15 de novembro de 1889 – Rondon, o filho da República

A mensagem que foi pronunciada por Benjamin Constant em comemoração ao banquete que a Escola Militar ofereceu a marinha chilena na Ilha Fiscal no dia 9 de novembro de 1889, foi a cátedra que espalhou as sementes de idealismo que frutificaram o 15 de novembro. Toda a Escola militar e Escola Superior de Guerra formaram de modo decisivo em torno do idolatrado mestre. Rondon e seus companheiros, assistiram à chegada da Princesa Isabel ao baile.

No final do discurso proferido por Benjamin, o alferes aluno José Bevilaqua disse que deveria ser dada confiança a Benjamin para proceder como entendesse a fim de que em breve a todos fosse dado respirar o ar de uma pátria livre, as palavras dos alferes alunos foi coberto de aplausos. Em seguida o tenente coronel Alfredo Ernesto disse que melhor que o Benjamin Constant ninguém para guiar no caminho da honra, resolvendo de uma vez para sempre, do modo mais digno para a classe, todas as questões.

Benjamin que se entregara ao intenso trabalho para ganhar a adesão de Deodoro da Fonseca e convencê-lo de que seria impossível dar solução à questão militar sem mudar o regime. Na verdade, Deodoro da Fonseca queria que Benjamin Constant liderasse a revolução. Só teria como obstáculo a dedicação que tinha Deodoro pelo Imperador.

Depois de muita insistência, Deodoro aceitou participar. Resolvendo de imediato em procurar todos os republicanos que eram a favor do movimento, como: Aristide Lobo, Quintino Bocaiuva, Glicério e Floriano Peixoto. Rui Barbosa só entrou no movimento na véspera da Proclamação.

A tensão estava no ar, o governo noticiou que recebeu denúncia a respeito de um movimento que poderia acontecer, só que não tinha certeza, e se isso fosse verdade, todos poderiam ser presos a qualquer momento. Desta maneira, o movimento em favor da Proclamação da República quase foi antecipado para o dia 14 de novembro.

Enquanto tudo isso se passava nos bastidores, Rondon estava acompanhado da noiva em uma festa na casa da família Lisboa, ali estava presente toda a família Xavier.

Rondon sentia-se dividido entre o desejo de estar ao lado de Chiquita e a preocupação de estar em alerta. Como um bom estrategista, Rondon deixou seus companheiros encarregados de dá um sinal caso o movimento começasse.

Para preparar o espírito da noiva, avisou que estava preocupado com o estado de saúde do amigo Abrantes e avisou: “talvez terei que deixar a festa a qualquer momento, temendo a piora do amigo”. Só que Chiquita notou algo em Rondon e perguntou: “Você está muito preocupado”. Foi o suficiente para Rondon continuar com a conversa e retrucou, “estou a pensar no Abrantes, no que estará passando com ele, enquanto estou aqui no céu, o Fileto pode vir me buscar a qualquer momento”.

Não demorou muito, até que um carro estaciona na frente da casa dos Lisboa e Fileto salta à procura do amigo e diz: “Não passará talvez a noite”. Pronto! A troca de mensagem em código deixava todos em alerta para o movimento que estava preste a acontecer’.

Rondon se despediu, e todos na festa ficaram sensibilizado com a dedicação daqueles amigos que deixaram a festa para acompanhar um amigo enfermo.

Pegamos o mesmo carro que o Fileto havia chegado e que mal cabia três pessoas, fomos buscar os irmãos Leais que já nos aguardavam fardados. Ao entrar no carro, uma das irmãs dos Leais percebeu sob a capa a ponta da espada que tentávamos esconder. Partiram direto para o bairro São Cristóvão, onde morava Rondon, que trocou de roupa, colocando sua farda e da lá foram para o 2º Regimento onde todos estavam à espera.

O coronel Benjamin Constant chegou precisamente às 2h da manhã e passou a conferir toda a tropa e os oficiais. Solicitou que consultasse a Marinha, seu comandante general Wandenkolk se o mesmo participaria com sua tropa no movimento. Sendo escolhido como portadores da mensagem segundo Benjamin Constant, os seus discípulos mais amáveis, os Alferes Rondon e Tasso Fragoso para a mais confiável missão. Os dois oficiais seriam a ligação entre a brigada estratégica com os oficiais revoltados da Armada.

Rondon e Fragoso montaram seus cavalos e saíram quebrando o silêncio da madrugada com o barulho do casco de seus cavalos às 4h da madrugada, uma distância do bairro de São Cristóvão ao Club naval, no Largo do Rossio. Os cuidados tomados pelos dois mensageiros oficiais, era cauteloso, resolveram sair da rua General Pedra, para seguir em linha reta que dava em frente ao quartel da marinha. De longe perceberam que o quartel estava todo iluminado, um sinal de que o governo vigiava o local.

A marcha a cavalo dos dois mensageiros quase sopitando o pisar dos cascos do cavalo, para não ressoar na calçada até chegar na Câmara municipal, que ao virar a curva, o cavalo do Rondon deu uma escorregada e quase cai, mas como o cavaleiro tinha habilidade em montaria, conseguiu equilibrar o animal e tudo foi controlado.

Ao chegarem no Club naval, seus cavalos estavam brancos de espuma. Bateram na portinha indicada, um código que servia como senha, três pancadas espaçada. De dentro do quartel ouviram a contrassenha três vezes repetidas vezes. A portinha se abriu e entregaram o ofício. Depois de algum tempo, receberam pela mesma portinha o ofício resposta.

Imediatamente os dois oficiais retornaram para o 7º Batalhão de Infantaria para informar a situação do capitão Ferraz.

Subitamente o dia se despertava com uma chuva de ouro, pálida em princípio e depois cada vez mais rubra. Logo depois veio o sol a iluminar a República.

Com a resposta do comandante da marinha general Wandenkolk, quebra o silêncio da manhã o som dos clarins anunciando a formação da Brigada Estratégica em parceria com o 1º Regimento de Cavalaria, do 9º Regimento de Cavalaria, formado como Infantaria e por falta de cavalos, o do 2º Regimento de Artilharia a Cavalo.

Os dois oficiais Rondon e Tasso Fragoso juntamente com os alferes alunos, formaram uma espécie de guarda pessoal de Benjamin Constant.

Rondon foi designado a comandar a 4ª Sessão da 4ª Bateria do 2º Regimento de Artilharia, sob o comando do capitão Hermes da Fonseca.

Ao começar o desfile, as mulheres dos soldados acompanharam o movimento até uma certa altura. Um mensageiro foi enviado a Deodoro informando-o que as tropas já estavam em posição. Muitos temiam pela saúde debilidade do marechal. Mesmo assim, ele tomou o compromisso de acompanhar a tropa mesmo doente, montou no cavalo oferecido por um oficial e assumiu o comando do movimento.

Em frente ao quartel general, os militares formavam a brigada estratégica onde estavam localizados todos os ministérios, com exceção da marinha. Toda a tropa estava pronta quando chegou o barão de Ladário que recebeu voz de prisão de um alferes aluno Adolfo Pena Filho. O ministro disparou sua arma que falhou, sendo ferido no braço pelo oficial que lhe prendeu, impedindo de se aos colegas.

O papel central de Floriano Peixoto era de evitar qualquer derramamento de sangue durante o movimento. Até porque Benjamin Constant confiava no seu patriotismo. Nesse momento, o Visconde de Maracaju, Ministro de Guerra, se dirigiu a Floriano e disse: “Você não está vendo que os revolucionários estão prontos para atacar? Faça sua tropa sair!”. No mesmo instante respondeu Floriano: “é que lá se trata de inimigos, e aqui iríamos matar irmão”.

O dia beirava entre 8 a 9h da manhã quando um oficial comunicou. Abriam-se os portões. 21 salvas de tiros foram efetuadas como grito: “Viva a República!”. Esses disparos acabaram abafando o “Viva o Imperador”.

Rondon deixou o comando da 4ª sessão da 4ª Bateria e juntos deram voz de prisão aos ministros, declarando que daquele dia em diante todos estavam destituídos do cargo e ficavam à disposição da revolução. Os alferes alunos não deixavam o ministro Ouro Preto olhar fixamente para Benjamin Constant. Todos foram vaiados pelo povo, com exceção do conselheiro Lourenço Cavalcanti, ministro da agricultura.

Os militares saíram em desfile pelas ruas da cidade, sendo aplaudidos pela população, e todos gritavam: “Viva a República!”. Era sabido por todos que o herói do memorável movimento foi Benjamin Constant, mais que levou a grandeza ao ponto de atribuir todos os louros ao general Deodoro da Fonseca.

No dia da Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, Rondon pediu e foi atendido para usar um revólver nagant Calibre 44, que estava sendo distribuído aos Alferes, arma na qual conservou por toda vida ao seu lado, como mencionou Roosevelt sendo uma verdadeira peça de museu.

 

 

Por Lourismar Barroso[1]

[1] Doutorando em Educação – Dinter (UNIVALI) – Mestre em História – Minter (PUCRS). Especialista em Arqueologia da Amazônia (UNISL) – Licenciatura em história (UNIR). Integrante do ICOMOS BRASIL e membro do IGHMB. E-mail: barrosolourismar@gmail.com

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

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