A Terceira Margem – Parte DXXXII

Descendo o Rio Branco 

Igreja N. Senhora do Carmo, BVA, RR

Boa Vista – III, 24 a 30.08.2018

Místico
(Vinicius de Moraes)

[…] No olhar aberto que eu ponho nas coisas do alto
Há todo um amor à divindade.
No coração aberto que eu tenho para as coisas do alto
Há todo um amor ao mundo.
No espírito que eu tenho embebido das coisas do alto
Há toda uma compreensão.
Almas que povoais o caminho de luz
Que, longas, passeais nas noites lindas
Que andais suspensas a caminhar no sentido da luz
O que buscais, almas irmãs da minha? […]

Tour com o Capelão Mil Gu BVA

O meu caro amigo e irmão maçom Coronel Sérgio Ricardo Vianna Rodrigues de Matos, Chefe das Relações Institucionais da 1° Bda Inf Sl, após o almoço na Brigada, me apresentou o Capelão Militar da Guarnição de Boa Vista Capitão José Ribamar Garcia de Sousa, que fora autorizada pelo Comandante da Brigada ‒ Gen Bda Gustavo Henrique Dutra de Meneses – a realizar uma visitação aos templos da cidade. Nos meus périplos cumprindo jornadas náuticas, realizando palestras ou simplesmente vagando, tenho o costume de em cada localidade visitada conhecer seus templos religiosos ‒ a arquitetura sacra e a aura que envolve estes lugares santificados embala minha espi­ritualidade, seus museus – o conhecimento me liberta da ignorância e nas suas praças e parques entro em contato com a natureza para sentir o quanto aquela comunidade se importa com o ambiente que a cerca.

Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo

A Mestra em Preservação do Patrimônio Cultural Carolina Viana Albuquerque, reporta-nos:

De acordo com o Inventário do Patrimônio Cultural de Boa Vista, em 1692 a Câmara de Belém fez uma petição ao Rei de Portugal para que colocasse missionários no Rio Branco. Em 1725, um grupo de frades carmelitas fundou nas Missões do Rio Branco uma capela de madeira e terracota [A terracota é um material constituído por argila cozida no forno, sem ser vidrada, e é utilizada em cerâmica e construção. O termo também se refere a objetos feitos deste material e à sua cor natural, laranja acastanhado].

Em 1775, o ouvidor da capitania de São José do Rio Negro, Ribeiro Sampaio descreveu: “Na margem ocidental do Rio Branco se encontra a missão Nossa Senhora do Carmo, com 118 almas”. Doze anos depois, Lobo D’Almada na sua descrição relativa ao Rio Branco e seu território, de 1787 informou: “Na povoação do Carmo no Rio Branco, existe uma capela, 16 fogos e um vigário que assiste as 215 almas”. A freguesia sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo, foi criada em 1856 e a paróquia em 1858, elevando a pequena capela à condição de igreja Matriz.

Via Sacra de Augusto Cardoso (2006)

Jornal Roraima Hoje
Boa Vista, RR ‒ Sexta-Feira, 29.09.2017

Exposição do Artista Augusto Cardoso
Marca Reabertura da Galeria Luiz Canará,
no Parque Anauá

SOBRE O ARTISTA – Augusto Cardoso é roraimense e artista autodidata. Começou a pintar aos 14 anos e tem 36 anos de profissão, possui obras expostas em museus e embaixadas no Brasil, Venezuela, Itália, Argentina, Holanda, Japão, França, Bélgica, Uruguai, Canadá, Áustria e Estados Unidos, mas para ele uma obra especial faz parte do acervo do Museu do Papa, no Vaticano, que é a tela São Francisco em uma paisagem regional.

Em 1989, foi nomeado conselheiro estadual de Cultura. Entre 1995 e 1996 foi destaque na revista Amazônia Nossa. Ilustrou o Livro Fatos e Lendas dos Mistérios da Amazônia e é destaque no Livro de Talentos da Listel, com a Obra Macunaíma. Recebeu Diploma de Reconhecimento do Rotary Club Boa Vista-RR; Honra ao Mérito e Notoriedade Cultural do Estado de Roraima; Destaque em 2002 pelo Tríptico ([1]) de São Francisco, com 18 m².

Possui obras em exposição permanente na Di Cardoso Galeria de Arte, em Boa Vista, e Galeria Palácio das Artes, em Manaus [AM]. Destacam-se ainda a Via Sacra [15 peças] na Matriz de Nossa Senhora do Carmo e “São Francisco do Lavrado”, que compõem o Acervo do Museu do Vaticano. (JRH, 29.09.2017)

Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo, BVA, RR

Paróquia São Francisco das Chagas

“Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu fora. Estavas comigo e não eu contigo. Exalaste perfume e respirei.
Agora anelo por ti. Provei-te, e tenho fome e sede.
Tocaste-me e ardi por tua paz”. (Santo Agostinho)

Da igreja Matriz nos dirigimos à Paróquia São Francisco das Chagas para conhecer as formidáveis pinturas bizantinas do seu Pároco Francisco Mário Ribeiro Castro. Vejamos como ele se refere a esta arte na defesa de seu Mestrado em Ciências da Religião:

A Importância da Arte Bizantina para a Igreja Cristã

A experiência dos cristãos ocidentais com a arte bizantina é muito restrita, portanto, pouco compre­ensível. Por se tratar de uma arte que tem uma grande carga de códigos e regras, pensa-se que ela não se interessa pelo novo e limita a criatividade de seu artesão e isso é um equívoco, mesmo que as correntes mais tradicionais se ocupem em releituras de obras clássicas, cada ícone é sempre uma expressão nova e carrega os traços característicos de seu artesão, mesmo que isso não seja muito perceptível para os mais leigos nesse conhecimento. […] O ícone bizantino, é essencialmente simbólico, pois ele é em si mesmo a presença daquilo que o simboliza. É uma arte que não nasceu para si mesma, mas para a Igreja e desde a Igreja. Ela nasceu para as necessidade e finalidades da igreja. […] Assim, constatamos que o ícone não se trata de uma criação subjetiva sem destinação específica ou um mero objeto de adorno para deleite ou prazer estético. Ela é construída a partir de normas ou cânones que assegura seu valor simbólico, teológico e espiritual, portanto, sua finalidade objetiva. Para compreender a arte sacra iconográfica, fazer uma leitura coerente de um ícone, são necessárias algumas sensibilidades. Além dos dons artísticos, algum conhecimento teológico e acima de tudo uma boa experiência de espiritualidade cristã, e isso faz a arte bizantina ser especial, rara e especial, […] A técnica iconográfica é muito antiga, provavelmente nasceu no mundo egípcio.

Na arte cristã primitiva até o final o século VII se usava a encausta como aglutinador para os pigmentos, mas a partir disso, com o fim dos movimentos iconoclastas passou a usar a têmpera de ovo ([2]), e se pintava ‒ pinta-se assim ainda hoje ‒ sobre tábuas. […] No ocidente, a arte sacra iconográfica, passou por longo período de decadência, com uma predo­minância da arte religiosa. Caracterizando-se princi­palmente pela subjetividade do artista, que transfere para ela características de sentimentalismo, pieguice e pouco conteúdo da fé cristã. Assim, a arte sacra nos dias de hoje deve buscar maior comunicação com a vida e a espiritualidade do indivíduo religioso, resguardando o sagrado nas experiências desse como ser no mundo, mas, num mundo que se apresenta das formas mais variadas possíveis. A realidade desse mundo que quanto mais heterogêneo mais efêmero, mas passageiro onde o ser humano necessita ainda de forma mais intensa de valores que o faça transcender a própria realidade de indigência.

São Francisco de Assis

São Francisco
(Vinicius de Moraes)

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.  

Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom dia, amigo,
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.

 Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.

Tríptico de São Francisco, BVA, RR

 Fomos os três, então, para a Igreja Católica do Caçari onde o Padre Francisco nos apresentou sua pu­jante arte. Um templo arquitetonicamente simples que foi transformado pelas mãos inspiradas de Francisco Mário Ribeiro Castro em um fantástico santuário.

Igreja Católica do Caçari, BVA, RR
Arte e Oração ‒ Papa Bento XVI

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 09.01.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia 

JRH, 29.09.2017. Exposição do Artista Augusto Cardoso Marca Reabertura da Galeria Luiz Canará no Parque Anauá ‒ Brasil – Boa Vista, RR – Jornal Roraima Hoje, 29.09.2017.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com

[1]   Tríptico: conjunto de três pinturas unidas por uma moldura tríplice. (Hiram Reis)

[2]   A encausta trata-se de uma técnica onde se usava cera de abelha como aglutinante para os pigmentos, usados com pincel ou uma espátula quente. Já a têmpera é uma emulsão feita a base da gema do ovo solvido em duas quantidades de vinho branco e seco. Quando descobriram essa técnica, inicialmente, usavam a gema diluída na água e na própria clara, mas por questão de conservação e durabilidade passou-se a fazer com vinho. (Hiram Reis)

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