A Terceira Margem – Parte DLV

Jornada Pantaneira

O Canoeiro Hiram Reis e Silva

A Mídia Pretérita e a Expedição
Parte I

Embora a imprensa nacional tenha realizado uma cobertura por demais incipiente da histórica Expe­dição, vale a pena reportar algumas de suas breves notas não só pelo seu intrínseco valor histórico mas, sobretudo, porque elas nos permitem “engarupar na anca da história” e acompanhar, como o fizeram os leitores de outrora, ainda que por breves momentos a saga daquele punhado de heróis.

Correio Mercantil, n° 33
Rio de Janeiro, RJ – Sábado, 02.02.1867
Expedição de Mato Grosso

De uma carta particular, escrita de Miranda em 17 de novembro último, extraímos as seguintes interes­santes notícias:

O Sr. Coronel Carvalho achava-se em Miranda com as Forças sob seu comando. Enviara o mesmo Coro­nel alguns bombeiros, comandados por um Sargento, afim de fazer um reconhecimento à frente. Esses bombeiros, antes de se aproximarem de Corumbá, tinham-se encontrado com uma avançada dos paraguaios, com a qual se bateram, resultando a morte de alguns soldados inimigos e escapando sem perdas os bombeiros.

Passados alguns dias, voltaram estes às proximi­dades de Corumbá, e observaram grande movimento do inimigo.

Referiam eles ter visto um vapor paraguaio rebocando várias lanchas com munições e gêneros.

Estava o Coronel disposto a bater-se em breve; com os paraguaios em Corumbá, e seguir depois para Albuquerque e dali ir finalmente a Coimbra.

Já se achavam perto do acampamento os gêneros alimentícios que estavam depositados nos baús, e que o Major Lins na sua passagem por ali fizera seguir pela estrada que mandou abrir daquela localidade até Camapuã. Para esta estrada, segundo refere a carta, transitam hoje todos os recursos com imensa vantagem, por isso que evitam-se os pântanos do Rio Negro.

O Sr. Coronel Carvalho já havia expedido tropas; afim de receber a poucas léguas de distância os mantimentos transportados por Salviano José Mendes.

Pela estrada de Camapuã, segundo notícias chegadas ao acampamento das Forças, transitavam muitas tropas e carros conduzindo víveres.

Tinha o Coronel Carvalho mandado a Nioaque fazer um reconhecimento pelos índios da tribo Guaicurus, comandados pelo seu Chefe Lapagata. Já ali não encontrara este Chefe os paraguaios.

Constava, porém, que o fazendeiro Barbosa, o qual se achava prisioneiro em poder dos paraguaios, tendo escapado na ocasião em que estes se retiravam, fora morto por Lapagata e os seus, em consequência de antigas inimizades.

De Nioaque tinham os índios teriam seguido para o “Apa”. Em Miranda continuava a grassar a célebre paralisia, que até à última data fizera já 30 vítimas entre a oficialidade que marchara do Coxim. (CM N° 33)

Correio Paulistano, n° 3.217
São Paulo, SP – Sexta-feira, 15.02.1867
Notícias das Forças que Seguiram para Mato Grosso

Da carta de um Cadete do extinto Corpo Fixo de S. Paulo, e datada a 24 de dezembro próximo passado em o acampamento junto a Miranda, extraímos o seguinte trecho:

Aqui neste lugar tudo é ruim, a água é horrível, o calor excessivo, mosquitos uma quantidade extraor­dinária, e assim tudo mais, felizmente a fome já se tem retirado dentre nós, mas a peste não.

Nós aqui estamos nos aprontando para marchar con­tra Corumbá, para lá dar-se um ataque aos vândalos que tão ousada e traiçoeiramente tem invadido as nossas fronteiras, e que ora parecem fugir acelera­damente ao tropel das nossas tropas, por isso que, quando estávamos em Coxim, eles estavam no Rio Negro, e quando para este lugar nos dirigimos eles se retiraram para o Rio Taboco.

Quando nós chegamos no Taboco eles voltaram para Aquidauana e quando chegamos no Aquidauana, eles vieram aqui, nós que para aqui nos dirigimos, eles se retiraram pra Corumbá; se assim for, suponho que muito facilmente conseguiremos entrar em Assunção.

As rondas que se tem mandado lá reconhecer a posição, número e qualidade do inimigo, nos dão a seguinte informação; boa cavalaria e bem montada, boa artilharia de campanha e uma luzida infantaria tudo em número de 3 a 4 mil homens, justamente o número de nossa força aqui, porém com diferença de que a nossa cavalaria não está montada por que não tem cavalos, e eles os tem excelentes, como se vê de alguns que deles se tem escapado para cá.

A pouco aqui se organizou um Batalhão somente de bugres, pois para isso são excelentes, e se tivéssemos material podia-se ainda organizar outros, pois essa gente grosseira e rústica, para isso serve muito. Esta Vila parece ter sido muito bonita, mas hoje nada vale, pois os paraguaios queimaram todas as casas e até a própria igreja. (CP N° 3.217)

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 03.03.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

Bibliografia  

CM N° 33. Expedição de Mato Grosso – Brasil – Rio de Janeiro, RJ – Correio Mercantil, n° 33, 02.02.1867.

CP, N° 3.217. Notícias das Forças que Seguiram para Mato Grosso ‒ Brasil – São Paulo, SP – Correio Paulistano, n° 3.217, 15.02.1867.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

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