A seca histórica de 2024 na Amazônia impactou comunidades ribeirinhas e indígenas na região do Alto Solimões. A estiagem prolongada, pelo segundo ano consecutivo, secou rios e igarapés, dificultando a pesca, o transporte e o acesso à água potável. Comunidades enfrentaram escassez de alimentos e comprometendo o acesso a serviços de saúde. A falta de piracema afetou a segurança alimentar do povo Tikuna, enquanto pescadores tiveram o manejo do pirarucu atrasado, comprometendo sua renda. A chegada da La Niña frustrou as expectativas com a previsão de um fenômeno enfraquecido. A história de desassistência do poder público se repete, novamente, como tragédia.

Saneamento básico é precário na Terra Indígena Umariaçu 1, em Tabatinga (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

Tabatinga (AM) – Há cinco anos, a piracema deixou de acontecer no igarapé Mariwatchu. O ciclo de reprodução dos peixes, que antes movimentava as águas e alimentava a comunidade da Terra Indígena (TI) Tukuna Umariaçu, do povo Tikuna, foi interrompido pela seca que transformou o curso d’água em uma paisagem árida. Onde antes havia peixes pulando e crianças brincando na beira do rio, o que se viu nos últimos meses foram apenas areia e troncos expostos ao Sol. O silêncio do igarapé seco revela o desespero de quem depende dele para viver.

“Sabíamos o período que a piracema chegava e agora não tem. Primeiro chegavam os miúdos e depois os graúdos, e a gente já sabia a hora de chegada do peixe”, afirma o agricultor e pescador pertencente ao povo Tikuna, Ezequiel Pereira da Conceição, de 59 anos.

Para o 1° cacique da aldeia Umariaçu, Ezequiel Pinto Araújo, de 50 anos, a mudança não é apenas uma questão ambiental, mas um golpe na alma do povo. “É uma tristeza para mim ver o igarapé assim porque fico pensando que não sei o que que está acontecendo aqui na nossa comunidade.” A escassez do pescado significa fome, a falta de água ameaça a saúde e a terra seca afasta a esperança de tempos melhores.

A ausência da piracema é apenas um dos muitos sinais de alerta em um território ameaçado pelo avanço do desmatamento e pelas mudanças climáticas. Os moradores tentam resistir, cultivando o pouco que a terra ainda oferece e buscando alternativas para sobreviver, mas a luta é desigual.

Neste início de ano de incertezas climáticas, a agência Amazônia Real partiu para Tabatinga, cidade localizada na tríplice fronteira do Brasil, Colômbia e Peru. Ela fica à margem do rio Solimões, que nasce no Peru, onde tem o nome de Marañón. As águas do manancial alimentam vários afluentes brasileiros como o Javari, Purus, Iça e Japurá, percorrer 1.700 quilômetros até Manaus, se encontrar com o rio Negro, e a partir da capital amazonense se chamar rio Amazonas. É nessa imensidão do Alto Solimões que se vê um cenário nunca visto nos últimos dois anos. As águas do igarapé da TI Tukuna Umariaçu subiram tímidas e lentamente.

Rio Solimões ainda com alguns bancos de areia em janeiro de 2025 (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real).

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FONTE: La Niña fraca no Alto Solimões – Amazônia Real

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