Uma série de retrocessos ambientais farão com que o Brasil chegue à COP 23, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, com um grande atraso em relação à implementação do Acordo de Paris. Essa é a opinião de Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, que vai acompanhar a conferência em Bonn, na Alemanha, de 6 a 17 de novembro.
Aumento de emissões de gases de efeito estufa e do desmatamento – em vez da diminuição, compromisso formado há dois anos em Paris –, redução de áreas protegidas e de direitos de povos indígenas e flexibilização da legislação ambiental são alguns dos pontos que mostram que a assinatura de um acordo internacional não garante que o governo o cumpra.
“Quando a gente fala da apresentação de um país para uma conferência como essa, a gente tem que separar qual a contribuição do país para a negociação, o esforço para de fato haver progresso na implementação do Acordo de Paris – e neste sentido o Brasil, através de sua diplomacia, tem desempenhado um papel positivo”, diz Rittl.
“A presença do Brasil foi muito importante em Paris, na negociação do acordo, e inclusive num tema que é extremamente complexo, a diferenciação de como você trata países desenvolvidos e em desenvolvimento, de forma a engajar a todos, mas assegurando a equidade, com países ricos assumindo mais compromissos que os países mais pobres, por exemplo”, conta.
Brasil não está aliando teoria à prática
“O outro lado da análise do desempenho da participação de um país numa conferência como essa é a lição de casa. Neste sentido, o Brasil chega trazendo más notícias de Brasília. Nossas emissões aumentaram. No ano passado, aumentaram basicamente por conta do aumento da taxa de desmatamento na Amazônia”, analisa.
Segundo ele, com mais de 8.000 km2 destruídos num único ano na Amazônia e 9.500 km2arrasados no Cerrado, o Brasil terá dificuldade para cumprir as metas de emissões para 2020, também previstas no Acordo de Paris. “A gente não está construindo um caminho para implementar o Acordo de Paris nacionalmente: a gente retrocedeu”, observa o secretário-executivo do Observatório do Clima.
De acordo com Rittl, o Brasil tinha anunciado metas que não eram extremamente ambiciosas, mas hoje o cenário é negativo – o país abandonou a agenda de clima, que não é mais prioritária.
“Perde o clima e perde também o país. A gente vai aumentar as nossas emissões e não vai ter ganhos na nossa economia. A gente está investindo numa economia do passado, apostando ainda muito em combustíveis fósseis, colocando muito pouco recurso na agricultura de baixo carbono e ameaçando as nossas florestas através desses retrocessos decididos em Brasília, por conta da crise politica”, lamenta.
China e Índia dão exemplo
Assim como o Brasil, nem todos os quase 170 países que ratificaram o Acordo de Paris – que visa reduzir emissões de dióxido de carbono a partir de 2020 – estão realmente engajados com o tema da mudança climática, mas dois outros BRICS estão mostrando que é possível.
“É necessário que grandes nações comecem a dar passos adicionais, demonstrando que é possível fazer mais. China e Índia, por exemplo, por exemplo, estão acelerando a implementação de políticas para a transição das energias renováveis e dando uma contribuição extra”, conclui.
Segundo ele, é preciso haver engajamento crescente de todos os países, “num momento em que a gente tem Donald Trump anunciando a saída dos EUA do acordo e implementando uma série de políticas que representam um retrocesso em relação àquilo que o presidente Obama vinha fazendo”.
Por Paloma Varón
Fonte: RFI
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http://amazonia.org.br/2017/11/brasil-vai-a-cop-23-com-retrocesso-ambiental-diz-especialista/
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