Qualquer Semelhança não é Mera Coincidência
Continuando engarupado na memória:
Tribuna da Imprensa n° 3.196, Rio, RJ
Sábado e Domingo, 09 e 10.11.1963
Jair Persegue Oficiais
(Hélio Fernandes)
Rigorosamente verdadeiro: Conforme anunciei a semana passada, os Coronéis Aragão e Boaventura, comandantes de unidades no Núcleo de Paraquedistas, e que se recusaram cumprir a “gloriosa missão” de prender e exterminar o Governador Carlos Lacerda, foram chamados ao Gabinete do ministro da Guerra.
Agora, posso noticiar o que houve: os dois oficiais foram convidados, não sei ainda por quem, mas alguém credenciado por Jair Dantas Ribeiro, a escolher “generosamente”, o lugar onde desejariam servir, em quaisquer unidades do Exército no território nacional, contanto que saíssem, sem onda, do Núcleo de Paraquedistas.
Os dois oficiais pensaram no caso e resolveram dizer por escrito, a quem de direito, onde desejariam servir. Escolheram e escreveram, que desejam continuar servindo na mesma unidade, isto é, permanecer no Núcleo de Paraquedistas. A decisão dos dois oficiais causou a maior sensação, não só na unidade, mas, também, no Ministério da Guerra.
É claro que a atitude dos dois comandantes deve ter irritado profundamente o ministro, que, a esta altura, já deve estar escolhendo, “cuidadosamente”, um “bom lugar” para ambos. Acontece, porém, que, e isto posso assegurar com absoluta segurança ao sr. ministro da Guerra como uma informação em primeira mão, a maioria dos oficiais que ali servem, também em sinal de solidariedade e como protesto pelo fato de terem transformado uma unidade de elite em bando armado de sicários, vai pedir transferência para qualquer lugar, em massa. Isso no caso de Aragão e Boaventura serem transferidos como punição.
Tal fato diz bem da irritação e indignação de que estão possuídos os oficiais paraquedistas contra a “nova ordem”. É sabido que, com esta atitude, ao serem transferidos para outras unidades, perderão uma parte substancial de seus vencimentos, os paraquedistas, ganham bem mais que os outros oficiais, nestes tempos de amargura em que para manter filhos em colégio, com os salários que ganham, torna-se uma verdadeira mágica.
Rigorosamente verdadeiro: Já começou perseguição do ministro aos oficiais democratas paraquedistas que se recusaram a cumprir a missão CL. O Major Carlos Eugênio Monção, que se manifestou contra a indigna operação, foi transferido para uma pequena unidade do Exército em Nioaque, Mato Grosso. Terá que embarcar imediatamente, pois nem o trânsito de 30 dias assegurado por lei, poderá gozar. Jair reduziu os trinta dias de trânsito para apenas 5. […]
Pergunta ao Alto Comando do Exército em meu nome pessoal e tenho certeza de que em nome da maioria esmagadora da família brasileira:
Até quando vão permitir este estado de coisas?
Já não são mais que suficientes as provas de que o comunismo já se apossou das cúpulas administrativas do Governo? De que já ocupa a maioria dos comandos estratégicos do Exército através de comunistas declarados, de teleguiados ou de oportunistas e carreiristas? O que estão esperando? Que corra o sangue de inocentes para então tentarem tomar uma providência?
O Major Monção, transferido para Mato Grosso como castigo é um herói da Forca Expedicionária Brasileira. Foi ferido por duas vezes em combate e é possuidor da Cruz de Combate de 1ª Classe por atos incomuns de bravura frente ao inimigo. Agora, por saber enfrentar com altivez e dignidade sicários dentro do próprio Exército, é transferido para uma guarnição longínqua. Evidentemente que há, em marcha um plano de desmoralização do Exército e dos seus melhores oficiais.
Tribuna da Imprensa n° 3.198, Rio, RJ
Terça-feira, 12.11.1963
Oficiais Requerem Expulsão
A maioria dos associados do Clube dos Oficiais Paraquedistas já assinou um requerimento no qual pedem a expulsão do quadro social, do ten ce. Abelardo de Alvarenga Mafra, o principal oficial implicado na tentativa de sequestro do Governador Carlos Lacerda na madrugada de 4 de outubro último. Afirmam os signatários do documento, que o coronel Mafra foi o comandante do destacamento, composto de majores da intendência e de soldados da engenharia que e deslocou na manhã daquele dia para área do Hospital Miguel Couto com a missão de prender o Governador da Guanabara. Asseguram que sua atitude visa a repudiar o comportamento do coronel Mafra: “que aproveitando-se de sua autoridade funcional”, comprometeu, segundo o documento “de maneira tão revoltante a dignidade da tropa Aeroterrestre perante a Nação com um gesto inteiramente contrário ao espírito de seus subordinados”.
Argumento
Para acionar o esquema de substituições, alega o sr. Jurema que muitos dos atuais delegados dos institutos, embora exerçam cargo de absoluta confiança do presidente da República, na qualidade de delegados dos delegados do presidente, que no caso são os ministros de Estado e presidentes de autarquias, ali estão, esquecidos, exercendo papel de completa oposição e muitas vezes até assinando artigos contra o governo federal.
Apoio Total
A substituição dos delegados dos Ministérios e das autarquias de Previdência Social, planejada pelo sr. Abelardo Jurema, embora à primeira vista tenha apenas um caráter de arrumação do governo de modo a produzir o aprimoramento da máquina administrativa, tem, em última análise, um fim político de muito maior alcance. Sabido que na maioria dos casos os delegados representam indicações feitas por deputados e senadores e, em último caso, por chefes políticos locais, quer o ministro da Justiça armar um esquema que garanta ao presidente, agora e de futuro, ampla cobertura nas duas Casas do Congresso.
O plano e este: se determinado deputado que indicou um delegado deixar de votar com o governo, imediatamente procede-se à substituição do delegado por ele indicado. Para deputados e senadores que em consequência da estrutura arcaica da política brasileira são obrigadas a agir em função de interesses locais, a alteração de um esquema montado representará um prejuízo incalculável.
Com essa fórmula, trazida ontem do Nordeste pelo sr. Jurema, espera o presidente, na base dos cálculos feitos pelo Ministro da Justiça, conseguir dentro em breve não só a votação da reforma agrária como da própria emenda Constitucional.
Hiram Reis e Silva, Bagé, 27.12.2024, um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.
– Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;
- Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989);
- Ex-Vice-Presidente da Federação de Canoagem de Mato Grosso do Sul;
- Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
- Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
- Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
- Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS);
- Ex-Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
- Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
- Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
- Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO);
- Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
- Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS);
- Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG);
- Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN);
- Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (IHGTAP)
- E-mail: [email protected]
FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor
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