Contrarrevolução de 64 – Parte IX

Contrarrevolução de 64 – Parte IX

04.03.1964-Diario-de-Noticias-n°-n°-12.689

Diário de Notícias n° 12.689, Rio de Janeiro, RJ
Sexta, 03.04.1964
Brizola Abandonou Tudo e Escapou
Goulart Está em Fuga

O Brasil perdeu a trajetória do sr. João Goulart, que empreende uma fuga misteriosa no Sul do Continente. O governo do Uruguai recebeu pedido de asilo direto do ex-presidente, que solicitou acolhida para ele e uma comitiva de 15 pessoas, no meio das quais está o seu cunhado Leonel Brizola, que abandonou os correligionários, no Rio Grande do Sul, no instante em que o Exército, a Força Pública, a Polícia e o próprio povo promoviam a captura dos poucos rebeldes e destruíam os seus esconderijos. Segundo noticiário radiofônico captado da extinta “Cadeia da Legalidade”, o sr. Goulart e sua caravana deixaram a capital gaúcha, às pressas, às 12h45m de ontem, tomando o rumo do Uruguai. O conselheiro da embaixada daquele País, no Brasil, sr. Manuel Areosa, informou ao “DN” que tomou conhecimento do fato, mas o pedido foi feito diretamente ao presidente de seu País.

Multidão Pela Fé, Pela Família e Pela Liberdade

O povo carioca deu, ontem, uma demonstração de Fé inabalável nos destinos da democracia e do cristianismo em nosso País, acompanhando, da Candelária à Esplanada do Castelo, a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”. Mais de um milhão de pessoas de todas as condições sociais, de todas as idades, ali estiveram. Foram agradecer a Deus por não ter permitido por mais tempo que o Brasil ficasse como um satélite do comunismo na América do Sul. A marcha da Vitória da Democracia contou com a presença de autoridades, militares, sacerdotes, pastores e rabinos, funcionários federais que antes estavam ameaçados de não poder acompanhá-la, além do povo que acorreu de todos os pontos da cidade e de vários recantos fluminenses, trazidos pela certeza de que “Deus não nos abandonará”.

Hora de Definições

O sr. João Goulart não renunciou. Não foi deposto. Fugiu. Não teve bravura nem estatura para honrar, do começo ao fim, o seu turbulento mandato. Seu paradeiro não nos interessa. O que interessa saber é que não está mais no Poder.

Vencemos, entretanto, apenas a primeira etapa da luta, já que não tínhamos como objetivo apenas a derrubada de um homem. O que nos propusemos foi desmantelar um sistema, foi imunizar a Nação contra as ideologias antinacionais, foi conter o golpismo, o continuísmo e o totalitarismo latentes, foi erradicar dos quadros governamentais e administrativos os conspiradores e os sabotadores do regime e da ordem democrática. A Nação ergueu-se contra o abastardamento do poder transformado em arma de pressão e subjugação política, e uniu-se para combater a deformação da vida pública, reduzida a mero instrumento de fruição pessoal e ao negocismo rotulado de nacionalismo.

Exauria-se a Nação na inépcia, enquanto o governo se fantasiava de reformista, para justificar a sua incompetência e encobrir seus inconfessáveis propósitos totalitaristas. Esvaia-se o País na voragem inflacionária enquanto se aviltava o padrão de vida de todas as categorias sociais.

Deteriorava-se a ordem, a disciplina e a hierarquia nas corporações militares. Minavam-se os fundamentos éticos e espirituais em que sempre se alicerçou a Nação. Inflacionava-se o custo da produção e se marginalizavam do consumo extensas camadas da população. Comprometia-se o equilíbrio federativo. As desigualdades sociais eram criminosamente exploradas e se entronizava como bandeira de governo a luta de classes. Jogava-se com os desníveis internacionais como arma para separar o Brasil de seus tradicionais aliados e se vilipendiava o conceito do País no exterior, acumulando dívidas em toda parte que não eram e que não podiam ser ressarcidas sem o risco de reduzir e mesmo de comprometer o ritmo do desenvolvimento econômico que desceu de um dos mais altos índices em 1960 a uma das mais baixas taxas de crescimento, em 1963.

O Brasil se transformara num acampamento de aventureiros e depredadores.

É para tudo isto que há de estar atento, nesta hora, o Congresso Nacional. É imperioso que as duas Casas do Legislativo não percam de vista a responsabilidade e a missão que lhes correspondem, neste instante. Tornou-se um imperativo da consciência nacional que o Congresso traduza com perfeita fidelidade.

Os sentimentos que inspiraram esta autêntica Revolução Democrática, refletindo em suas decisões o espírito dos chefes civis e militares do movimento vitorioso, já que eles espelham, com incontrastável nitidez, os impulsos mais generosos que animam a maioria esmagadora do nosso povo. Esperamos que o Congresso, agora mais do que nunca, comungue os ideais permanentes da nacionalidade e se coloque à altura de seu papel histórico. Não é hora de intransigências político-partidárias, de fórmulas maliciosas, de compromissos de política de campanário, de artifícios, sofismas e filigranas jurídicas.

A hora é de definições, mas de definições que consultem, e só, aos interesses fundamentais da Nação. E estes interesses se traduzem, neste instante, na necessidade de formação de um Governo que tenha condições para executar, em toda a plenitude, o programa de recuperação moral, econômica e financeira do País. Que crie o Congresso essas condições e vote as reformas que venham ajustar as estruturas do País às exigências do seu desenvolvimento e da ascensão das massas populares a melhores padrões de vida, mas dentro dos princípios democráticos e cristãos que são o apanário da civilização brasileira. Só assim teremos nos recomendado à História, só assim teremos merecido empunhar a bandeira da Redenção Democrática.

04.04.1964-Diario-de-Noticias-n°-12.690

Diário de Notícias n° 12.690, Rio de Janeiro, RJ
Sábado, 04.04.1964
Militares Exigem Expurgo e Surge Novo ministério

Enquanto as Forças Armadas declaravam-se dispostas a não abrir mão do expurgo contra os comunistas, prometendo dar o exemplo com a cassação da patente dos militares comprometidos, o presidente Ranieri Mazilli reuniu-se, ontem, reservadamente, com os três Ministros militares, no Palácio da Guerra, para anunciar, quase à meia-noite.

Os nomes dos srs. Otávio Gouveia Bulhões para a Fazenda, Luís Antônio da Gama e Silva para a Educação e Justiça, Arnaldo Sussekind para o Trabalho, Vasco Leitão da Cunha para o Exterior, Arnaldo Valter Blank para o Banco do Brasil e Marechal Ademar Queirós para a Petrobras. Em seguida, o Presidente da República informou que as pastas não preenchidas serão ocupadas, cumulativamente, pelos Ministros já escolhidos.

Adiante, frisou que o sr. João Goulart já não se encontra no Brasil, os bancos estarão reabertos segunda-feira e que nossa política externa será a “tradicionalmente desenvolvida pelo Itamaraty”. Quanto aos problemas econômico-financeiros, o Sr. Ranieri Mazilli afirmou que, dentro em pouco, o Ministro Otávio Bulhões fará um relatório, sobre as providências para normalização do processo antieconômico. O Clube Militar e o Clube Naval resolveram permanecer em assembleia permanente até que sejam inclusive fechados os partidos ligados ao comunismo. Enquanto isso, em nota oficial, o próprio Ministério da Aeronáutica, tendo à frente o Ministro Francisco Correia de Melo e os oficiais generais, decidiu que é necessário “desmontar, sem mais tardança, o sistema de subversão que fora armado pelo governo deposto, a fim de assegurar a estabilidade das instituições nacionais.

Por sua vez, o Almirantado lançou uma proclamação, na madrugada de hoje, afirmando que se iludem os que julgam terminada a batalha”, e assegurando que “foi para evitar que o Legislativo fosse fechado que os quartéis lançaram à rua um definitivo protesto cívico”.

Goulart já se Acha Escondido no Uruguai

Montevidéu, 4 – Já chegaram a esta capital a sra. Maria Teresa Goulart e seus dois filhos, acompanhados de uma empregada. O sr. João Goulait é esperado a qualquer momento, desde que lhe sejam dadas as garantias que mandou pedir de um ponto qualquer do interior do país. A ex-primeira dama brasileira desembarcou sorrindo de um “Cessna 330” em um subúrbio desta capital e se acha hospedada na casa do adido comercial da Embaixada do Brasil, numa praia a 20 quilômetros da capital platina.

Chegou a dizer a um repórter uruguaio que seu marido estava em sua fazenda em São Borja e que indagara do governo uruguaio que tratamento teria como exilado político.

Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 31.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com

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