Publicação da Embrapa aborda monitoramento florestal na Amazônia

Pioneira no uso de parcelas permanentes em inventário florestal contínuo no estudo do comportamento de árvores em florestas exploradas e não exploradas na Amazônia brasileira, a Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA) disponibiliza a publicação Monitoramento florestal na Amazônia Oriental: histórico e importância da ferramenta para estudo da dinâmica florestal. É uma obra compacta e objetiva que resgata o conhecimento científico produzido em torno de tema e aponta necessidades para o futuro.

Foto: Vinicius Braga

Por um lado, o documento situa o avanço das pesquisas e a formação de redes nacionais e internacionais em torno do tema, além de listar os 121 títulos técnico-científicos anteriores, gerados de 1984 a 2021 com base nos dados do monitoramento de parcelas permanentes pela Embrapa Amazônia Oriental e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

Por outro lado, de olho no futuro, a nova publicação destaca a importância da continuidade e evolução do aplicativo computacional Monitoramento de Florestas Tropicais (MFT), ferramenta cujo uso é considerado “a melhor garantia de armazenamento de dados de longos e contínuos períodos de monitoramento em florestas naturais e plantadas”, avalia o autor Ademir Roberto Ruschel, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental.

É uma garantia, explica Ruschel, amparada na confiabilidade do próprio banco de dados de parcelas permanentes monitoradas pela Embrapa Amazônia Oriental há quatro décadas, desde 1981, acervo que já foi fonte de inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutorado, bem como artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. “Não à toa, os dados serviram de base para a regulamentação do manejo florestal sustentável na Amazônia brasileira, em especial a definição dos ciclos e intensidades de corte”, salienta.

Florestas do passado, do presente e do futuro

O autor enfatiza que “as parcelas permanentes de monitoramento contínuo são fontes ricas e precisas de informações das florestas do passado, do presente e do futuro, quando amostradas suficientemente e mantidas ao longo do tempo”. Ele conta que “as parcelas mais antigas de observação têm proporcionado conhecimento profundo sobre a dinâmica do crescimento da floresta, balanço de carbono no ecossistema e alterações na riqueza e diversidade de espécies de árvores e de palmeiras”. Além disso, globalmente ajudam a estimar os efeitos das mudanças climáticas e o ciclo de carbono.

A importância mundial do trabalho de monitoramento florestal contínuo com parcelas permanentes também é ressaltada na apresentação da publicação pelo chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário de Paulo Lemos, onde diz ser “uma importante contribuição para o atendimento da agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial ao ODS 15 – Vida Terrestre. Entende-se que, ao se compreender melhor o comportamento das espécies florestais em áreas manejadas na Amazônia, torna-se possível definir a melhor estratégia de manejo a ser adotada e garantir a sustentabilidade do uso dos recursos com benefícios sociais, econômicos e ambientais”.

Aplicativo MFT

O MFT, aplicativo (software) para monitoramento de florestas tropicais, sucedeu o antigo programa informatizado Sistema de Inventário Florestal Contínuo (SFC), lançados pela Embrapa Amazônia Oriental em 2008 e 1994, respectivamente. Capaz de lidar com um grande volume de informação oriunda de floresta de alta complexidade, o MFT registra, processa, critica e armazena dados de monitoramento por classe de tamanho de indivíduos (palmeiras, árvores, arvoretas, varas e mudas). Sua aplicação está ligada ao estudo, manejo e monitoramento de florestas tropicais, processando inventários florestais temporários e contínuos.

“Estamos no ponto em que o MFT caminha para uma nova versão, robusta para processar e manter um banco seguro de dados de parcelas permanentes, ao mesmo tempo em que permite a evolução constante de novas versões”, antecipa o pesquisador Ademir Ruschel.

Milhões de registros

O monitoramento pela Embrapa ocorre em ecossistemas de terra firme e de várzea, em florestas naturais e plantadas. Somente por conta das parcelas permanentes de terra firme no estado do Pará, conforme dados da publicação, já são mais de 125 mil árvores observadas nos últimos 40 anos, com mais de 8 milhões de registros de variáveis armazenados em arquivos de backups do MFT.

Há parcelas de terra firme na Floresta Nacional do Tapajós (Belterra); PA Santo Antônio (Mojuí dos Campos); Vitória do Jari, Associação Virola-Jatobá (Anapu), Parque Zoobotânico (Marabá), Fazenda Cristalina (São Domingos do Araguaia), Fazenda Shet (Dom Eliseu), Fazenda Cikel (Paragominas); Campo Experimental da Embrapa (Moju) e Capoeira do Black (sede da Embrapa em Belém). As parcelas de várzea ficam em Belém (Área de Pesquisa Ecológica do Guamá), Limoeiro do Ajuru, Curralinho, Breves, Afuá e Gurupá.

Avanço do conhecimento e redes

De acordo com Ademir Ruschel, a robustez e complexidade dos bancos de dados de parcelas permanentes gerenciados pela Embrapa e Ufopa permitiram o avanço do conhecimento sobre a dinâmica da vegetação arbórea – estudo que envolve informações sobre o crescimento e a evolução da floresta, sua reação a alterações diretas ou indiretas resultantes, por exemplo, de sistemas de manejo, mudanças climáticas, tratamentos culturais e silviculturais.

O pesquisador relata que o primeiro documento com as orientações para instalação e medição de parcelas permanentes de monitoramento em inventário florestal contínuo na Amazônia brasileira foi publicado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em 1984. A metodologia inicial teve posteriores atualizações, tornando-se mais prática aos empreendimentos florestais na região amazônica e às instituições de pesquisa.

Em paralelo, redes nacionais e internacionais, governamentais e não governamentais, se formaram em torno do tema manejo florestal sustentável na Amazônia, fortalecendo a cooperação científica, como a Rede de Monitoramento da Dinâmica de Florestas da Amazônia (Redeflor), a Amazon Tree Diversity Network (ATDN), a Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor) e o Tropical managed Forests Observatory (TmFO).

A publicação Monitoramento florestal na Amazônia Oriental: histórico e importância da ferramenta para estudo da dinâmica florestal (acesse aqui) foi escrita pelo pesquisador Ademir Roberto Ruschel em coautoria com Ulisses Sidnei da Conceição Silva (Ufopa), Fabricio Nascimento Ferreira (Embrapa), Lia de Oliveira Melo (Ufopa), José Natalino Macedo Silva (Ufra), João Olegário Pereira de Carvalho (Ufra), Márcio Hofmann Mota Soares (Embrapa), José Francisco Pereira (Embrapa), Lucas José Mazzei de Freitas (Embrapa) e Milton Kanashiro (Embrapa).

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