A Terceira Margem – Parte DCCXXV

O Imbróglio do “Prince of Wales” – Parte VI

Incidente com a Fragata Emerald (24.06.1861)

Correio da Tarde, n° 139
Rio de Janeiro, RJ – Quarta-feira, 26.06.1861

Notícias e Avisos Diversos

 A uma das folhas da manhã comunicaram a seguinte ocorrência: Anteontem à noite um escaler da fragata inglesa Emerald assaltou no meio da baía um bote, que largara do cais do “Pharoux” com dois fuzileiros navais, um marinheiro do registro e dois pretos remadores. Logo que o escaler atracou, os ingleses começaram a espancar os remadores e passageiros, resultando daí desaparecer um dos fuzileiros navais e atirarem-se ao mar os outros passageiros do bote, a fim de evitarem as pancadas. (CDT, N° 139)

Correio Mercantil, n° 175
Rio de Janeiro, RJ – Sexta-feira, 28.06.1861

Notícias Diversas

 O Sr. Christie, Ministro inglês nesta Corte, remeteu para a polícia, à requisição do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, o oficial e marinheiros que compunham a tripulação do escaler da Fragata Emerald, acusados de haverem praticado as violências de que já demos notícia.

Ontem, na presença do Sr. Chefe de Polícia, do cônsul inglês e do comandante da Fragata teve lugar o interrogatório do oficial e de alguns marinheiros. Hoje devem ser inquiridos os passageiros e remadores do bote.

Em consequência do conflito que teve lugar na noite de 24 do corrente entre o escaler da fragata inglesa “Emerald” e um bote do cais “Pharoux”, foi adiada a saída deste navio, a fim de que as autoridades tomem conhecimento do ocorrido. (CORREIO MERCANTIL, N° 175)

Jornal do Commercio – n° 177
Rio de Janeiro, RJ – Sexta-feira, 28.06.1861

Gazetilha

 O nobre Sr. Taques, sem dúvida ignorante dos antecedentes desta questão, não se apressou em pedir ao Ministro inglês a continuação das providências dadas, isto é, a entrega dos marinheiros da Emerald, acusados do fato criminoso perante as nossas autoridades. O nobre deputado dirigiu uma nota neste sentido, a 16, se não me engano, e foi depois, como a Câmara sabe, que uma fragata inglesa com direção ao Rio da Prata tomou a seu bordo o guarda-marinha e os mais réus. Por isso afirmo que o desfecho desagradável desse acontecimento se deve imputar ao Sr. ex-Ministro de Estrangeiros, Deputado pela Bahia. (JDC, N° 177)

Correio Mercantil, n° 188
Rio de Janeiro, RJ – Quinta-feira, 11.07.1861

Notícias Diversas

 Pela secretaria da polícia foi-nos comunicado o seguinte extrato das averiguações a que procedeu o Sr. Dr. chefe de polícia sobre o conflito, que teve lugar na noite de 24 de junho deste ano, entre a lancha da fragata inglesa “Emerald” e o bote que do cais “Pharoux” seguia para a fortaleza do Villegaignon. […]

O soldado do Batalhão naval Simão Rodrigues de Quevedo diz que depois das 9 horas da noite de 24 de junho, seguiam do cais “Pharoux” em um bote, onde iam, além dele, mais quatro pessoas, a saber: seu camarada Vicente Ferreira Ramos, um marinheiro da barca der vigia da alfândega dois remadores; que ao chegar o bote, à Ponta do Trem foi perseguido por um escaler guarnecido por ingleses, sendo por fim alcançado por este, saltando no bote o oficial inglês e mais quatro pessoas, dos quais três estavam armados com espadas e dois com pedaços de remos; que estes cinco ingleses começaram logo por espancar os que iam no bote, os quais se lançaram ao mar com exceção do soldado Ramos, que foi o mais espancado e estava em completa prostração, sendo depois atirado ao mar pelo guarda-marinha ajudado por outro inglês, descarregando sobre ele o dito guarda-marinha nova pancada ao vir à tona d’água, a qual o fez ir ao fundo, sem tornar a aparecer ouvindo-o apenas gritar – ai Jesus; que foram salvos pelo escaler do brigue “Pavuna”, que acudiu a seus gritos; estando bem próximo o escaler inglês, que nenhum socorro lhes prestou; que nenhum motivo houve para essa agressão; o finalmente que reconheceria o guarda-marinha se o visse. O marinheiro da barca do vigia da alfândega João José de Sá declara que, dirigindo-se para Villegaignon, na noite de 24 de junho, em um bote com dois soldados, foram em certa altura perseguidos pelo lanchão da fragata inglesa o, além da Ponta do Trem, foi o bote abordado pelo lanchão, entrando naquele cinco ou seis ingleses, que principiaram logo a espancá-los, obrigando-os assim a lançarem-se ao mar, resultando daí morrer um dos soldados; que foram salvos pelo escaler do brigue “Pavuna”, sendo que os ingleses, bem longe de os socorrer, repeliam, ao contrário, os que se lhes aproximavam, com pancadas do remos, sendo que ainda conserva os sinais das pancadas que recebeu estando já no mar.

O remador do bote, Jerônimo, preto, diz que conduzindo no bote, na noite de 24 de junho, dois soldados dos fuzileiros navais, e um marinheiro da barca de vigia da Alfândega, foram acometidos além da Ponta do Trem pelo lanchão da fragata inglesa, que abordou o bote, saltando nele diversos marinheiros e o oficial, que os espancaram com remos e espadas; que à vista do tal agressão, atiraram-se ao mar, sendo salvos pelo escaler do brigue “Pavuna”, motos um dos soldados que, tendo caído no bote em consequência das pancadas que recebera foi lançado ao mar pelos ingleses, tendo desaparecido; que do lanchão inglês nenhum socorro foi prestado aos que se atiraram ao mar, repelindo-os antes com os remos quando dele se aproximavam.

O remador do bote, Joaquim, preto, releio o mesmo que o outro remador, quanto à agressão, ao fato de se lançarem ao mar, de serem repelidos pelos ingleses os que se lhes aproximavam, e do serem salvos pelo escaler do brigue “Pavuna”, com exceção do um dos soldados, que soube ter desaparecido, não podendo ser minucioso por ter sido o primeiro a lançar-se ao mar logo no começo do conflito.

O Mestre da Armada nacional, Manoel do Nascimento Braga, diz que estando a bordo do brigue “Pavuna”, e acudindo aos gritos de socorro, fez arrear o escaler e seguiu para o lugar de onde partiam os gritos, e então viu um bote abandonado e um lanchão guarnecido por ingleses; que tratou de recolher os náufragos, que eram dois pretos remadores, um soldado naval o um marinheiro, fazendo esforços inúteis para salvar um outro soldado naval que vinha no bote e desapareceu no mar; que ao chegar ao lugar do acontecimento quis a gente do lanchão agredi-lo, retirando-se ao reconhecer que o escaler era de guerra, tendo visto à proa do lanchão um guarda-marinha inglês, com a espada na mão.

O soldado naval, a bordo do brigue “Pavuna”, João Francisco de Novaes, fazendo parte da tripulação do escaler que foi acudir aos náufragos, confirma quanto referiu o Mestre da Armada.

O imperial marinheiro a bordo do brigue “Pavuna”, que também fez parte da tripulação daquele escaler, exprime-se pela mesma maneira que os dois precedentes.

Em 5 do mês corrente, em presença do cônsul inglês e o comandante da fragata inglesa “Forte”, foram apresentados ao soldado naval Simão Rodrigues de Quevedo quatro guardas-marinhas ingleses e entre eles o guarda-marinha Francis Maie, e, convidado aquele soldado naval para designar dentre eles qual o que havia saltado no bote, e aí espancado e atirado ao mar o soldado naval Vicente Ferreira Ramos, foi por ele sem hesitação designado o guarda-marinha Francis Maie, como o autor dos referidos fatos.

À vista do resultado destas averiguações, trata-se de instaurar o competente processo contra o guarda-marinha Francis Maie e o imediato William Langford. (CORREIO MERCANTIL, N° 188)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 08.04.2024 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia  

CDT, N° 139. Notícias e Avisos Diversos – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio da Tarde, n° 139, 26.06.1861.  

CORREIO MERCANTIL, N° 175. Notícias Diversas – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio Mercantil, n° 175, 28.06.1861.

CORREIO MERCANTIL, N° 188. Notícias Diversas – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio Mercantil, n° 188, 11.07.1861.  

JDC, N° 177. Gazetilha – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Jornal do Comércio, n° 177, 28.06.1861.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP);
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com 

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