Projeto Bem Diverso, realizado em parceria pela Embrapa e PNUD, também ajudará a cumprir metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Cientistas e povos tradicionais estão reunidos em Brasília de 05 a 07 de dezembro para trocar conhecimentos e compartilhar experiências e informações relacionadas a um mesmo objetivo: conservar a biodiversidade com o uso sustentável de espécies da Amazônia, Caatinga e Cerrado. Essa é a ideia central do Projeto Bem Diverso, uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), financiado com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF).
“Não há mais espaço para a ciência atuar sozinha. É preciso agregar o conhecimento científico ao tradicional”, afirma o líder do projeto, Aldicir Scariot, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Para Aldicir, o uso sustentável da biodiversidade só pode ser feito se forem respeitados e valorizados os meios de vida das populações tradicionais que vivem nos seis territórios de atuação do projeto, espalhados pelos recantos mais carentes de desenvolvimento do País: o Alto Rio Pardo (MG), o sertão do São Francisco (PE e BA), Sobral (CE), o Médio Mearim (MA), o Marajó (PA) e o Alto Acre (AC). “Afinal de contas, são eles os verdadeiros guardiões da biodiversidade”, diz Scariot.
E é de mãos dadas com essas populações que o projeto tem caminhado desde março de 2016, desenvolvendo atividades técnicas e capacitações em manejo sustentável, ações de restauração, levantamento de espécies, pesquisas socioeconômicas, estudos de tecnologia, cadeia de valor e mercado entre outras ações que um dia poderão ser transformadas em políticas públicas para melhorar a condição de vida das gerações futuras e garantir que as florestas continuem em pé.
“O projeto está fortemente alinhado aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas”, lembrou Rose Diegues, oficial de programa da unidade de desenvolvimento sustentável do PNUD Brasil. Trata-se de uma agenda proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) que, se cumprida, poderá transformar o mundo para melhor até 2030.
“Há 12 unidades da Embrapa envolvidas neste grande projeto, que considero uma oportunidade única para envolver públicos, integrar experiências e levar inovação ao campo”, afirmou a pesquisadora Soraya Barrios, representante da Diretoria de Transferência de Tecnologia da Embrapa na abertura do Encontro Anual do Projeto Bem Diverso.
O que a gastronomia pode fazer para a biodiversidade
O jornalista, ambientalista e chef de cozinha Renato Smeraldi fez a palestra de abertura do evento. Autor de ensaios e livros sobre desenvolvimento, sustentabilidade, políticas públicas, Amazônia, florestas, viagem e gastronomia, Smeraldi compartilhou as experiências do Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade, do Instituto Atá (do famoso chef Alex Atala). Ele falou de temas como a inserção e valorização de produtos da biodiversidade brasileira pelo mercado.
“É preciso ter capacidade instalada nos territórios de onde são extraídos os produtos, como laboratórios que garantam questões sanitárias e a própria qualidade do produto”, disse.
Além de melhorar a infraestrutura dos locais de coleta, Smeraldi ressaltou a importância da formação periódica de pessoas para a criação e o desenvolvimento de produtos, da necessidade de serem ofertados mais espaços para o empreendedorismo e coworking e da socialização como forma de proteção do conhecimento tradicional. “Na hora em que a sociedade se apropria dos saberes, eles passam a ser reconhecidos e a ter autoria”, disse. “A própria marca é um exercício de reconhecimento coletivo”, concluiu.
Que o diga Luís Carrazza, diretor e fundador da Central do Cerrado, uma central de cooperativas que reúne 21 empreendimentos e comercializa mais de 220 produtos e artesanatos da biodiversidade do Cerrado. “O problema não é que falta mercado, mas que a produção e o mercado não se encontram”, disse Carrazza.
Em Juazeiro, na Bahia, parte desse problema já foi resolvido com a construção do Armazém da Agricultura Familiar, que vende os produtos da Central da Caatinga, fundada no ano passado. Talvez o único lugar do mundo onde se pode saborear uma autêntica “Cerveja de Umbú”.
E as mulheres, onde ficam?
Dados levantados pelo projeto Bem Diverso mostram que boa parte das atividades agroextrativistas no Brasil é realizada por mulheres. Sejam indígenas, quilombolas ou geraizeiras, a história e a experiência delas na luta por autonomia no campo ajudam na construção do conhecimento almejado pelo projeto. “As mulheres ainda têm participação na economia 70% menor que os homens”, contou Ismália Afonso, que atua no Programa Gênero e Etnia do PNUD.
Mas o Bem Diverso quer mudar essa realidade e, por isso, estimula o protagonismo feminino por meio da capacitação e do empoderamento das mulheres.
“O que as mulheres precisam? De acesso ao crédito e ao mercado? Precisamos estar atentas às necessidades delas”, lembrou a pesquisadora da Embrapa Amapá Ana Margarida Euler.
A jovem Joaquina Malheiros, representante da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas, em Gurupá – PA (ATAIC) e do Grupo Mulheres em Ação, já sabe que se organizar e compartilhar conhecimentos com outras comunidades pode ser um dos caminhos para o empoderamento feminino.
O projeto Manejo Comunitário de Camarão de Água Doce, por exemplo, venceu o Prêmio FINEP Inovação em 2011 na categoria Tecnologia Social. “Somos extrativistas de açaí, coletoras de sementes, mulheres, mães, amazônicas e nortistas. Não temos nem internet, mas até as redes de televisão de outros países já vieram nos entrevistar”. Aos poucos, o mundo vai conhecendo e se encantando com o poder dessas mulheres.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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Telefone: (61) 3448-4769
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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