Contrarrevolução de 1964 – Parte I

Temos a honra de repercutir o artigo do Advogado, Escritor e Consultor Jurídico Jacinto Sousa Neto.

A História Secreta e Real  da Revolução de 1964
(Jacinto Sousa Neto – jus.com.br, 10.08.2022)

I – INTRODUÇÃO

A história é contada por meio de historiadores, sociólogos, cientistas políticos e pela imprensa marrom, onde interpretações diversas foram formuladas sobre o evento político, a partir da denominação dada pela esquerda de “ditadura militar”, cujo regime instaurado no Brasil, que perdurou no período de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985, sob o comando de governos militares sucessivos.

II – EDIÇÃO HISTÓRICA DA REVISTA MANCHETE

Vislumbrando-se oportunamente esse belo trabalho de reportagem, que redundou na Edição Histórica da Revista Manchete, de abril de 1964, com a manchete relevante sobre a História Secreta da Revolução, que ora passamos a demonstrá-la.

Perlustrando as páginas da Revista Manchete, edição históricas de abril de 1964, por meio das reportagens editadas pelos profissionais de imprensa Fernando Pinto, Ney Bianchi, José Maria do Prado, Manoel Higino dos Santos, Luís Carlos Sarmento, Murilo Melo  Filho, Jáder Neves, Nicolau Drei, Juarez Conrado, Flávio Costa, Gervásio Batista, Gil Pinheiro, Armando Bernardes, João Brankovan, Sérgio Jorge, Zygmunt Haar, Sérgio Alberto, Tito Rosemberg, Domingos Cavalcanti, José Campos, Hélio Santos, Antônio Trindade, Aldyr Tavares, Juvenil de Sousa, Odair Soares, Alberto Jacob, Victor Gomes, Francisco Ruas, Sérgio Matulevicius, Fernando Cascudo e Lausimar Laus, que devem ser reconhecidas como uma documentação histórica. (Imagem 02)

Capa da Revista Manchete, edição de abril de 1964 (Imagem 01)

Na página inicial, vislumbra-se as manchetes seguintes: “Um milhão de Cariocas na Marcha da Liberdade”; “Mourão Filho, A História Secreta da Revolução”; e “Minas e São Paulo, O Eixo da Vitória”. (Imagem 01)

Nos textos seguintes da Revista Manchete, deverão ser registrados, ipsis litteris, todos os episódios da História Secreta da Revolução de 1964. Iniciando-se com a manchete: “Deus Família e Liberdade”, nos termos seguintes:

A marcha da Família com Deus pela Liberdade, transformou-se, no Rio, numa verdadeira home­nagem às Forças Armadas, ao ser anunciada a presença do General Olímpio Mourão Filho, de destacada atuação nos recentes acontecimentos. Também compareceram os Marechais Dutra, Magessi, Mendes de Morais e Segadas Viana. A incalculável multidão concentrou-se ao lado da Candelária, com imagens, terços, bandeiras e cartazes anticomunistas. E dali deslocou-se para a Esplanada do Castelo, onde renovou a impressionante demonstração de fé católica e de confiança no Brasil. (Imagem 03)

Em destaque, abaixo, a fotografia do ex-presidente de República, Marechal Eurico Gaspar Dutra, que também recebeu aclamações, acenando ao povo no palanque. E, ao lado, observa-se a imensa multidão concentrada perante à Igreja da Candelária. (Imagem 04)

Estudantes universitários Mackenzie, empunhan­do bandeiras do Brasil, de São Paulo e de sua faculdade, atravessaram o centro da cidade em ruidosa passeata, rumo à sede do II Exército, onde aplaudiram os soldados em prontidão. (Imagem 05)

O General Peri Constant Beviláqua, revelou que, quando comandante do II Exército, em São Paulo, discordou da orientação concedida pelo então presidente João Goulart, com referência à política sindical. O General Peri foi dentre todos os chefes militares, o primeiro a se insurgir contra o prestígio concedido pelo Ministério do Trabalho, a líderes sindicais de tendência comunista.

Segundo o General, o presidente Jango não quis ouvi-lo, afirmando que “agora não há quem não reconheça que, se tivesse sido sensível às suas advertências, o Sr. João Goulart possivelmente ainda estaria no poder”. Porquanto, o General Peri foi perguntado que, “diante desse pronunciamento, no comando do II Exército, contribuiu para o alertamento da Forças Democráticas”?

–  General Peri: Melhor do que eu poderão responder a esta pergunta as torrenciais e inequívocas demonstrações de solidariedade que recebi de todos os setores nacionais da opinião pública. Admito, portanto, que tenha contribuído.

–  Repórter: Durante os recentes acontecimentos militares, o senhor manteve o ex-presidente informado da evolução da crise e de suas perspectivas?

–  General Peri: Fui pessoalmente procura-lo, no dia 31 de março próximo o passado, para levar-lhe informações sobre o estado moral e disciplinar das Forças Armadas, as repercussões sobre elas da ocorrências político-militares e, ainda, para transmitir-lhe uma impressão no tocante à segurança interna. Deixei, nessa ocasião em suas mãos, um documento sobre esse assunto, por mim assinado. Documento elaborado, aliás, com prévia consulta aos chefes do Estado-Maior do Exército e da Aeronáutica, bem como aos oficiais-generais das três forças, a mim diretamente subordinados.

–  Repórter: Quando o Sr. João Goulart deixou o Rio tinha informações sobree a união das forças de todos os Exércitos? (Imagem 06)

–  General Peri: Não tenho elemento para responder. Aquele foi o último contato que mantive com o ex-presidente.

–  Repórter: Antes da crise, o senhor alertou o Sr. João Goulart sobre os perigos do favorecimento de comunista no meio sindical?

–  General Peri: Sim e por várias vezes: em Notas de Instrução, quando comandante do II Exército e, em pronunciamentos públicos, o último dos quais o meu discurso de posse no Estado-Maior das Forças Armadas. E, pessoalmente, no fim do ano de 1952, em Araçatuba, São Paulo. Naquela ocasião falei-lhe sobre a hipertrofia do “poder sindical” e sobre os graves perigos que nós, chefes militares de maior senso de responsabilidade, víamos nisso. Afirmei-lhe que o II Exército estava integrado na disciplina consciente, do soldado ao general, todos prontos a cumprir e a fazer cumprir a lei. Não lhe escondi que víamos com apreensão a atuação de órgãos extralegais, CGT, PUA, Fórum Sindical de Debates, etc. Fiz-lhe ver que considerávamos que a segurança do governo e da democracia devia e deve basear-se, precipuamente, nas Forças Armadas, isto é, na lealdade e na honra militar dessas forças. Disse-lhe, ainda, que não me parecia possível a coexistência pacífica do poder militar com o “poder sindical”. Os recentes acontecimentos vieram confirmar o meu acerto

–  Repórter: Mas não se dizia existir, nas Forças Armadas, um “esquema janguista”?

–  General Peri: Os últimos episódios demonstram que as nossas Forças Armadas há muito ultrapassam a fase do caudilhismo militar ou civil. São Instituições nacionais permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República e dentro dos limites legais, para defender e garantir os poderes constitucionais, harmônicos e independentes, e a lei e ordem, como manda a Constituição.

Na entrada do edifício em que reside o General Olímpio Mourão Filho, em Copacabana, certa pessoa escreveu a giz: “Viva o Exército Brasileiro. Viva Mourão!” Porquanto, a romaria de políticos e militares era incessante. Os senhores Clóvis Salgado e José Maria Alkmim aguardavam o momento para uma conferência. Mas antes o General passou a ser entrevistado pela Manchete, perguntando-lhe:

–  Repórter: Desde quando o senhor fazia planos para a revolução?

–  General Peri: Desde 8 de setembro de 1962, tudo foi planejado durante dezessete meses.

–  Repórter: Com quem se articulou?

–  General Peri: A princípio, com o governador do Rio Grande do Sul. Depois, prossegui as articulações em São Paulo, onde fui comandante da 2ª Região Militar, durante cinco meses. Em seguida, indo comandar em Juiz de Fora, ali planejei a arrancada. Mas tivemos que esperar cinco meses até desencadear o movimento.

–  Repórter: Por que se decidiu pela revolução?

–  General Peri: Porque notei nos quartéis, infiltração comunista. É verdade que o número de sargentos comunistas é reduzido, mas eles sempre fizeram tudo para contagiar a tropa. O sargento Borges, agora preso, estava preparando para eliminar-me em São Paulo. Tinha um plano coordenado com a rebelião de Brasília, mas falhou. Em Santa Maria descobri uma conspiração no III Exército: quarenta sargentos faziam pregação sistemática, liderados pelo Deputado Garcia Filho.

–  Repórter: Tudo isso foi comunicado ao Ministério da Guerra?

–  General Peri: Tudo quanto se descobria era levado a sério e comunicado às autoridades superiores. Infelizmente, ninguém tomava providência.

–  Repórter: Encontrou resistências ao movimento que preparava?

General Peri: Encontrei. Terríveis. É que as vezes se confunde no Exército, legalismo com governismo.

–  Repórter: Acredita que o ex-presidente seja comunista?

General Peri: Não acho que ele seja comu­nista, mas creio que é uma espécie de Fausto. Vendeu sua alma ao diabo, sem receber Mar­garida em compensação. O ex-presidente cer­cou-se sempre da pior gente. Tentei aconse­lhá-lo, quando a situação se apresentava mais grave. Mas quem podia com o CGT?

–  Repórter: Para articular a rebeldia em Minas houve muitos entraves?

General Peri: Não, porque em Minas minhas ideias já eram sobejamente conhecidas. Assim, não houve maiores dificuldades. O povo mineiro é, por tradição, o mais infenso ao comunismo. Sadio de espírito, acredita em Deus com sinceridade.

–  Repórter: O senhor garante que o Brasil se manterá num clima democrático, sem opressões e violências?

General Peri: O nosso interesse único e sincero é que se faça no Brasil o melhor clima democrático, para que tenhamos paz e possamos ir para frente, sem o perigo vermelho. Para mim, quem não está com a democracia e admira os vermelhos é positivamente comunista. É verdade que, entre esses, existem os comunistas, os criptocomunistas e os inocentes úteis.

–  Repórter: Que pretendem fazer agora as Forças Armadas?

General Peri: A operação limpeza, que tem de ser absoluta. Não se faz um movimento como esse para destituir um homem e sim para erradicar um sistema viciado e perigoso, que começou em 1930 e vem se agravando até hoje.

–  Repórter: E as proclamadas reformas?

General Peri: Duvido que o povo as reclame. Não considero povo um ajuntamento de pelegos, comandados por minoria comunistas. Não nego a necessidade de reformas, mas o povo não pensa nelas. Foi apenas sugestionado. Isso, porém, não é função das Forças Armadas.

–  Repórter: E seus planos para a Petrobrás?

General Peri: Nomeado seu presidente, ainda não tomei posse. Se depois de inteirar-me de seus problemas poderei pronunciar-me sobre eles. Mas, antes de tudo, vou limpá-la dos comunistas que fizeram ali seu reduto. (Imagem 07)

O General Carlos Luís Guedes cumprimenta o Governador Magalhães Pinto pelo êxito do movimento encabeçado por Minas Gerais. Embaixo, à direita, o General Albino Silva, ex-presidente da Petrobrás, dá sua solidariedade ao movimento. Ao lado, no estúdio da TV-Itacolomy, João Calmon saúda o Coronel Afrânio Aguiar e o General Guedes. (Imagem 08)

Na manhã da deflagração do movimento rebel­de, o Sr. Magalhães Pinto chamou os três de seus secretários, confessando-lhe sua disposição de restaurar a democracia no País, afirmando que, “Sobrou-nos apenas este caminho. Não pode haver recuos. A posição é irreversível”. O governador mineiro estava emocionado.

Na tarde do dia seguinte, quando foi anunciada a vitória da revolução, milhares de pessoas con­vergiram para a Praça da Liberdade, em frente ao palácio do governo, onde prestaram ruidosa manifestação a Magalhães Pinto, aos chefes militares e auxiliares da administração estadual.

Na noite, no mesmo local acima, aclamados pela multidão, discursaram os senhores Afonso Arinos, José Maria Alkmim e Milton Campos que afirmou: “O Brasil precisa promover as reformas, inspiradas em autêntico sentimento popular e não em palavras vãs”. Enquanto que os Generais Mourão Filho e Carlos Luís Guedes, ovacionados, responderam às aclamações com o “V” da vitória. (Imagem 09) (Continua…)

Bibliografia: 

Dr. Jacinto Sousa Neto: A história secreta e real da revolução de 1964 – Jus.com.br | Jus Navigandi

MOURÃO FILHO. A História Secreta da Revolução. Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Manchete Revista Semanal, Edição Histórica, Abril de 1964: Manchete (RJ) – 1952 a 2007 – DocReader Web (bn.br) 

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 04.04.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com.     

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