Látex vira artesanato inspirado na fauna na Resex Alto Tarauacá

Seiva da seringueira toma a forma de animais silvestres pelas mãos de extrativistas, e se torna alternativa de renda para as famílias da unidade de conservação

Coleção de artesanato inspirado na fauna – Foto: Dayane Almeida e Railton Nobre/ NGI Alto Tarauacá

Passados muitos anos desde que a extração do látex era tida como a principal atividade econômica na região sudoeste da Amazônia brasileira, a coleta e o processamento dessa seiva têm ganhado novas aplicações por algumas comunidades tradicionais residentes em unidades de conservação no estado do Acre, como na Reserva Extrativista do Alto Tarauacá.  

Moradores da Resex, principalmente jovens, participaram durante cinco dias de uma troca de conhecimentos com moradores da Resex Cazumbá-Iracema, em 2023, a respeito da produção de artesanato a partir do látex da seringueira, ministrado pelos Srs. Jilberto e Daiam daquela UC. “O resultado do projeto e da parceria entre Unidades de Conservação foi fantástico e com ótimas produções”, conta Mariléia de Araújo da Silva, chefe do NGI ICMBio Alto Tarauacá – Santa Rosa do Purus. 

A atividade foi resultado da execução do Projeto “Troca de saberes para confecção e artesanato e subprodutos do látex obtido a partir de seringueiras (Hevea brasiliensis) na Reserva Extrativista do Alto Tarauacá”, no âmbito da Gestão Socioambiental (CGSAM) e coordenado pelo Técnico Ambiental Rafael Soares.  

Os conhecimentos adquiridos pelos comunitários resultaram na confecção de artesanato em látex representando vários animais da fauna local como tatus, capivaras, veados, quatipurus, jacarés, jabutis, pequenos roedores, anta-brasileira, catetos ou porquinhos, sapos, dentre outros.  

A iniciativa prevê a confecção do artesanato como uma fonte alternativa de renda local, vista como uma arte bem recebida por turistas e demais visitantes da UC ou da cidade mais próxima, Jordão, que chama à atenção pela representação mais fidedigna possível dos animais presentes na UC. 

Aos interessados na produção e mais informações, convidamos a entrar em contato através do número institucional (91) 98414-2040 do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio Alto Tarauacá – Santa Rosa do Purus.

O uso do látex e os seringueiros 

Muito antes que os europeus chegassem na América, os povos indígenas originários já utilizavam o látex natural extraído da seringueira (Hevea brasiliensis), árvore nativa da bacia amazônica. A história relata que indígenas da América do Sul preparavam o látex para confeccionar bolas e impermeabilizar calçados e tecidos.  

Anos após, com o advento das indústrias do ramo de pneus, mangueiras, produtos médicos, dentre outros, o látex extraído de forma natural foi utilizado para a fabricação desses produtos. Desde a década de 1870, a borracha foi bastante explorada na Amazônia para o comércio exterior, muito incentivada pelo Estado brasileiro através da migração de pessoas vindas principalmente do Nordeste para essa região, que ficaram conhecidos como seringueiros.  

Nos anos 1920, a Malásia passou a dominar a produção e o mercado internacional do produto, a partir do cultivo de seringueiras em sistemas de plantações, por meio de sementes da Hevea brasiliensis levadas da Amazônia por um cidadão inglês em 1875.  

Com a tomada da Malásia pelos japoneses na Segunda Guerra Mundial, teve início o segundo ciclo da borracha no Brasil, quando aproximadamente 150 mil pessoas, a maioria nordestinos, foram arregimentados para a produção de látex para os Aliados, ficando conhecidos como Soldados da Borracha. Ao fim do conflito, o mercado internacional voltou a ser abastecido pelas plantações do sudeste asiático, pondo fim ao ciclo e deixando o contingente enviado à Amazônia no contexto da guerra praticamente abandonado nas colocações.  

Os seringueiros que vieram para o norte do país para extrair borracha entre os séculos XIX e XX, sem chances de retornar para a terra natal, com o declínio do mercado para o látex brasileiro, estabeleceram um modo de vida tradicional baseado na pequena agricultura e extrativismo vegetal, passados de geração em geração, perpetuados até o presente por parte expressiva das populações tradicionais nas Reservas Extrativistas.   

Com informações da Resex Alto Tarauacá – Comunicação ICMBio – Látex vira artesanato inspirado na fauna na Resex Alto Tarauacá — Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (www.gov.br) 

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