A Terceira Margem – Parte DXXXI

Descendo o Rio Branco 

O canoeiro

Boa Vista – II, 24 a 30.08.2018
Parte IV

Carta do Refugiado às Nações
(Moisés António) ([1])

Sou um ser e não uma coisa
Ainda que eu fosse uma coisa,
Não seria a de sem valor!

Sou movido a deixar a minha terra
Aquela terra de origem pátria amada,
Que um dia me viu nascer,
Viu-me crescer,
Viu-me sorrir,
Sorrir para a vida,
– Vida, o grandioso presente de Deus para as nações!

Hoje…
Estou aqui
Amanhã acolá,
Sou um barco movido à vela
Forçado pela força do vento, pra chegar ao destino!

Outra hora…
Sou uma andorinha,
Movido pela estação a procura de melhores condições de vida!

E pra me moverem,
São vocês que praticam as guerras
Fazendo prevalecer o ditado:
NA LUTA DE DOIS ELEFANTES,
QUEM PAGA COM AS VIDAS, SÃO AS GRAMAS OU O CAPIM!

São nossas vidas jogadas ao nada,
Somos barrados nas fronteiras…
Como se tivéssemos cometidos crimes!

Uns cometem, pagamos nós!
Matam-nos,
Hostilizam-nos,
Mortos, jogam-nos como lixo feito nada
Tudo porque, um diz quem manda aqui sou eu,
E outro do outro lado responde, a terra é minha!
E tudo resulta em uma colisão, e quem morre sou eu!
OH CREDO, A TERRA É DE DEUS!!!
Hoje…

Venho aqui, porque não tenho terra!
Amanhã vou ali também não tenho terra!
Tudo é terra!

O Nativo diz:
Não tens aqui o direito,
Tu que me vens tirar o trabalho…
Então sou submetido ao trabalho escravo,
Porque quero viver a vida!

Ó Céus!
Oh, credo!
Só quero viver a vida
Quero liberdade
Busco a justiça
Quero também pelo menos uma única oportunidade
Para que eu sobreviva e mitigue a minha sede!

Tenho fome, quero roupa, quero abrigo,
Só quero viver a vida!
Repito: NÃO TENHO TERRA, TUDO É TERRA!

Tenho uma vida, que também merece ser vivida …
Um presente de Deus eterno para todas as nações!
Sou um barco à vela…
À busca de um destino….

POR FAVOR, ME RESPEITEM, SÓ QUERO VIVER A VIDA!

Carta do Refugiado às Nações – Copia

Tive a oportunidade, graças ao Ten Cel Eng Vandir, Cmt do 6° BEC, de acompanhar de perto o excepcional trabalho do Exército Brasileiro na “Opera­ção Acolhida” e conversar com seus participantes.

O Exército atua desde a Construção dos abrigos, cadas­tramento, alimentação atendimento médico… O “Blog do Exército Brasileiro” (eblog.eb.mil.br) publicou:

Operação Acolhida em Roraima: Ação de Solidariedade

Instrumento de ação do Estado brasileiro, a Opera­ção Acolhida destina-se a apoiar ‒ com pessoal, material e instalações ‒ a montagem de estruturas e a organização das atividades necessárias ao acolhi­mento de pessoas em situação de vulnerabilidade. Tal conjuntura é decorrente do fluxo migratório para o Estado de Roraima, provocado pela crise humanitária na República Bolivariana da Venezuela. Por meio da Medida Provisória [MP] n° 820, de 15.02.2018, o Brasil instituiu o Comitê Federal de Assistência Emergencial, que decreta emergência so­cial e dispõe de medidas de assistência para acolhi­mento a esse segmento-alvo. […]

Nesse contexto, depois de visualizado e demandado o emprego do Exército Brasileiro, o Comandante do Exército, General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, no mesmo dia 15 de fevereiro, nomeou o General de Divisão Eduardo Pazuello coordenador da Força-Tarefa Logística Humanitária no Estado de Roraima. A designação foi oficializada pela primeira resolução do Comitê, chancelada pelo Ministro da Casa Civil em 21 de fevereiro.

A partir daí, o Comitê identificou a necessidade de estabelecer, inicialmente, estruturas de recebimento de pessoal, triagem e áreas de abrigo e acolhimento; e de reforçar as estruturas de saúde, alimentação, recursos humanos e coordenação-geral das opera­ções. […]

Esta Ação não é exclusiva do Ministério da Defesa [MD], considerando que este é um dos 12 ministérios componentes do Comitê Interministerial. […]

A Operação Acolhida é oportunidade ímpar para que as Forças Armadas exercitem e demonstrem suas capacidades logísticas, em um cenário interagências e com caráter humanitário. Isso, por si só, ratifica o potencial do Brasil em empregar sua expressão mili­tar e, por que não, governamental, em problemá­ticas dessa natureza. Desse modo, observou-se a capacidade da Força-Tarefa no Estado de Roraima em aglutinar esforços e conduzir, em todos os níveis [político, estratégico, operacional e tático], pessoas, autoridades, instituições, organismos internacionais, como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados [ACNUR], as ONGs de ajuda humanitária e os órgãos de segurança pública. Em tudo isso prevaleceu um ambiente de cooperação, materiali­zado em ações que melhoraram a situação dos imigrantes desassistidos, com reflexos diretos no cotidiano de Boa Vista e de Pacaraima. […]

Quanto aos abrigos humanitários, temporários ou de maior permanência, os ambientes possuem instala­ções semipermanentes, como barracas coletivas e individuais, contêineres sanitários, escritórios, depó­sitos e cobertura para áreas de convivência e ali­mentação. Nesses locais, os imigrantes recebem a atualização da situação migratória; são imunizados contra as doenças mais comuns e outras que têm surgido na área, como o sarampo; são cadastrados para o trato humanitário pelo ACNUR e pelas ONG parceiras; e recebem alimentação e visitas médicas diárias. Os imigrantes têm três destinos: absorção pelo mercado de trabalho local, interiorização no Brasil ou retorno ao país de origem. Para a interio­rização, o imigrante precisa estar em um abrigo sob a administração de órgãos estatais, em conjunto com o ACNUR e as ONGs parceiras; estar com sua situação migratória regularizada; estar vacinado e imunizado; ser voluntário ao processo e ter destino certo na localidade para onde migrará.

A interiorização está sob a responsabilidade de um subcomitê específico, no qual a Casa Civil trabalha diretamente com a Organização Internacional para as Migrações ‒ órgão da ONU com experiência mundial no assessoramento a governos, no que tange à realocação geográfica de grandes efetivos populacionais. As primeiras interiorizações ocorreram em 5 e 6 de abril, com cerca de 250 imigrantes interiorizados para São Paulo [SP] e Cuiabá [MT]. A terceira interiorização ocorreu em 4 de maio, com cerca de 240 imigrantes para Manaus e São Paulo. A Operação Acolhida tem duração prevista de 12 meses. Pretende-se que outros estados e municípios cooperem e realizem adesão a esse esforço humanitário, necessário não só para retirar os imigrantes da situação de vulnerabilidade, mas também para auxiliar o Estado de Roraima a superar tamanho desafio social.

Como legado, a Operação é mais uma referência da forma conjunta de atuação das Forças Armadas, em que cada Força está adjudicando seus meios, em pessoal e material, para a correta execução da missão, aproveitando-se daquilo que cada uma tem de capacidade, vocação e dever.

No cumprimento das atividades de comunicação social, foi possível exercitar a compreensão interna da Operação e seus reflexos na mídia, além de poder contar com equipe de militares dedicados e compe­tentes da Marinha, do Exército e da Força Aérea. Foi uma oportunidade de atestar a crença em nossa capacidade, em nosso valor e no propósito maior de servir à Nação.

Operação Acolhida em Roraima: ação de solidariedade – EBlog do Exército Brasileiro

Operação Acolhida

Construção de Novos Abrigos

O 6° Batalhão de Engenharia de Construção (6° BEC) contribuiu e contribui, de maneira decisiva, com a Força-Tarefa Humanitária através de trabalhos de engenharia na construção dos abrigos Rondon 1 e Rondon 2, localizados nas proximidades da base da Polícia Federal, onde também está instalado um posto de identificação e triagem dos imigrantes oriundos da Venezuela.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 06.01.2023 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com

[1]    Embora o Poeta Moisés Tiago António seja um refugiado angolano, e não venezuelano, seu poema transcende fronteiras fazendo um apelo pungente à humanidade das criaturas. É um pedido de socorro à compreensão das criaturas daquele que deixou quase tudo para trás, mas que continua sua eterna busca por uma vida digna, pela liberdade e pela justiça. (Hiram Reis)   

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