Pará tem a maior diversidade e variedade de sementes de cacau no mundo

Pesquisadores do Museu Goeldi desenvolvem estudos sobre o cacau e seu cultivo em áreas de várzeas, coletando dados para alimentar futuramente um sistema de informação geográfica, fornecendo conhecimento sobre a produtividade e qualidade em diferentes épocas de uma planta que desperta interesse comercial desde o Brasil Colônia.

Agência Museu Goeldi – Matéria-prima do chocolate, o cacau é um dos frutos mais famosos em todo o mundo e seu nome científico (Theobroma cacaosignifica “alimento dos deuses”, indicando sua importância na história humana. No Brasil, o cacau é uma das mais famosas drogas do sertão, especiarias exploradas e comercializadas desde o século XVII. Ele foi objeto de 4 estudos em várzeas de ilhas dos municípios de Mocajuba e Cametá (Pará), que serão apresentados no XXX Seminário de Iniciação Científica do Museu Goeldi. O evento ocorrerá no período de 22 a 26 de agosto, no Auditório do Campus de Pesquisa da instituição, na cidade de Belém.

O estado do Pará tem a maior diversidade e variedade de cacau no mundo, com potencial para produzir amêndoas diferenciadas, ou seja, existem diferentes produtos que atendem a preferência de diferentes públicos, o que amplia o nicho de mercado onde o cacau amazônico pode ser inserido.

Além de sabor marcante, o cacau gera benefícios para a saúde, como:  melhorar o humor, ajudar na redução do risco cardiovascular, fortalecer a memória e redução do estresse. Por esses e outros motivos, o mercado do cacau se mantem em grande crescimento no mundo.

A história científica do cacau data do início do século XVII, quando foi citado pela primeira vez nos estudos de botânica de Charles de L’ecluse como Cacao fructus. Mas apenas em 1793 que seu nome atual – Theobroma cacao – foi atribuído por Carl Lineu.  

Cacau nativo amazônico – O cacaueiro é uma arvore nativa da Amazônia que pode chegar a até seis metros de altura com tronco que varia entre 20 e 30 centímetros de diâmetro e casca de cor pardo-amarronzada. As folhas medem entre 15 e 25 centímetros. Seu fruto pode ter cor amarela, branca ou avermelhada com sementes envoltas na polpa branca de aroma e sabor doce –  a coleção florística do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi reúne exemplares bonitos dessa árvore.

A pesquisadora Milena Carvalho, pesquisadora colaboradora do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG) e orientadora da bolsista Isabelle Félix, explica que “o geoambiente amazônico é o grande diferencial nas qualidades organolépticas (as que são percebidas pelos nossos sentidos, como cor, brilho, transparência, textura, odor e sabor) do cacau. Ou seja, condições climáticas, composição do solo e do sedimento de várzea, são pontos muito importantes na diferenciação do aroma e terroir do produto final”, ressalta Milena.

Terroir é um conceito que engloba aspectos e fatores do cultivo de um produto, como: topografia, geologia, pedologia, drenagem, clima e microclima, castas, intervenção humana, cultura, história e tradição. Cada pedaço de terra possui seu próprio terroir, quase como um DNA, específico daquela área e que é impresso no produto colhido.

No cultivo do cacaueiro na Amazônia temos o plantio em terra firme e da área de várzea. A várzea é uma área tipicamente inundada, situada na margem de cursos d´água e muito propícia à agricultura devido à fertilidade do solo.

O cultivo do cacau nativo em área de várzea na Amazônia traz grandes benefícios para o produto. “Sobretudo por meio da produção orgânica, sem o uso de fertilizantes e aditivos químicos, porque a área é adubada naturalmente com os sedimentos em suspensão presentes nos rios, altamente ricos em nutrientes químicos. Fato que agrega valor ao produto final”, comenta Milena.

Pesquisas PIBIC – Para entender melhor essa relação entre o solo de várzea e o plantio do cacau a aluna de Biologia da Universidade Federal Rural da Amazônia e bolsista PIBIC do Museu Goeldi, Thalia Silva da Silva, com orientação de José Francisco Berrêdo Reis da Silva , geoquímico e pesquisador de Ciências da Terra e Ecologia (MPEG) e de Maria José de Sousa Trindade (UFRA) produziu um artigo sobre o tema.

“O trabalho fala sobre a caracterização do solo e composição florística. E é importante para a região avaliar o solo, tanto a parte física quanto química, como ele contribui para o crescimento do cacau e de outras espécies presentes no ambiente.”, explica Thalia.

Além do trabalho de Thalia, Berrêdo orientou Francisco de Sousa Sanches Junior, aluno de Agronomia da Universidade Federal Rural da Amazônia, e Larissa Coimbra Alves, aluna de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará em pesquisas sobre Influência dos métodos de fermentação e secagem das amêndoas do cacau de várzea e avaliação física e bioquímica da qualidade das amêndoas do cacau resultantes do método de pré-tratamento e fermentação.

Os trabalhos do grupo de pesquisa do Goeldi sobre o cacau e seu cultivo estão sendo feitos na região de Mocajuba e Cametá, especificamente na Ilha de Santana, Costa de Santana, Ilha do Tauaré, em Tauaré grande e Tauarézinho.

Um dos intuitos das pesquisas sobre cacau é a criação de um sistema de informação geográfico, como esclarece Milena Carvalho: “É muito mais do que um mapa, muito mais do que imagens. Na verdade, ele integra dados de informação do solo, da qualidade da água, dos sedimentos e produtividade. O objetivo principal em desenvolver esse sistema é agregar todas essas informações analíticas dentro de uma plataforma que responde a quem está consultando sobre a produtividade e qualidade em diferentes épocas”.

As pesquisas citadas nessa matéria serão apresentadas no XXX Seminário do Programa de Iniciação Científica (PIBIC) do Museu Goeldi, que ocorrerá entre os dias 22 e 26 de agosto de 2022. Acesse aqui a programação completa do Seminário.

Texto: Nina Dacier  –  Edição: Joice Santos – PUBLICADO POR:  MUSEU GOELDI 

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