Conferência debate temas prioritários para a Amazônia

A floresta como ativo da bioeconomia, a consolidação de um ambiente de legalidade, a valorização do conhecimento dos povos e comunidades tradicionais e o protagonismo das instituições e cientistas da Amazônia deram o tom do debate na “I Conferência para uma Amazônia que Queremos”, promovida pelo Painel Científico para a Amazônia (SPA, da sigla em inglês), nessa quarta-feira (08), em Belém-PA.

A Conferência reuniu cientistas gestores públicos e representantes da sociedade – Foto: Hilário Jr. – Postada em: EMBRAPA

O evento, que se estende até sexta-feira (10), foi aberto pelo governador do Estado, Helder Barbalho, e contou com a participação do chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos. As discussões reúnem cientistas nacionais e internacionais, gestores públicos estaduais e federais e representantes da sociedade civil organizada e do mercado. “O Pará está disposto a construir e implementar soluções ambiental e socialmente sustentáveis para a Amazônia. Precisamos desfazer a lógica de que gente e floresta são conflitantes”, enfatizou o governador na abertura do evento.

O objetivo da Conferência é debater e levantar temas e ações prioritárias para o planejamento estratégico 2023-2025 do Painel Científico para a Amazônia (SPA). Lançado em 2019, o painel é uma iniciativa de mais de 200 cientistas brasileiros e estrangeiros que alertam para os efeitos irreversíveis do desmatamento, degradação e mudanças climáticas na Amazônia. “É um momento de escuta para a agenda de desenvolvimento sustentável da região com foco em uma bioeconomia florestal para a Amazônia”, afirmou o cientista Carlos Nobre, da Universidade de São Paulo (USP).

Nobre e a cientista boliviana Marielos Peña-Claros, da Universidade de Wageningen (Holanda), co-presidentes do Painel Científico, apresentaram os principais resultados do trabalho e alertaram para os desafios que a proteção do bioma precisa superar, como o desmatamento, degradação florestal, garimpo, extração ilegal de madeira, fogo, entre outros. “É preciso agir agora na busca pela moratória do desmatamento no sul da Amazônia, pelo desmatamento zero em toda a região até 2030, pela conservação e restauração da floresta em larga escala e por uma nova bioeconomia da floresta em pé”, alertaram os cientistas.

Bioeconomia da floresta

No painel de abertura “A Amazônia no Centro do Desenvolvimento Sustentável do Brasil”, moderado pela jornalista Daniela Chiaretti, do Valor Econômico, o governador Helder Barbalho afirmou que o estado precisa trabalhar com uma lógica agregadora entre a produção agropecuária e a conservação da floresta. “O Pará, que já tem o segundo maior rebanho bovino do país, pode intensificar a produção de proteína animal e de grãos sem derrubar uma árvore sequer”, afirmou. Ele citou a importância do trabalho da Embrapa, Emater e universidades na intensificação da produção agrícola no estado.

O chefe do executivo estadual enfatizou ainda que o Pará é o único estado brasileiro a ter um Plano Estadual de Bioeconomia, e reforçou que a capital paraense está pronta para sediar a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30) em 2025. “A bioeconomia movimenta no mercado brasileiro em torno de 170 milhões de reais, porém menos de 1% desse total é relacionado à biodiversidade da Amazônia. Temos que ver isso como uma oportunidade para ocupar esse espaço e tornar a floresta amazônica o principal ativo desse mercado”, declarou Helder.

Protagonismo local

Em sua participação no painel de abertura, Walkymário Lemos, chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, destacou a necessidade do fortalecimento das instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação da Amazônia para que sejam protagonistas das decisões sobre a região. Ele enfatizou o papel da Embrapa na agenda de desenvolvimento sustentável com foco no território e na busca da inclusão de povos e comunidades tradicionais.

“A Embrapa na Amazônia vem trabalhando com o conceito de bioeconomia inclusiva, que foca no resgate e valorização do conhecimento dos povos e comunidades tradicionais”, ressaltou o gestor. Ele cita ainda que na agenda da bioeconomia, a pesquisa gera soluções que vão desde informações científicas para subsidiar políticas públicas até produtos e práticas agroflorestais.

Sobre a produção agropecuária no estado, Walkymário destacou que 60% das áreas já abertas no Pará estão associadas ao pasto e que a Embrapa atua na região com os sistemas integrados de produção, que promovem uma agricultura regenerativa para recuperar Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (Rls). O gestor finalizou dizendo que “as decisões para a Amazônia devem ser tomadas para e com os amazônidas”.

João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA), ressaltou a necessidade de estabelecer um ambiente de legalidade para atrair empresas e investimentos na região, combatendo o avanço predatório sobre a floresta e ainda “recuperar a integridade do Cadastro Ambiental Rural (CAR) como um instrumento de gestão territorial rural”, acrescentou. Ele destacou o papel da ciência como geradora de informação segura para fundamentar políticas públicas.

Participaram também do painel de abertura a secretária nacional de Políticas e Programas Estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Márcia Barbosa; o presidente do Conselho do Instituto Arapyaú, Roberto Waack; e o reitor da Universidade Federal do Pará, Emmanuel Tourinho.

Programação

No dia 08, a programação da Conferência contou ainda com exposição de trabalhos científicos de estudantes paraenses de pós-graduação, o “Painel científico para a Amazônia e a cooperação transfronteiriça” e mesa redonda com o tema “Um diálogo com grupos de interesse da Amazônia”, que teve a participação de pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental, BioTec Amazônia, Instituto Evandro Chagas, The Nature Conservance, Universidade Federal do Pará (UFPA) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), além de secretários de Estado e representantes da iniciativa privada. O evento continua nesta quinta (09) e sexta-feira (10) com as sessões técnicas que reúnem cientistas brasileiros e estrangeiros.

Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental – Conferência debate temas prioritários para a Amazônia – Portal Embrapa