A flor das cinzas – parte I

A flor das cinzas

Foto – Marquelino Santana.

No útero da terra mãe, uma semente germina como que implorando para nascer e transformar-se numa vida feliz capaz de honrar e descansar no fulgente colo da verde mata em estesia.

Soprando a copa dos vegetais, o vento manso percebe que o rebento cresceu e desenvolveu-se de forma harmônica e aprazível, entrelaçando as suas vivificantes raízes nas veias abertas de cores líquidas que correm concatenadas, banhando o corpo da Mãe-d’água e lavando a alma dos briosos e benevolentes povos da floresta.

Mas a exacerbada estúrdia da consciência humana em derrocada – desprovida de tolerância e benignidade – provoca de maneira fútil e execrada, a morte do imensurável e inefável habitat natural amazônico. As veias secam, o lugar esmaece, o chão esturrica e a vida é violentamente extirpada diante da imprecação horripilante do ecocídio planetário em agonia.

A imensurável florestania do homem com a terra é odiosamente ceifada e impiedosamente condenada ao malogro pela incúria estatal vigente e por uma sociedade envolvente reacionária e espoliadora da dadivosa e complacente terra mãe.

Na clarividente abominação e aversão de uma conjuntura nacional e internacional que privilegia o poder do capital e fortalece os estados beligerantes, é possível acreditarmos que da catástrofe ambiental e do flagelo humano ainda possa surgir uma flor das cinzas.

Por: Marquelino Santana

FONTE: Correio Eletrônico (e-mail) recebido do autor

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1 Comentário

  1. José Pereira dos Santos

    Sempre surpreendo com belos textos que pela relevância nos faz refletir, trouxe um fio de esperança – uma “flor das cinzas” Parabéns.

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