Botos e tucuxis são monitorados enquanto estratégias de intervenção são traçadas

Temperatura no Lago Tefé volta a bater recorde, deixando equipe da operação em alerta

Equipe de monitoramento observa de perto botos-vermelhos (Inia geoffrensis) na enseada do Papucu, região crítica do Lago Tefé. – Foto: Miguel Monteiro – Postada em:  ICMBIO

A Operação Emergência Botos Tefé, instaurada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), está focando suas atividades no monitoramento dos indivíduos de boto-vermelho (Inia geoffrensis) e tucuxi (Sotalia fluviatilis) que se encontram em locais críticos do Lago Tefé, localizado no município de Tefé, Amazonas. A equipe se divide fazendo monitoramento com embarcações e por ponto fixo, em terra, aumentando tanto a confiabilidade das observações quanto as chances de detectar qualquer comportamento fora do comum. Na ocasião de avistar um indivíduo que esteja apresentando sinais clínicos drásticos, há um flutuante de reabilitação estruturado para receber e tratar estes animais.

Ontem (19/10) pela manhã foi identificado um animal morto, um boto-vermelho macho, jovem, ainda fresco, na região da Enseada do Papucu do Lago Tefé. O animal foi encaminhado para a necropsia onde foram coletadas diversas amostras para identificação da causa de morte. Este novo óbito vem logo após um evento de temperatura extrema observado no dia anterior (18/10), onde foram medidas temperaturas de água superiores a 38,8°C, reforçando a hipótese de que a temperatura da água tem um papel importante na morte dos animais. Uma nova análise de metagenômica para o viroma apresentou resultado dentro do esperado, descartando a hipótese de infecção viral ativa. A análise de bacterioma ainda não foi conclusiva.

Técnicas para conduzir os grupos de botos-vermelhos e tucuxis para fora de áreas mais críticas estão sendo testadas pelas equipes em campo, caso essa estratégia venha a ser implementada. Dentre estes novos métodos de condução dos animais estão os “pingers”, que emitem um som para afugentar espécies de cetáceos, e o Huki Lau, apetrecho adaptado dos povos tradicionais do Havaí que se assemelha a uma cortina com objetos que evitam a aproximação de cetáceos. Estas são metodologias menos invasivas para a condução dos animais, mas, de toda forma, a equipe em campo também testou a utilização de redes de pesca para conduzir os botos e tucuxis para fora da Enseada do Papucu, trecho crítico no evento de mortalidade de botos-vermelhos e tucuxis, tendo sucesso em retirar boa parte dos indivíduos que se encontravam em seu interior. Uma barreira feita de estacas de madeira, chamada “pari”, também desenvolvida a partir do conhecimento tradicional de moradores locais, foi instalada em uma das aberturas da enseada do Papucu para evitar a entrada dos animais.

O monitoramento das características ambientais do Lago Tefé tem sido realizado continuamente, sendo detectado um aumento na temperatura nos últimos dias, chegando próximo aos 39ºC e atingindo 40,9°C em um ponto muito raso do lago onde não havia botos e tucuxis. Esta medição e a nova morte identificada deixam a equipe em alerta, que segue cuidadosamente monitorando a população de botos-vermelhos e tucuxis do Lago Tefé à procura de quaisquer anormalidades.

Entenda o caso

Desde o dia 23 de setembro, foi identificado um evento incomum de mortalidade de botos e tucuxis na região do Lago Tefé, no Médio Solimões, no interior do Amazonas. Um total de 154 indivíduos veio a óbito. A seca e a temperatura da água, que chegou a 39,1°C às 16h no dia 28 de setembro, quando 70 indivíduos morreram, provavelmente estão diretamente relacionadas ao ocorrido, apesar de outras causas de morte ainda não estarem descartadas, como alguma contaminação da água ou doenças nos animais. Além das altas temperaturas medidas no lago durante o período da tarde, há também uma grande variação da temperatura da água durante o dia, variando entre 29° e 38°C diariamente.

Dentre os resultados registrados, até o momento, estão: 154 botos mortos, sendo 131 botos-vermelhos e 23 tucuxis. Desse total, tivemos 122 animais necropsiados/processados e amostras de tecidos e órgãos dos animais enviados para diversos laboratórios especializados distribuídos pelo Brasil. Tivemos 17 indivíduos já avaliados com análises histológicas e até o momento não há indício de um agente infeccioso relacionado como causa primária da mortalidade. O diagnóstico molecular (PCR) de 18 indivíduos também deu resultado negativo para os agentes infecciosos Morbillivirus, Toxoplasma, Clostridium, Mycobacterium e Pan-fúngico, associados a mortes em massa.

A Operação de Emergência Botos Tefé foi dividida em três frentes principais: Setores Operação Vivos, Operação Mortos e Monitoramento Ambiental. O Setor Operação Vivos tem o objetivo de monitorar os grupos de botos e tucuxis ao longo do Lago Tefé. No caso de algum indivíduo apresentar sinais de anormalidade, há condições de resgatá-lo e encaminhá-lo ao Flutuante de Reabilitação para monitoramento e possível tratamento e intervenção. Até o momento nenhum animal foi resgatado. O Setor Operação Mortos tem o objetivo de identificar e buscar carcaças de botos e tucuxis na região e realizar a necropsia destes animais para coleta de amostras para análises laboratoriais (histopatologia, pesquisa de doenças infecciosas, pesquisa de elementos tóxicos e biotoxinas, etc.).

O Setor de Monitoramento Ambiental é composto por três frentes de monitoramento: Água, Peixes e Fitoplâncton. De todas as variáveis ambientais e biológicas analisadas, a única que tem mostrado um comportamento anômalo é a temperatura da água. A mortandade de peixes encontrada é considerada normal para eventos de seca extrema na região do Lago Tefé. A equipe de fitoplâncton tem monitorado o lago e identificou as espécies de fitoplâncton na Enseada do Papucu, no Lago Tefé. Foi identificada uma proliferação da alga Euglena sanguinea desde o dia 3 de outubro. Apesar de ter potencial ictiotóxico, isto é, que pode causar mortandade de peixes, até o momento não há evidências de que sua toxina esteja relacionada à mortalidade de golfinhos e nem que tenha causado a morte de peixes no Lago Tefé.

A Operação Emergência Botos Tefé foi instaurada pelo ICMBio com apoio técnico do Instituto Mamirauá. Diversas instituições estão atuando na operação: Aiuká Consultoria em Soluções Ambientais, Aqua Viridi, Aquasis, Azul, Corpo de Bombeiros de Tefé, CRMV/AM, European Association for Aquatic Mammals, Exército Brasileiro, Friends of Nuremberg Zoo Association, Fundação Mamíferos Aquáticos, Fundación Mundo Marino, GRAD – Grupo de Resgate de Animais em Desastres, Greenpeace, Ibama, INPA, Instituto Aqualie, Instituto Baleia Jubarte, Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), International Fund for Animal Welfare, IPAAM, Lapcom-USP, LATAM, Loro Parque Fundación, Marinha do Brasil, National Marine Mammal Foundation, Nuremberg Zoo, Oceanogràfic València, Planète Sauvage, Polícia Militar do Amazonas, Prefeitura de Tefé, R3 Animal, Rancho Texas, Sea Shepherd Brasil, Sea Shepherd France, SeaWorld & Busch Gardens Conservation Fund, SEMMAC-Tefé, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, Voepass, WWF-Alemanha, WWF-Brasil, YAQU PACHA e Zoomarine Portugal.

*Por Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) 

PUBLICADO POR: Botos e tucuxis são monitorados enquanto estratégias de intervenção são traçadas — Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (www.gov.br) 

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