Moacir Haverroth - Moradores da Terra Indígena Poyanawa e pesquisadores do projeto em atividade de campo

Moradores da Terra Indígena Poyanawa e pesquisadores do projeto em atividade de campo.

O fortalecimento da produção agrícola, a geração de conhecimento sobre solos para potencializar o uso da terra e o aproveitamento sustentável de recursos florestais estão entre as principais metas do projeto “Etnoconhecimento, agrobiodiversidade e serviços ecossistêmicos entre os Puyanawa”, executado pela Embrapa Acre. Iniciado em outubro de 2017, o projeto já realizou seis viagens às aldeias. Baseado na troca de conhecimentos, o trabalho envolve ações de pesquisa e transferência de tecnologias para melhoria dos sistemas de produção agrícola e tem duração de três anos.

De acordo com o pesquisador Moacir Haverroth, líder do projeto, o objetivo é fortalecer a agricultura indígena para ampliar a oferta de alimentos, garantir segurança alimentar e possibilitar novas opções de geração de renda nas aldeias, por meio de alternativas que associem produção e conservação ambiental. “Além disso, buscamos contribuir com o fortalecimento da cultura puyanawa, atualmente em processo de retomada de antigas tradições. Todas as atividades são planejadas com a comunidade e têm a participação de agentes agroflorestais indígenas que moram e trabalham nas aldeias”, explica.

Localizada no município de Mâncio Lima, a 700 quilômetros da capital Rio Branco (AC), a Terra Indígena Poyanawa é formada pelas aldeias Ipiranga e Barão, onde vivem cerca de 130 famílias. Articulado com lideranças comunitárias, membros da Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (Amaaiac) e representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e Comissão Pró-Índio do Acre, entre outras instituições governamentais e do terceiro setor, o projeto atua em diferentes frentes de trabalho.

Além de pesquisadores e técnicos da Embrapa, profissionais da Universidade Federal do Acre (Ufac), Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Instituto de Mudanças Climáticas (IMC) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac) participam das atividades para intensificação das práticas agrícolas na Terra Indígena e dos estudos para classificação e caracterização dos solos das aldeias, com foco no manejo adequado e conservação desse recurso natural, identificação de alternativas para aproveitamento de recursos florestais em serviços ambientais, e manejo e conservação de espécies medicinais entre outras demandas do povo Poyanawa.

Diversificação da produção
A principal atividade agrícola na Terra Indígena Poyanawa é o cultivo de mandioca, mas o rendimento dos plantios, inferior a 100 sacos por hectare, é considerado baixo. As ações em andamento buscam aumentar a produtividade da cultura e expandir a área plantada, com uso de variedades mais produtivas, melhoria das práticas de manejo da cultura e formação de novos cultivos. “O aproveitamento de áreas abertas evita o desmatamento e contribui para fortalecer a produção, com reflexos positivos na qualidade de vida das famílias”, destaca Haverroth.

As estratégias para diversificar a as atividades produtivas nas aldeias Puyanawa também contemplam ações para aumentar a produção de milho e feijão, incluindo a adequação de métodos de plantio e manejo e práticas de controle de doenças. Além disso, junto com as famílias indígenas, os pesquisadores trabalham na implantação de hortas caseiras e no mapeamento e manejo de populações nativas de açaizeiros.

O trabalho também busca consolidar o uso de sistemas agroflorestais (SAF) nas aldeias Puyanawa, trabalho realizado em articulação com um projeto do governo do Estado, em execução na Terra Indígena desde 2016, financiado com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e que beneficia 50 famílias. “O governo fornece as mudas e insumos e nós orientamos as famílias na definição, implantação e condução dos modelos. Além de contribuir para melhorar a diversidade de alimentos nas aldeias, os sistemas agroflorestais podem ajudar a recuperar áreas degradadas”, explica Haverroth.

Fortalecimento da fruticultura
Outra alternativa para ampliar a oferta de alimentos nas Terra Indígena é o fortalecimento da fruticultura. No final de abril, os pesquisadores iniciaram levantamento das espécies frutíferas cultivadas nas aldeias. “Vamos intensificar cultivos como graviola, acerola, maracujá e banana, tradicionais entre as famílias, e formar áreas de policultivo com novas espécies frutíferas e madeireiras”, explica o pesquisador Romeu Andrade, destacando que o uso de fruteiras nativas nesses arranjos é uma forma eficiente de trazer para perto das casas frutíferas só encontradas na floresta.

Os consórcios serão definidos junto com a comunidade e a escolha das espécies levará em consideração o seu valor nutricional e o potencial de produção e de mercado. A produção de mudas para formação incremento e formação dos cultivos será realizada na comunidade, em um viveiro a ser construído com parte dos materiais cedidos pela Funai. As famílias envolvidas com a atividade participarão de cursos sobre enxertia e manejo de fruteiras.

Plantas alimentares e plantas medicinais
O projeto contempla, ainda, pesquisas com plantas medicinais e plantas alimentícias, especialmente tuberosas como inhame, taioba e batata-doce. O trabalho em andamento inclui a prospecção de espécies e o fortalecimento dos cultivos para aumento da diversidade desses recursos nas aldeias. “Estamos percorrendo os roçados para identificar espécies que já foram cultivadas nas aldeias, se perderam com o tempo e as famílias desejam plantar novamente. Uma das estratégias previstas para recuperar essas plantas é o intercâmbio com outros povos indígenas para a troca de sementes”, afirma a professora da Ufac Almecina Balbino.

Já os estudos com plantas medicinais, nesse primeiro momento, segundo Haverroth, focam o conhecimento das espécies e sua aplicação na medicina puyanawa. “Nas entrevistas realizadas com os moradores das aldeias buscamos saber sobre as plantas que conhecem e como utilizam esse recurso natural. Após essa etapa, vamos atuar na melhoria dos plantios”, explica o pesquisador.

Mais qualidade para a farinha de mandioca
A produção de farinha de mandioca é a principal atividade econômica na Terra Indígena Poyanawa. Esse povo herdou a prática dos antepassados e, nos últimos anos, com o aumento da demanda comercial, tem buscado alternativas para melhorar o processo de produção e garantir mais qualidade ao produto. O projeto realizará oficinas de capacitação com moradores das duas aldeias. Segundo o líder Puyanawa Luiz Puwe Puyanawa é necessário investir na melhoria dos procedimentos de produção para aumentar a renda das famílias. “Trabalhamos com um mercado cada vez mais exigente e precisamos estar atentos à qualidade do nosso produto”, diz. 

O levantamento das casas de farinha existentes na Terra Indígena e a sondagem de procedimentos nas diferentes etapas de produção terá início no mês de setembro. O diagnóstico identificará os aspectos que serão abordados nas oficinas de Boas Práticas de Fabricação de farinha e as famílias participantes. “A adequação de procedimentos na produção de farinha proporciona melhores condições de higiene e contribui para racionalizar tempo, trabalho e recursos no processo, além de garantir a qualidade necessária para o consumo desse alimento”, afirma a pesquisadora da Embrapa Acre, Joana Souza, responsável pelas atividades.

Incentivo a serviços ambientais
Paralelo ao esforço para impulsionar as atividades produtivas e etnoculturais nas aldeias, os pesquisadores realizam estudos sobre os tipos de solo, vegetação, uso da terra e estoques de carbono entre outros indicadores ambientais. O objetivo é possibilitar um diagnóstico das potencialidades da Terra Indígena para captação de recursos no âmbito da política estadual de incentivo a serviços ambientais.

“Vamos disponibilizar para as associações indígenas dados precisos sobre esse potencial, indicar fontes alternativas de captação de recursos e apoiar a elaboração de projetos com essa finalidade.  Essa é uma forma de gerar renda, conservar a floresta, fortalecer a cultura puyanawa e contribuir para o desenvolvimento da comunidade”, enfatiza Haverroth.

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre

Foto: Moacir Haverroth

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