A Terceira Margem – Parte DCLXXI

Nas Águas da Família Schiefelbein

Garça moura, Maguari ou João Grande

Durante o voo, o maguari ([1]) e alguns outros pernaltas esticam o pescoço em linha reta. As grandes garças, ao contrário, inclinam o longo pescoço para trás numa belíssima curva, de maneira que a cabeça fica bem próxima das espáduas. (Theodore Roosevelt)

Desde pequeno, as Maguaris, Garças Mouras ou Socós Grandes (Ardea cocoi) me fascinam e parece que, volta e meia, as circunstâncias nos envolvem numa bela e emocionante trama. Às vésperas de minha jornada pela Margem Ocidental da Laguna dos Patos, eu precisava encontrar, em Bagé, um lugar adequado para treinar e que não ficasse muito longe da cidade. Minha querida companheira Rosângela sugeriu que solicitássemos à família Schiefelbein o uso de sua bela barragem, na Granja do Valente.

Ninhal – Granja do Valente (GV) – Bagé, RS

A recepção não poderia ser mais cordial e os amigos prontamente aquiesceram. Ao contrário do pequeno Rio Negro, em Bagé, aqui eu podia desenvol­ver meu treinamento mais adequadamente e com mais rigor.

A volta pelo perímetro da represa, incluindo a entrada por um canal de tomada d’água para a lavoura, de propriedade da Cabanha Maya, era vencida entre 40 e 50 minutos o que facilitava meu controle e me permi­tia desenvolver uma velocidade similar à que vou impri­mir na Laguna dos Patos.

Ninhal – Granja do Valente (GV) – Bagé, RS

A montante da barragem, as árvores parcial­mente submersas exibiam, em seus galhos secos, aproximadamente 50 ninhos das formidáveis Maguaris. Foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de admirar de perto um ninhal de tal envergadura.

Já observara inúmeros ninhais de outras espé­cies, no Pantanal Mato-grossense e na Amazônia, mas nenhum de Maguaris.

A navegação a cada volta ganhava um momento mágico que era o de poder admirar minhas caras amigas de perto e de lambuja um ninho, à altura de meus olhos, de um João Grande (Ciconia maguari) com quatro grandes ovos.

Graças aos Schiefelbein, tive a oportunidade de rever, nestes poucos dias em que permaneci em Bagé, a ave de meus encantos juvenis.

Ninho de João Grande – GV – Bagé – RS

Ardea cocoi

A garça-moura é uma ave ciconiiforme da família Ardeidae. É a maior das garças do Brasil, atingindo 1,20 m de altura, uma envergadura de 1,80 m e um peso de até 3 quilos. Durante o voo, as batidas de asas são ritmadas e lentas.

Nos seus deslocamentos médios ou longos, encolhem graciosamente o pescoço ao mesmo tempo em que esticam as pernas completamente, apenas em voos curtos mantém o pescoço distendido em linha reta, como menciona Roosevelt quando se refere espe­cificamente ao João Grande. Fora do período repro­dutivo, vive solitária e, mesmo nessa época, a maioria mantém-se isolada durante a alimentação.

Permanece pousada nas margens dos mananciais, em meio à vegetação, pescando peixes, rãs, pererecas, crustáceos, moluscos e pequenos répteis. Graças às suas longas pernas e pescoço, consegue capturar presas maiores em locais mais profundos do que as demais garças.

Possui um longo período de acasalamento e nidificação que se estende de janeiro a outubro quando então se reúnem em ninhais. Os grandes ninhos construídos com gravetos e forrados com gramíneas são construídos na parte superior e externa das árvores de maneira a permitir a aproximação das grandes aves. O casal se reveza desde o período do choco até a alimentação dos 3 ou 4 filhotes de sua ninhada. O ninhal favorece a segurança contra os principais predadores, nesta fase, que são os carcarás e urubus, que tentam comer os ovos e os filhotes destes formidáveis pelecaniformes.

Neste período, a plumagem dos pais torna-se mais vistosa. A base do pescoço ganha um pequeno tufo de leves penas brancas, a tonalidade das penas acinzentadas e negras torna-se mais viva, o mesmo acontecendo com as penugens ao redor dos olhos que ficam mais azuladas e o bico que ganha um amarelo mais vivo. Os filhotes ostentam a mesma padronagem de cores dos pais, embora um pouco mais esmaecida e sem a listra negra do pescoço e do ventre.

Garças Mouras – GV – Bagé, RS

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 04.12.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

[1]    Maguari: João Grande (Ciconia maguari). (Hiram Reis)

Nota – A equipe do Ecoamazônia esclarece que o conteúdo e as opiniões expressas nas postagens são de responsabilidade do (s) autor (es) e não refletem, necessariamente, a opinião deste ‘site”, são postados em respeito a pluralidade de ideias 

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