Yanomami: crise humanitária no coração da Amazônia

Indígenas sofrem com a fome e com doenças como desnutrição e malária

Foto: Fernando Frazão – Agência Brasil EBC

O caminho até a terra indígena Yanomami começa cedo e é longo. A viagem de Boa Vista até o Pelotão Especial de Fronteira de Surucucu, que fica no meio do território, durou 1h40 em uma aeronave militar. De cima foi possível ver o rio Uraricoera, onde o garimpo no território Yanomami se intensificou, atingindo cinco mil hectares nos últimos quatro anos, segundo pesquisa do Instituto Socioambiental, em parceria com a Hutukara Associação Yanomami.

No Pelotão de Surucucu fica a maior unidade de saúde indígena da região. O posto de saúde tem capacidade para atender 30 pacientes. Hoje tem cerca de 120, segundo liderança indígena local. São, em sua maioria, mulheres e crianças com desnutrição e malária. No pequeno espaço, redes se empilham. No chão batido, fogueiras são usadas para aquecer os doentes. Muitos indígenas não têm forças nem para sair das redes.

Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana, fala sobre o aumento da atividade ilegal do garimpo na região.

“Eu sou daqui e nunca vi uma situação como esta que estamos enfrentando (…) tinha (um pouco de garimpo) no Uraricoera, que é longe daqui. Tinha balsas. Aqui, a gente não tinha contato. Chegou aqui exatamente em 2019, 2020… 2021 e 2022 acelerou bastante”.

Enquanto o líder indígena é entrevistado, começa uma correria. É a chegada de um helicóptero trazendo um paciente, em estado grave, de uma aldeia distante. Um senhor de 60 anos chegou no colo de um médico, subnutrido e desidratado, e foi encaminhado imediatamente para uma sala de estabilização. Médicos do SUS e do Exército se uniram para ajudar.

O tenente-médico do Exército Márquez estava no atendimento, e conta como é o esforço para evitar que casos como esse, muito graves, sejam identificados antes.

“Eles realmente costumam buscar atendimento quando o paciente já está bem grave. E isso cria uma dificuldade na hora de fazer o tratamento adequado. O que a gente, lá no Pelotão Especial de Fronteira, busca fazer, é se aproximar mais da comunidade – porque, mesmo que o paciente não venha buscar atendimento, algum familiar, algum conhecido, vai falar: ‘ah, tal comunidade tem paciente’. E aí a gente faz a busca ativa: a gente vai até a comunidade, procura o paciente, vê se é caso de remoção ou não e faz a entrega de medicamentos, quando necessário”.

Na tentativa de amenizar a grave crise pela qual passa o povo Yanomami, o Pelotão Especial de Fronteira de Surucucu se tornou a base para distribuir os alimentos doados por diversas instituições. Uma ajuda essencial, mas longe de resolver a situação vivida na região. Por vezes é possível ver conflitos entre os próprios indígenas, que lutam por um pouco de farinha ou uma lata de sardinha.

Uma briga para aplacar a fome, que já matou, nos últimos quatro anos, pelo menos 570 crianças da etnia. Dona Ana tenta, na língua Yanomami misturada com algumas palavras em português, explicar sua dor: a perda de um curumim, seu filho: “curumim morreu“.

A crise humanitária do povo Yanomami é acompanhada in loco por uma missão do governo federal, com a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.

Em Brasília, o caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde o ministro Luís Roberto Barroso determinou a abertura de investigação contra autoridades do governo Bolsonaro por, entre outros crimes, suspeita de genocídio.

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