Contrarrevolução de 64 – Parte VI

Contrarrevolução de 64 – Parte VI

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Diário de Notícias n° 12.685, Rio de Janeiro, RJ
Domingo, 29 e Segunda, 30.03.1964
Marinha Discute em segredo a Reação
O Grande Culpado

Com a disciplina militar não se pode transigir. Só aqueles empenhados na desmoralização das organizações militares procuram solapá-la e destruí-la.

Está nos esquemas revolucionários a infiltração de seus credos ideológicos nas Forças Armadas. Isso não é mistério para ninguém. Não é por outra razão que os grupos interessados na derrocada das instituições, em toda parte, buscam apurar as melhores técnicas e processos, segundo as peculiaridades do meio nacional em que atuam, para atingir em cheio os princípios basilares da hierarquia e da disciplina no seio das classes armadas.

Não poderíamos fugir, no Brasil, a essa regra. Alcançamos, neste momento, um estágio mais avançado do que muitos poderão supor nessa marcha para a desagregação das Forças Armadas. Os fatos que aí estão não iludem. Fomos aos poucos resvalando para a situação que atingiu agora o seu clímax.

YYY

Mas, e os culpados e os responsáveis pelo que se passa? A pergunta admite mais de uma resposta. Poderíamos mesmo dizer que cada qual, por ação ou omissão, tem a sua parcela de penitência nessa capitulação de deveres disciplinares.

Mas a responsabilidade principal, a culpa inteira cabe à suprema direção do País. Cabe totalmente ao presidente da República. E se o governo ainda pensa em salvar alguma coisa da ordem, da disciplina e da hierarquia, nas Forças Armadas, então que modifique já e já sua orientação, quanto aos setores militares.

A disciplina e a hierarquia militares não são inerentes apenas ao regime democrático. Até, pelo contrário, é entre nós precisamente que elas são menos rigidas. No mundo comunista a autoridade é mantida a bala.

YYY

O episódio de quinta-feira última representa o elo de uma sucessão de acontecimentos que, de maneira sistemática e metódica, são estimulados ou criminosamente coonestados pelo Executivo.

A estas horas, a Marinha se vê dilacerada pela indisciplina, que acaba de assumir sua forma mais grave na insubordinação e no próprio motim. Quem açulou o pessoal subalterno da Armada e do Corpo de Fuzileiros contra a lei e a ordem? Quando o ex-Ministro Silvio Mota quis agir, dentro dos regulamentos, o que aconteceu foi simplesmente seu desprestígio ostensivo por parte do governo.

Uma associação de cabos, marinheiros e fuzileiros, cujos dirigentes fardados, em reuniões e assembleias de sindicatos, em manifesto atentado às normas disciplinares, eram francamente prestigiados pelo próprio presidente da República.

YYY

Diante do desacato à autoridade, o governo transaciona com os rebelados. E diante de um chefe comprometido com a baderna, demissionário em jogo de cartas marcadas, restabelece-lhe a autoridade, repondo-o no comando. Estão nas próprias colunas desta edição as declarações do almirante Aragão pondo à mostra a sua insubordinação.

Algumas dezenas de generais da reserva que se pronunciaram publicamente contra a conduta do governo. Foram imediatamente punidos. Nada mais certo. Mas sargentos, cabos e praças que se insubordinam, e provocam uma crise da qual resulta a completa inversão da ordem disciplinar, são postos em liberdade, com o compromisso [!] de se apresentarem dias depois nas sedes de suas unidades… postas de antemão sob direção acomodatícia. Dois pesos e duas medidas.

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Nenhum comando superior, a partir de agora, de nenhum grupo de Forças integrantes das três corporações armadas do País, se sente, mais seguro em suas funções. A lei, a ordem disciplinar e hierárquica, tudo quanto prescrevem os dispositivos regulamentares, nada disso conta mais perante o governo, que se afasta deliberadamente da ordem, da disciplina, da legalidade. A missão constitucional das Forças Armarias começa, nas condições atuais, a perder seu alto sentido. O presidente há muito tampo que esqueceu o seu juramento.

Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 24.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com
Foto: Hiram Reis e Silva, um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

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