anos após a primeira expedição ao Alto Xingu e depois de extenso conjunto de dados sistematizados, o dossiê “Antropologia, arqueologia e linguística no Alto Xingu” é publicado no Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Apresentado por Aristoteles Barcelos Neto – professor associado e diretor de curso da Sainsbury Research Unit for the Arts of Africa, Oceania and the Americas da University of East Anglia (Reino Unido), e por Luísa Valentini – doutora em Antropologia Social, da Universidade de São Paulo (USP/SP), o dossiê homenageia a memória do Cacique Aritana Yawalapíti – liderança indígena do Xingu, reconhecido como “chefe de caráter modelar”, com “capacidades diplomáticas excepcionais” e “profundo conhecimento da ritualística e da etiqueta xinguana”, e também homenageia Pedro Agostinho – antropólogo, historiador e arqueólogo baiano, referência para gerações de estudiosos e na luta pelos direitos indígenas.

Os apresentadores do dossiê, que marca o lançamento do primeiro número da revista em 2023, participaram ativamente de todas as etapas de elaboração do manuscrito do trabalho, que traz 12 artigos baseados em pesquisas de campo realizadas a partir da década de 1980 – da redemocratização até os dias atuais, onde um novo cenário político favoreceu a articulação e mobilização de lideranças xinguanas; a expansão demográfica; a intensificação das relações com as cidades do entorno da Terra Indígena do Xingu (TIX) e para além delas, levando ao maior acesso indígena a serviços educacionais de graduação e pós-graduação e refletindo em novas oportunidades econômicas.

Além deste novo panorama publicado, outros dois dossiês sobre o Alto Xingu foram trazidos por Coelho, em 1993, e Franchetto e Heckenberger, em 2001, debruçados sobre pesquisas de campo realizadas entre as décadas de 1950 e 1980 e entre 1970 e 1990, respectivamente. Agora, “Antropologia, arqueologia e linguística no Alto Xingu” reúne dados sobre as transformações apresentadas por estudo científicos nas duas primeiras décadas do século XXI, onde novos temas e abordagens foram contemplados, tanto quanto foi aprofundado o desenvolvimento teórico de temas paradigmáticos na região.

O dossiê atual é formado a partir de pesquisas realizadas entre seis povos indígenas da região: Wauja, Mehinako e Yawalapíti (de língua arawak), Kalapalo e Kuikuro (de língua carib) e Kamayurá (de língua tupi-guarani). E a primeira parte do trabalho traz os seguinte artigos: “Entre o céu e a terra: subsídios para uma arqueologia de territórios multitemporais alto-xinguanos”, de Patrícia Rodrigues-Niu e Mafalda Ramos; “Arquivo Kamayurá: pesquisa, documentação e transmissão da memória”, de Kanawayuri Kamaiurá e Mayaru Kamayurá; “Territórios em expansão: reflexões sobre transformações recentes em uma aldeia kalapalo”, de Marina Novo; “Aqui não é igual aldeia: encontros entre indígenas do Território Indígena do Xingu, na cidade de Canarana, Mato Grosso, Brasil”, de Amanda Horta; “A luta esportiva nos rituais pós-funerários: corporalidade, chefia e disputa política no Alto Xingu”, de Carlos Costa, e “Esboço biográfico de Aritana Yawalapíti: a formação de um chefe prototípico”, João Carlos Almeida.

Além da visão abrangente sobre o período estudado e de ser dividido em duas partes, com artigos multitemáticos, o dossiê ressalta a partida de Aritana, lembrando que evitam “enfatizar a tristeza, esperando que os estudos que seguem sejam gestos de compromisso continuado dos pesquisadores que atuam na região com a lição xinguana de se restabelecer regularmente a força da vida.”

A segunda parte do dossiê será publicada no volume 18, número 3, setembro – dezembro 2023, do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas.

Texto: Luiza Bastos.

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Link (s) para os artigos do dossiê

Rodrigues-Niu, P. F., & Ramos, M. (2023). Entre o céu e a terra: subsídios para uma Arqueologia de territórios multitemporais altoxinguanos. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 18(1), e20220022. http://doi.org/10.1590/2178-2547- BGOELDI-2022-0022

Kamaiurá, K., & Kamayurá, M. (2023). Arquivo Kamayurá: pesquisa, documentação e transmissão da memória. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 18(1), e20220086. http://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2022-0086

Novo, M. P. (2023). Territórios em expansão: reflexões sobre transformações recentes em uma aldeia Kalapalo. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 18(1), e20220012. http://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2022-0012

Horta, A. (2023). Aqui não é igual aldeia: encontros entre indígenas do Território Indígena do Xingu, na cidade de Canarana, Mato Grosso, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 18(1), e20220017. http://doi.org/10.1590/2178-2547- BGOELDI-2022-0017

Costa, C. E. (2023). A luta esportiva nos rituais pós-funerários: corporalidade, chefia e disputa política no Alto Xingu. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 18(1), e20220019. http://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2022-0019

Almeida, J. C. (2023). Esboço biográfico de Aritana Yawalapíti: a formação de um chefe prototípico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 18(1), e20220023. http://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2022-0023

Leia mais:

Franchetto, B., & Heckenberger, M. (2001). (Orgs.). Os povos do Alto Xingu: história e cultura. Editora da UFRJ.

Coelho, V. P. (Org.). (1993). Karl von den Steinen: um século de Antropologia no Xingu. Edusp

Jimena Felipe Beltrão  
Editora Científica  
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas