Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência
Marinha Reage Contra Brizola
A cobertura dada ao deputado Leonel Brizola pelo almirante Cândido Aragão, que culminou com a prisão, em Belo Horizonte, de quatro fuzileiros navais armados de metralhadoras, provocou nova crise na Marinha. Almirantes e Oficiais superiores estão dispostos a exigir do ministro Sílvio Mota ([1]) [e esta do presidente da República] a exoneração de Aragão. (Tribuna da Imprensa n° 4.286)
Continuando engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 4.286, Rio, RJ
Quinta-feira, 27.02.1964
Justino Condena Ação Comunista: Manifesto
O General Justino Alves Bastos, candidato à Presidência do Clube Militar, na chapa “Ordem e Progresso”, deverá divulgar, nas próximas horas, manifesto condenando a infiltração comunista no Clube Militar e conclamando as Forças Armadas a se unirem em defesa do regime. Ao mesmo tempo, vários oficiais, tanto ligados à chapa “Ordem e Progresso” como à “Cruzada Democrática”, que é encabeçada pelo general Muniz de Aragão, preparam-se para interpelar judicialmente o marechal Augusto Magessi, candidato à reeleição, exigindo seu imediato afastamento da presidência do Clube.
Interpelação
No momento em que aquelas duas chapas se unem para combater o marechal Magessi, por considerarem que sua candidatura é “divisionista” os Generais Silvestre Travassos e Emanuel de Almeida Morais, em reunião realizada ontem, interpelaram o atual presidente do Clube sobre a infiltração comunista em sua chapa. O marechal Magessi contestou a acusação, afirmando que “tudo não passa de intriga” aos componentes da “Cruzada Democrática”.
Na Justiça
Por outro lado, para obter judicialmente o afastamento imediato do marechal Magessi da presidência do Clube, a oficialidade da “Cruzada” e da “Ordem e Progresso” pretende invocar o artigo 58 do Regulamento do Voto Secreto, que o impede, no exercício do cargo, de ser candidato à reeleição. Esses Oficiais acusam o marechal Magessi de manipular as verbas do Clube em termos eleitorais e de usar a franquia postal para expedir boletins da campanha.
Justino
O General Justino Bastos, que foi chamado às pressas ao Recife, para reassumir o comando do IV Exército, por motivo dos últimos acontecimentos políticos, agravados pela greve dos lavradores de cana de açúcar, já está preparando, segundo elementos ligados à sua chapa, o manifesto condenando a infiltração comunista no Clube, o qual vem engrossar a campanha contra a reeleição do marechal Magessi. Antes de viajar, o general Justino pretende promover os últimos entendimentos para a organização de sua chapa.
Pregação de Brizola Reabre Crise Militar
Os acontecimentos provocados em Belo Horizonte pela insistência do sr. Leonel Brizola de realizar o anunciado comício da Frente de Mobilização Popular, em consequência do qual foram feridas mais de 40 pessoas, reacenderam a crise latente na Marinha, onde voltaram a levantar-se as vozes de protesto contra o envolvimento da corporação nas jogadas revolucionárias do cunhado do presidente. Também em Brasília foram grandes as repercussões do episódio, tendo líderes parlamentares de diversas correntes tratado do assunto, na Câmara e no Senado, a maioria para condenar o que chamam ação subversiva do sr. Leonel Brizola.
# Militares Levantam-se Contra Envolvimento da Armada #
Crise na Armada
Ainda sob o calor dos acontecimentos, em reuniões realizadas por todo o dia de ontem, no Rio, Almirantes e Oficiais Superiores mostraram-se dispostos a ir ao ministro da Marinha, nas próximas horas, a fim de exigir a saída do almirante Cândido Aragão do comando do Corpo de Fuzileiros Navais. Porta-voz do Almirante Sílvio Mota admitiu a possibilidade de ceder o ministro a essa pressão, pedindo a demissão de Aragão sem demora, a fim de aproveitar o momento político em que o presidente da República procura esvaziar o sr. Leonel Brizola e o instante psicológico criado pela prisão, em Belo Horizonte, de fuzileiros navais servindo como guarda-costas do deputado.
Dispositivo Perigoso
Os oficiais superiores que se opõem à permanência do almirante Aragão naquele comando veem com crescente inquietação seu trabalho junto às bases e aos escalões que lhe estão subordinados. Consideram que Aragão está levando a cabo, de maneira paciente e sistemática, a instalação de um dispositivo revolucionário na Marinha. Seria esse o principal dos argumentos para convencer tanto o Almirante Sílvio Mota quanto ao presidente João Goulart da necessidade de se mudar imediatamente o Comandante dos Fuzileiros, pois o governo deverá observar o risco que, adviria da continuação do atual esquema, com o comando de uma das tropas mais ágeis e melhor equipadas nas mãos do deputado Leonel Brizola, que faz tudo para arruinar os esforços de conciliação do presidente da República.
Mesmo que esse esquema não venha a servir para uma aventura mais perigosa, e ainda na linha da argumentação que os Almirantes pretendem apresentar ao Ministro da Marinha, não convém ao governo a continuidade de uma situação que possibilita incidentes como o de Belo Horizonte, quando elementos das Forças Armadas foram presos pela polícia de um Estado, portando armas pesadas e pondo em dúvida os propósitos do governo federal de manter o princípio da autoridade e do direito, conforme tem proclamado sucessivamente o presidente João Goulart.
Posto-Chave
Esperam os Oficiais Superiores da Marinha, entre os quais se incluem representantes de tendências que vão da oposição moderada à mais radical, encontrar com esse raciocínio um denominador comum que permita o diálogo com o governo, quanto ao afastamento do atual comandante dos Fuzileiros. O Governo ver-se-ia livre de um homem que, por suas ligações com o extremismo de esquerda representado por Brizola, pode causar e causa embaraços aos esforços conciliatórios do presidente. E os militares de tendência conservadora passariam a sentir-se mais confiantes de que aquela corporação não serviria de instrumento para uma aventura contra o regime.
# Na Câmara Federal #
Nada menos que seis deputados ocuparam a tribuna da Câmara para tratar dos acontecimentos de Belo Horizonte. Apenas um deles, o sr. Fernando Santana, tomou posição favorável ao sr. Brizola, investindo contra os que se dispuseram a evitar o comício. O sr. Fernando Santana, que foi, aliás, o primeiro a abordar o problema, defendeu seus colegas da Frente de Mobilização Popular, afirmando, a certa altura, que “um clima de ódio e terror instalou-se na capital mineira em torno de um ato público”. E ameaçou:
Nos também dispomos de elementos, em qualquer parte deste País, para impedir qualquer manifestação daqueles que, no campo político, se opõem à nossa orientação.
A resposta ao sr. Fernando Santana foi dada pelo udenista mineiro Elias do Carmo, que acentuou:
Queremos declarar, de bom som, que se esse clima de intranquilidade e de terror ideológico está sendo implantado, nós o devemos àqueles que como o sr. Leonel Brizola, vão afrontar o povo, levando armas de guerra para mostrar que nós, mineiros, dentro de nossa terra, não temos o direito de defender o regime democrático.
A Mentira Nacional
O orador seguinte foi o líder da Minoria, sr. Pedro Aleixo, também mineiro, que apontou a “campanha das reformas de base”, que foi o pretexto para o comício, como “a instauração do reino dos mentirosos no Brasil”. O sr. Pedro Aleixo condenou, também, o envolvimento do Corpo de Fuzileiros Navais nas pregações do sr. Brizola. E afirmou:
A intenção era de que fossem disparados alguns tiros naquela terra, para que, ao eco dos estampidos, pudesse o Brasil supor que Minas se havia curvado à mentira nacional que é a pregação das reformas de base.
Concluindo, disse que “não foi um comício que se impediu e sim um vexame para o povo mineiro”.
O Terror do Povo
Depois disso falou o pessedista, também mineiro, Último de Carvalho, que criticou especialmente “a condução de armas de guerra por parte dos acompanhantes do sr. Leonel Brizola”, salientando:
Mas isto ainda não é tudo de grave, porque as metralhadoras estão espalhadas por todo lado neste País, nas mãos dos comunistas e de muitos homens de esquerda. O mais grave é que a Polícia do Governador Magalhães Pinto, mesmo depois da apreensão destas armas, fê-las desaparecer e não prendeu os que as portavam.
O sr. Último de Carvalho aludiu, também, ao fato de que, não encontrando quem o quisesse conduzir, o sr. Leonel Brizola e seus comparsas sacaram de revólveres e intimaram um motorista a parar, obrigando-o a levá-los para o aeroporto, de onde fugiram para o Rio. “O terror do povo os impelia”, concluiu.
Reação ao Ultraje
O sr. Teófilo Pires, do PR mineiro, também condenou a ação do sr. Brizola, acrescentando:
Os acontecimentos que se desenrolaram na capital mineira não são senão a medida da reação de Minas Gerais ao ultraje que tentaram fazer-lhe. É exatamente neste sentido que os mineiros se rebelam, revoltam-se e manifestam-se, como já o haviam feito há um mês, contra o congresso comunista da CUTAL.
Finalmente, o udenista mineiro Oscar Correia declarou:
O que se tentou fazer em Minas foi a pregação da subversão da ordem, a pregação da revolução na marra, como diziam os próprios cartazes que para ali levaram os partidários das ideias dos organizadores do comício. Mas o povo soube repelir os agitadores à altura.
Virgílio Defende
No Senado, o sr. Artur Virgílio, líder do PTB, fez a defesa do sr. Leonel Brizola, atribuindo ao IBAD toda a culpa pelos acontecimentos. Afirmou:
Um fato como este, que abre uma cisão no diálogo democrático, poderá fazer com que a sua repetição em outros Estados leve o tumulto e a confusão à campanha eleitoral que se aproxima.
O parlamentar petebista fez o elogio do sr. Magalhães Pinto, cuja conduta, permitindo a realização do comício, “foi altamente democrática”, no seu entender.
Brizola Esbraveja
Em meio a tudo isso, o sr. Leonel Brizola deu ontem a público uma nota em que diz que o comício foi realizado, apesar de:
Um dispositivo policial anárquico e hostil, e grupos de uns trezentos provocadores, protegidos estrategicamente pela própria Polícia.
Refere-se à:
Falta de idoneidade política das autoridades responsáveis pela ordem pública em Minas Gerais, a serviço da minoria de privilegiada que domina e explora o nosso povo.
E diz que o Governador Magalhães Pinto:
Se não está envolvido na situação, não tem mais o controle do seu próprio Governo.
Hiram Reis e Silva, Bagé, 31.01.2025, um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
– Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
Link: Currículo do Canoeiro Hiram Reis e Silva
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
- Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
- Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
- E-mail: [email protected]
[1] Sílvio Borges de Sousa Mota (Y 11.02.1902, Rio de Janeiro, RJ / V 03.02.1969, Rio de Janeiro, RJ). Foi ministro da Marinha do Brasil no Governo João Goulart, de 15.06.1963 a 27.03.1964.
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor
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