A Terceira Margem – Parte DCCXLIV

Jornada Patriótica – 2ª Perna

– Baía Magra

Ponta Cebollati – Arroio Pelotas (24.03.2016) 

A Presidente sabe que lhe restam poucas saídas, que a guerra está acabando e que uma onda ainda maior de delações, documentos, recibos e provas mostrando os ilícitos de sua gestão está a caminho, colocando uma pá de cal definitiva nas pretensões dela e de sua legenda de se manter no poder. […] (Carlos José Marques ‒ Revista IstoÉ, São Paulo, SP, 24.03.2016)

– Baía Pelotas – Concheiros

Acordamos cedo e fiquei aguardando a penumbra lentamente se dissipar. Partimos, às 06h00, antes de alvorecer.

Litania das Horas Mortas
(Alberto Francisco da Costa e Silva)

Por estas horas de silêncio e solidão,
Eu gosto de ficar só com o meu coração.

É nestas horas de prazer quase divino
Que eu me sinto feliz com o meu próprio destino.

Por estas horas é que a cisma me conduz
Por estradas de treva e caminhos de luz. […]

Por estas horas, quando a sombra estende os véus,
A fé me leva além dos mais remotos céus. […]

É nestas horas, quando o espírito descansa,
Que me depões na fronte o teu beijo, Esperança! […]

Por estas horas é que eu gosto de sonhar,
Para ter ilusões brancas como o luar.

É nestas horas de mistério e beatitude
Que a Glória me fascina e a Poesia me ilude.
Por estas horas de tranquila e doce paz,
Quanta serenidade o espírito me traz! […]

Por estas horas, a minh’alma anseia por
Teu encanto, Ventura! e teu engano, Amor!

É nestas horas de tristeza e esquecimento
Que eu gosto de ficar só com o meu pensamento. […]

É nestas horas que, como um eco profundo,
Repercute no meu o coração do mundo.

Por estas horas transitórias e imortais
Se desvanecem minhas dúvidas fatais.

É nestas horas de harmonia indefinida
Que eu tento decifrar o teu enigma, Vida!

A brisa suave, a serenidade dos elementos, a Lagoa espelhada e acolhedora tudo favorecia a navegação. Gosto de navegar curtindo a natureza que me cerca acompanhado de longe pelo Grande Arquiteto do Universo. Saindo antes do amanhecer tenho a rara oportunidade de me entranhar nos sutis meandros aquáticos e imergir literalmente no momento mágico que é o despertar de um novo dia.

– Baía Pelotas

A uniformidade da flora vai lentamente ganhan­do novos contrastes, novas cores, novas luzes, numa invulgar explosão que apresenta sem pressa a pujança extrema da biodiversidade marginal. A fauna preguiçosa acordava entoando uma ode maravilhosa sob a batuta do astro rei.

Sons diversificados, emitidos pelas mais diversas gargantas, irmanadas num concerto único. Meu coração e minha mente seguiam a par e passo cada palavra, cada estrofe da “Litania das Horas Mortas” do Príncipe dos Poetas Piauienses e autor da letra do Hino do Piauí Alberto Francisco da C. e Silva.

Depois de percorrer 12,5 km, passamos pela Ponta Magra às 07h40. Aportamos, às 09h30, para uma parada de 30 minutos, na Baía Magra no mesmo local onde acampáramos no dia 02.01.2015. Passamos pela Ponta Pelotas, às 10h20, onde aportei para uma rápida sessão de fotos.

Paramos para acampar na Foz do aprazível Arroyo Pelotas, às 13h00, depois de rebocar, a braço, o veleiro Corais sobre um enorme banco de areia. Montamos com tranquilidade o acampamento e depois do almoço sai para fotografar os arredores.

– Baía Pelotas

Durante a madrugada apenas uma brisa suave embalava docemente a vegetação. Acordei e aproveitei para passear pelas cercanias sob um céu maravilhosamente estrelado. Na margem oposta, as luzes vermelhas do enorme Parque Eólico piscavam ininterruptamente do Chuí para o Norte, um belo espetáculo, proporcionado por uma engenharia de ponta, em total harmonia com o meio ambiente. Tinha percorrido, neste dia, 37,9 km.

²  1° Perna Total =         349,1 km.
²  2° Perna Parcial =       285,9 km.
²  Total Parcial =            635,0 km.

Arroyo Pelotas – SVP (25 a 27.03.2016)

Presidente da Riachuelo […] defende que o empresariado do país precisa “sair da toca” sobre suas posições políticas para garantir uma guinada liberal no Brasil – caminho que, na sua avaliação, poderia tirar o país da crise. Rocha foi um dos primeiros empresários brasileiros a se posicionar abertamente a favor da saída de Dilma Rousseff da Presidência […]. (Ruth Costas ‒ BBC Brasil, São Paulo, SP, 25.03.2016)

“O processo de impeachment é perfeitamente constitucional”, disse Francisco Rezek. Não há petista branco, negro ou rosinha que, da boca para dentro, ignore este fato. (Felipe Moura Brasil ‒ Revista Veja, São Paulo, SP, 26.03.2016)

A ordem é abrir o cofre, atender os aliados fiéis, desalojar os “traidores” e dividir o PMDB, que na terça-feira deve oficializar o divórcio do governo. Na estratégia do “tudo ou nada”, Dilma partiu para o varejo das negociações políticas, virou uma espécie de “ouvidora” dos insatisfeitos, coisa que sempre abominou, e montou um gabinete de crise permanente. (Vera Rosa ‒ Revista Exame, Brasília, DF, 27.03.2016)

Partimos da Foz do Arroyo Pelotas, às 06h20, com brisa suave de até 2 nós de proa. Às 07h40 parei rapidamente na Foz do Arroyo San Luis para colocar uma capa e a saia no caiaque. Os ventos de SE haviam passado dos 10 nós e a friagem me incomodava. Tive de picar a voga para atingir a Foz do Arroyo San Miguel, os ventos aumentaram para 18 nós. Às 09h40, chegamos à Foz, documentei a conclusão da 2° Perna da Jornada e aproamos para a Ponta do Paraguaio onde aportei às 10h45.

Liguei para o Sr. Mauro que informou que contaríamos com apoio da turma do Grupo Jet de Santa Vitória do Palmar (SVP).

Os ventos de SE tinham ultrapassado os 20 nós (36 km/h) gerando ondas de mais de um metro e três Marias de 1,5 m que golpeavam a bochecha de Boreste com violência. Aportei às 12h50 no Porto de SVP onde já me aguardava o Norberto. O empresário Gustavo Rodrigues Gonzalez chegou logo em seguida e, tendo em vista o tamanho do veleiro, foi até o Chuí buscar um reboque maior de outro membro do Grupo Jet de SVP o Sr. Carlos Moreira Cabreira, proprietário do Posto Megapetro Chuí. Os dois ajudaram a embarcar o veleiro e o caiaque e nos conduziram até a residência dos pais do Gustavo, Sr. Ulisses Rodrigues Gonzalez e sua querida esposa Nádima onde fomos gentilmente hospedados.

Depois de um revigorante banho quente, um lauto almoço, que tinha como “pièce de résistance” enormes camarões (só então lembrei que era semana Santa) os novos e extremamente gentis amigos nos convidaram a visitar o Balneário de Hermenegildo e a cidade de Santa Vitória do Palmar com direito, no final da jornada, a degustar um sorvete caseiro.

Retornamos à residência dos Gonzalez e ficamos conversando até às 22h00 quando nos recolhemos. A previsão de mau tempo para o final de semana forçaram-nos a permanecer na hospitaleira cidade. Nos dias seguintes, sábado – 26 e domingo – 27, fizemos um tour pelo Chuí, com direito a conhecer e documentar o Extremo Meridional do País – a Curva da Baleia no Arroio Chuí, o Farol da Barra do Chuí, a cidade de Chuí e o balneário de Hermenegildo além de um excelente churrasco patrocinado pelo Gustavo. Uma recepção inimaginável para dois humildes navegadores.

Sistematicamente, pessoas menos esclarecidas referem-se de maneira equivocada a dois Pontos Extremos do País, um deles é o do Norte – a nascente do Rio Ailã, no Monte Caburaí, em Roraima, assim apontado desde 1931, que ainda teimam erroneamente em designar como sendo a Foz do Rio Oiapoque.

O outro é o do Sul – a Curva da Baleia no Arroio Chuí, assim determinado desde os idos 1851, que ainda citam como sendo a Foz do Arroio Chuí.

Quando muito poderíamos afirmar que a Foz do Chuí é o Extremo Sul de litoral brasileiro já que o Ponto Extremo Norte de nosso litoral é o Cabo Orange, no Amapá, embora o litoral ainda eu estenda por mais uns 50 quilômetros, rumo SSO, até a Foz do Rio Oiapoque. Há uma distância de quase 27 km entre as Latitudes do Ponto Extremo do Cabo Orange e a Foz do Rio Oiapoque.

Tinha percorrido até SVP 36,3 km.

²  1° Perna Total =         349,1 km.
²  2° Perna Total =         322,2 km.
²  Total Parcial =            671,3 km.

Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 24.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com

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