A Terceira Margem – Parte DCCXXXIX

Barra Falsa ‒ Ponta Rasa (13.03.2016)

– Barra falsa do Bojuru ao Veleiros Saldanha da Gama

Alta Adesão Derruba Discurso Governista e do PT de Que País Está Dividido, Reforça Pedido de Impeachment e Pode Influenciar o TSE 

Na maior manifestação da história do País, milhões de brasileiros foram às ruas neste domingo, 13, em pelo menos 239 cidades nas cinco regiões, pedir a saída da petista Dilma Rousseff, 68 anos, da Presidência da República.
Os protestos também tiveram como alvo o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva […] (O Estado de São Paulo, São Paulo, SP, 13.03.2016)

– Ponta Rasa

Partimos para a Ponta dos Lençóis, às 07h00, com ventos de SE de 05 a 15 km/h. Às 13h00, passamos pela Comunidade de Pescadores do Estreito (31°47’17,42” S / 51°45’39,26” O), infelizmente era domingo e o amigo Zé do Dedé não se encontrava. As cheias do ano passado impediram a entrada da água salgada na Laguna prejudicando muito a safra de camarão, a consequência disso era o reduzido número de calões em comparação com os anos anteriores.

Relato Pretérito ‒ Estreito (P. dos Lençóis) 

Domingos de A. e Silva (1865) 

Estreito (Nossa Senhora da Conceição do –). Freguesia situada sobre o terreno arenoso que medeia entre o Oceano e a Lagoa dos Patos. Foi fundada com os primeiros colonos açorianos vindos para povoar o Município do Rio Grande, os quais se entregaram, primeiro que outros habitantes da Província, à cultura dos cereais e à criação do gado lanígero ([1]). A eles se deve a construção de uma igreja, consagrada à Nossa Senhora da Conceição, que em 1765 mereceu ser elevada à categoria de Paróquia, tomando a povoação o nome de Conceição do Estreito; porém em 1820 tendo o Vigário passado a residir em S. José do Norte, que por sua maior população tornava mais urgentes os socorros espirituais, foi a sua igreja da invocação de Nossa Senhora dos Navegantes elevada à Paróquia, ficando sua filial a da Conceição do Estreito. Foi elevada à Freguesia pela Lei Provincial n° 53 de 25.05.1846, e pertence ao Município de S. José do Norte e à Comarca do Rio Grande. Os seus limites começam em S. Caetano, e findam na extrema da fazenda nacional do Bojuru, que termina no Capão Comprido.

Os habitantes desta Freguesia já desde muito que exercem a indústria da tecelagem em grande escala, e se bem que seus artefatos sejam de panos grosseiros de lã ou de algodão, todavia fabricam toalhas adamascadas com bastante arte tecidas, bem como palas de lã para ponchos, e finalmente mui lindas colchas de algodão e lã; todos estes objetos são vendidos por bom preço, e consumidos na Província.

Nesta Freguesia existe uma escola pública de instrução primária para o sexo masculino criada pela Lei n° 44 de 12.05.1846. Dista 47 léguas de Porto Alegre, 9 de S. José do Norte e 11 da cidade do Rio Grande.

Estreito. Ponta da Lagoa dos Patos, situada na Latitude Sul de 31°46’14”, e no princípio do estreitamento da mesma Lagoa. (SILVA)

Continuamos a viagem com destino ao Acampamento do Irailson na face Norte da Ponta Rasa (31°51’47,5” S / 51°50’41,0” O) onde aportamos às 16h30, depois de navegar 56 km e nada do Irailson. Noite tranquila sem vento, apenas o incômodo zumbido de um enxame de mosquitos do lado de fora da barraca. Naveguei 56,0 km, totalizando 301,9 km de jornada.

– Canal São Gonçalo (Wikipédia)

Ponta Rasa ‒ Pelotas (VSG) (14.03.2016)

A Justiça de São Paulo encaminhou para as mãos do juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba [PR], a denúncia e o pedido de prisão preventiva feitos pelo Ministério Público de São Paulo contra o ex-Presidente Lula. A Justiça paulista decidiu que o caso do tríplex no Guarujá [SP] já era alvo da Operação Lava Jato e que os crimes investigados são de esfera federal. (Felipe Frazão e Laryssa Borges ‒ Revista Veja, Brasília, DF, 14.03.2016)

Partimos, às 07h00, e chegamos ao extremo Oeste da Ponta Rasa (31°48’51,4” S / 52°02’51,4” O) às 09h45 depois de navegar 23 km impulsionados por ventos de 15 km/h. Aportamos na Ilha Sarangonha (31°47’31,9” S / 52°05’55,1” O), às 11h00, na Boca do São Gonçalo (31°47’13,4”S / 52°13’23,0”O), às 13h00, e no Veleiros Saldanha da Gama, Pelotas (31°46’43,1”S / 52°18’53,9”O), às 15h00, depois de navegar 47,2 km. Graças ao Cel Pastl, ficamos alojados nas instalações da churrasqueira do Clube com direito a um bem vindo banho quente. Concluímos a primeira perna de nossa jornada – Porto Alegre – Pelotas. Executamos até agora 349,1 km de um total de aproximadamente 1.300 km. Percorremos, portanto, apenas 26,85% do total.

– Canal São Gonçalo (Praia do Laranjal)

²  1° Perna Total =         349,1 km.

Relato Pretérito ‒ Canal São Gonçalo

Domingos de A. e Silva (1865)

Gonçalo (Rio de –). Sangradouro, que comunica a Lagoa Mirim com a dos Patos, e cuja extensão é de 12 léguas; na sua margem Ocidental está assentada a cidade de Pelotas: é navegável em toda a sua extensão, e suas águas são sulcadas por grande número de embarcações. Foi sobre a margem esquerda deste Rio, que teve lugar o combate entre os cento e tantos bravos do valente Cel Albano de Oliveira Bueno, e 700 e tantos dissidentes, ficando prisioneiro o dito Coronel e o bravo Major Manoel Marques de Souza [hoje Barão de Porto Alegre]; aquele foi covardemente assassinado junto ao Rio Camaquã pela escolta que o conduzia preso para Porto Alegre, e que tinha recebido ordem para tão lamentável ato, sendo seu único crime se ter batido por vontade, visto ser paisano; e este foi solto e perdoado por não ter crime, visto se ter batido por obrigação. (SILVA)

Hilário Ribeiro (1880)

S. GONÇALO 

Que sabe dizer sobre o S. Gonçalo?

Este Rio, ou mais propriamente sangradouro, comunica a Lagoa Mirim com a dos Patos, e tem a extensão de 80 km, mais ou menos. Na sua margem Ocidental está situada a bela cidade de Pelotas, que se estende entre o Arroio de seu nome e o Santa Bárbara.

Qual é a importância de sua navegação?

É inteiramente navegável por navios de vela e vapores empregados no comércio de importação e exportação do exterior e da cidade do Rio Grande com os mercados de Pelotas, Jaguarão e os centros do Sul da campanha. Centenas de navios navegam anualmente nele até 30 km mais ou menos de sua Foz, transportando imensa quantidade de charque, couros e outros produtos da raça bovina. (RIBEIRO)

Lagoa
(Apparicio Silva Rillo) 

As Estrelas pediram
Pediram um espelho
Pra Nosso Senhor.

O Senhor, surpreendido
Estranhando o pedido
Chamou por Maria.

As Estrelas pediram
Pediram um espelho
Pra Virgem Maria.

Maria, tão boa!
Cortou do infinito um pedaço de Céu
De um pedaço de Céu
Ela fez a Lagoa.

Ficou um buraco no forro do Céu
Chamando Maria, lhe disse o Senhor
Remenda o meu Céu, que a idéia foi tua
Maria, sorrindo, rasgou o seu manto
E pregou no infinito o remendo da Lua.

Lagoa!
Sesmaria de águas claras
Deitada nos pedregulhos
Espelho grande onde as Estrelas tolas
Vêm ajeitar o véu de lantejoulas
Durante a longa procissão noturna.

Quando ao Sol da manhã tu te incendeias,
uma orgia de penas te enfeita as areias
e o silêncio se quebra a um concerto de pios.

A quietude das águas
nas praias mais rasas,
se encrespa de gozo ao bulício das asas
fazendo tremer os teus juncos esguios.
Gamela onde bebem os bichos do campo
nas praias sombreadas por salsos-chorões.

Gamela de barro
De pedra e areia
Tão cheia de água
Tão cheia de juncos
Tão cheia de flores
Azuis de aguapés

Lagoa noturna, salão das Estrelas,
Lagoa de luz, várzea grande de Sol.
Lagoa dos salsos e das corticeiras,
lagoa onde mora
o martim-pescador.

Lagoa das lontras e das ariranhas,
Lagoa dos peixes e dos jacarés
Que brutos e rudes armando as carrancas,
Espreitam as garças, tão tristes, tão brancas,
Que cismam em silêncio sobre os aguapés.
Lagoa do campo, pedaço de Céu!

– Veleiros Saldanha da Gama

Por: Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 13.05.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

– Veleiros Saldanha da Gama

Bibliografia 

RIBEIRO, Hilário. Geografia da Província do Rio Grande do Sul: Adaptada às Classes Elementares e Adornada com Mapas Coloridos ‒ Brasil ‒ Pelotas, RS ‒ Carlos Pinto & Companhia ‒ Tipografia da Livraria Americana, 1880.

SILVA, Domingos de Araujo e. Dicionário Histórico e Geográfico da Província de São Pedro ou Rio Grande do Sul ‒ Brasil ‒ Rio de Janeiro, RJ ‒ Casa dos Editores Eduardo & Henrique Laemmert, 1865.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com

[1]   Lanígero: ovino. (Hiram Reis)

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