Pesquisas sobre florestas tropicais

Novas pesquisas mostram que a recuperação de florestas tropicais compensa apenas um quarto das emissões de carbono de novos desmatamentos e degradação de florestas tropicais

Figura – Estoque de carbono modelado em 2018 em florestas em recuperação (degradadas e secundárias) nas três regiões: (a) Amazonia, (b) Borneo (Bornéu), e (c) África Central. (Fonte: Heinrich et al. (2023). The carbon sink of secondary and degraded humid tropical forests. Nature.)

Um novo estudo pioneiro descobriu que o desmatamento e as florestas perdidas ou degradadas devido a mudanças ambientais, como incêndios e exploração madeireira, estão superando rapidamente as taxas atuais de recuperação florestal. As florestas tropicais são ecossistemas vitais na luta contra emergências climáticas e ecológicas. Este estudo publicado na revista Nature (https://doi.org/10.1038/s41586-022-05679-w) e liderado pela pesquisadora Dra. Viola Heinrich da Universidade de Bristol, na Inglaterra, em cooperação com pesquisadores do INPE, destaca o potencial de armazenamento de carbono e os limites atuais da regeneração florestal para enfrentar essas crises.

Os resultados mostraram que as florestas degradadas que se recuperaram de distúrbios humanos (principalmente fogo e exploração madeireira) e as florestas secundárias que se regeneraram em áreas anteriormente desmatadas removem anualmente pelo menos 107 milhões de toneladas de carbono da atmosfera em todo os trópicos. A equipe de pesquisadores internacionais quantificou as taxas de recuperação de estoques de carbono acima do solo usando dados de satélite nas três maiores florestas tropicais do mundo: Amazônia, África Central e Borneo (Bornéu).

Figura – Acumulação de carbono acima do solo (AGC) modelado pelo tempo após o último distúrbio em diferentes regiões tropicais. (a) florestas degradadas, e (b) florestas secundárias, na Amazônia, África Central e Borneo (Bornéu), regiões de florestas tropicais úmidas. (c) Mapa e porcentagem de áreas recobertas por cada tipo de floresta em cada região. (Fonte: Heinrich et al. (2023). The carbon sink of secondary and degraded humid tropical forests. Nature.)

Embora os resultados demonstrem o importante valor do carbono na conservação das florestas em recuperação em todo o trópico, a quantidade total de carbono absorvido no crescimento dessas florestas foi suficiente apenas para equilibrar cerca de um quarto (26%) das emissões de carbono atuais do desmatamento e da degradação nas florestas tropicais.

A autora principal, Dra. Viola Heinrich, disse: “Nosso estudo fornece as primeiras estimativas pan-tropicais de absorção de carbono acima do solo em florestas tropicais em recuperação de degradação e desmatamento. Embora proteger as florestas tropicais antigas continue sendo a prioridade, demonstramos o valor de gerenciar de forma sustentável áreas florestais que podem se recuperar de perturbações humanas.”. Na comparação entre as florestas da Amazônia, África Central e Borneo na Ásia, foi observado que os distúrbios humanos no Borneo (Bornéu) causaram as maiores emissões de carbono em florestas degradadas, principalmente devido ao corte de madeira. Porém, as florestas no Borneo (Bornéu) também acumulam carbono cerca de 50% mais rápido que nas outras regiões.

O time também identificou que cerca de 1/3 das florestas degradadas por corte de madeira ou fogo foram posteriormente desmatadas, enfatizando a vulnerabilidade da captura de carbono por essas florestas. O co-autor Dr. Luiz Aragão, Chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no Brasil disse: “Focar na proteção e restauração de florestas tropicais secundárias e degradadas é uma solução eficiente para a construção de mecanismos robustos para desenvolvimento sustentável dos países tropicais. Isso agrega valor monetário para os serviços ambientais locais e globais fornecidos por essas florestas, por sua vez, beneficiando as populações locais econômica e socialmente.”

“A colaboração científica entre os times do Reino Unido e Brasil foi fundamental para realização desse estudo”, destaca o co-autor Dr. Ricardo Dalagnol, egresso do INPE e  atualmente pesquisador na Universidade da California Los Angeles (UCLA) e Jet Propulsion Laboratory da NASA (JPL-NASA). Ele complementa: “Temos dificuldade em recursos nas instituições do Brasil, porém ainda temos domínio de conhecimento de nossas florestas e de uso de dados de satélite, que foram fundamentais para esse avanço do conhecimento. Hoje temos uma visão muito mais completa do potencial da regeneração de florestas nos trópicos e como podem ajudar a mitigar mudanças climáticas”.

A Dra. Heinrich – recém doutora pela Universidade de Bristol na Inglaterra – fez um estágio de pesquisa no INPE no grupo de pesquisa TREES entre 2019-2020 para aprimorar seus conhecimentos em técnicas de monitoramento da floresta via satélite com apoio do cientista sênior Luiz Aragão (DIOTG/CGCT/INPE). Nessa interação, contou com a colaboração de vários integrantes do grupo de pesquisa TREES, dentre eles Dr. Ricardo Dalagnol, MSc. Thais Rosan, Dr. Celso Silva-Junior, e Dr. Henrique Cassol, egressos do Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto (PGSER) do INPE para desenvolver as técnicas para quantificação da regeneração de carbono. Num primeiro momento, o time realizou um estudo focado nas florestas secundárias da Amazônia Brasileira que foi publicado na revista Nature Communications em 2021 (https://www.nature.com/articles/s41467-021-22050-1), e que agora expandiu o conhecimento da regeneração das florestas para outras regiões tropicais e incluindo as florestas degradadas – também importantíssimas – nesse novo estudo publicado na revista Nature, que é uma das revistas científicas mais importantes do mundo.

PUBLICADO POR: INPE – Novas pesquisas mostram que a recuperação de florestas tropicais compensa apenas um quarto das emissões de carbono de novos desmatamentos e degradação de florestas tropicais — Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (www.gov.br)