Estudantes do Amazonas são premiadas com pesquisas sobre malária em congresso nacional

Um dos estudos foi feito com pacientes com malária por Plasmodium Vivax com resistência a Cloroquina, medicamento usado no tratamento da doença

Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), duas bolsistas sendo uma de graduação e outra de mestrado foram premiadas entre os melhores trabalhos de pesquisas apresentados durante o 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (MedTrop), em Recife, no início do mês de setembro.

O estudo foi feito com pacientes com malária por Plasmodium Vivax em tratamento com a Cloroquina, medicamento usado o tratamento da doença.

Mestranda em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Laila Rowena Albuquerque Barbosa, conseguiu a 1ª colocação na categoria mestrado com base em uma pesquisa científica que tem como objetivo investigar e identificar amostras de sangue de pacientes com resistência in vivo ao medicamento Cloroquina, utilizada amplamente no Brasil, para o tratamento da Malária causada por Plasmodium Vivax.

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O estudo foi feito com pacientes com malária por Plasmodium Vivax em tratamento com a Cloroquina, medicamento usado o tratamento da doença

As pesquisas foram desenvolvidas no laboratório do Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema instalado dentro das dependências da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) que é referência no tratamento de doenças tropicais no Estado.

Laila explica que durante a investigação foram avaliadas 312 amostras de sangue. Desse total, 29 foram diagnosticadas com resistência ao medicamento, ou seja, os pacientes não responderam ao tratamento mesmo fazendo o uso correto da medicação e seguindo a prescrição médica recomendável.

Segundo a mestranda, para a pesquisa foi utilizado o teste padrão de diagnóstico gota espessa, tradicionalmente, usado para identificar pessoas acometidas com a doença. O método qPCR18S, que é um teste molecular usado em laboratórios de pesquisas do mundo todo com objetivo de diagnóstico. Além da  qPCR PvMtCOX1, que  é um teste molecular  ultrassensível com objetivo de identificar as parasitemias em níveis muito baixos no organismo.

Segundo Laila, os métodos serviram para detectar o quantitativo de parasitos (parasitemias) circulante na corrente sanguínea mesmo em uma referência (quantidade) muita baixa em que não é possível diagnosticar nos exames laboratoriais mais simples.

“Quando é detectada essa resistência do parasito através de exames laboratoriais o que deve ser feito inicialmente é a troca da Cloroquina pela Artemizinina que é a droga de segunda escolha para retratar a doença, e em seguida acompanhar o paciente por mais tempo e verificar se ele alcança a cura”, destacou Laila.

A pesquisadora ressalta a que a realização do tratamento clínico completo e correto é muito importante, uma vez que malária vivax é tratada com combinação de dois medicamentos com sítios de ação diferentes.

“Estudos em andamento tentam ainda elucidar exatamente os mecanismos pelo qual o parasito consegue burlar o movimento de cloroquina através da membrana do seu compartimento digestivo, não atingindo seu local de ação. Alguns estudos citam mutações genéticas nessa membrana e em proteínas transportadoras”, disse Laila.

Substâncias  

Bolsista do Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC) da Fapeam, pelo Instituto Leônidas e Maria Deane – Fiocruz Amazônia, Macejane Souza, recebeu a 3ª colocação na categoria graduação.  A base do estudo científico foi por meio de testes com substâncias capazes de inibir o ciclo de desenvolvimento sanguíneo do parasito de Malária Vivax.

A pesquisa analisou seis substâncias ex-vivo inibidoras de proteínas (LTD – 13; LTD -18; LTD – 19; LTD – 33; LTD – 35 e Epirrubicina) que foram triadas e enviadas por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo.

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Seis substâncias ex-vivo inibidoras de proteínas (LTD – 13; LTD -18; LTD – 19; LTD – 33; LTD – 35 e Epirrubicina) que foram triadas e enviadas para análise

Graduanda do curso de Farmáciapelo Centro Universitário do Norte (Uninorte), Macejane explica que foram coletadas na FMT-HVD cerca de 50 amostras de sangue de pacientes diagnosticados com Malária Vivax. Desse número, 13 amostras foram viáveis para realizar o cultivo do material que deu origem ao desenvolvimento da pesquisa.

“Para esse cultivo, nós precisávamos de amostras de sangue com pelo menos 50% de parasitos na fase jovem (forma em anel), por esse motivo só conseguimos analisar 13 amostras que estavam dentro das condições viáveis para o cultivo e, consequentemente, para a realização dos testes”, conta a estudante.

Após serem coletadas, as amostras passaram por um processamento laboratorial para a preparação das análises para o cultivo. As amostras de sangue foram colocadas em placas de 96 poços utilizadas para pesquisa analítica e de diagnóstico clínico de material biológico (celular). Em seguida foram feitas a inoculação das substâncias, a serem testadas, junto às amostras de sangue. Esse cultivo foi incubado por até 48horas a uma temperatura de 37°C. A manipulação foi feita para testar se esses compostos tinham ou não ação no amadurecimento, ou seja, no desenvolvimento do parasito.

Após esse período de observação foi feita a análise clínica dessas amostras (gota espessa) para a contagem em microscopia óptica, e assim poder verificar a quantidade de parasitos na forma de esquizontes, que é considerada fase mais madura do parasito, tinha se desenvolvido no cultivo das amostras analisadas. Os pesquisadores queriam observar como as ações das substâncias testadas podiam inibir o amadurecimento do parasito da fase mais jovem (forma de anel) até a fase mais madura (forma de esquizontes), no processo de multiplicação na corrente sanguínea.

“Quanto maior a quantidade de esquizontes em 200 parasitos presentes nos poços das placas onde foram feitos os cultivos com as substâncias inibidoras, em comparação com o grupo controle sem a substância, menos ativa é a substância”, destacou Macejane.

Para analisar a eficácia da ação das substâncias foi selecionado em paralelo a esses testes um grupo controle também de cultivo de parasitos, para que os testes fossem comparados com esse grupo em que os testes foram feitos sem a substância.

“O que nós observamos é que aparentemente essas substâncias são ativas e tem ação inibidora no amadurecimento do parasito”, destacou Macejane.

Segundo a bolsista de iniciação científica, foram analisadas várias concentrações das substâncias com o objetivo de saber a partir de que concentração determinada substância era ativa, e se tinha ação contra o amadurecimento do parasito.

“Os resultados foram muito promissores. As substâncias parecem ser muito ativas na inibição desse amadurecimento”, informou.

Outra observação verificada durante os testes com as amostras de sangue (gota espessa) é que as substâncias parecem ser muito pouco tóxicas.

“Calculado o índice de seletividade dessas substâncias, mostra que parecem ser muito pouco tóxicas. Esse dado nos mostra que parecem ter atividade frente ao parasito mas sem atingir a viabilidade da célula. Isso foi observado nos resultados obtidos,” disse a estudante.

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Macejane Souza, graduanda do curso de Farmácia

Macejane destaca que esses testes ainda são com base em dados preliminares e ainda passíveis de mais estudos inclusive estudos in vivo, ou seja, no próprio vetor do mosquito Anopheles fêmea transmissor da doença.

“Quanto maior a quantidade de amostras para analisar é melhor e mais confiável é o nosso resultado”, informou Macejane

O projeto teve inicio em agosto de 2017 e é vinculado ao Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) em parceria com a FMT-HVD.

Departamento de Difusão do Conhecimento- Decon

FONTE: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam)

 

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