Secas nos rios e falta de alimentos podem ser motivos de aproximação de indígenas isolados no Vale do Javari

Rio Branco (AC) – A aproximação de um grupo de indígenas isolados, de etnia e cultura ainda desconhecidas, à aldeia do povo Marubo no território Vale do Javari, pode estar relacionada às secas nos rios e igarapés neste período do ano, com menos chuvas no sul da Amazônia.

Leito do rio Itacoaí (Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Desde 2018 há registros de que esses isolados intensificam a migração em busca de alimentos nas roças dos indígenas de recente contato, incluindo os Kanamari. A explicação é do sertanista Sydney Possuelo, um dos responsáveis pela demarcação e proteção da terra indígena, que tem o maior número de povos que vivem em isolamento voluntário no mundo.

“Estes aparecimentos não são de agora. Eles já acontecem há muito tempo. Principalmente nesta época do ano. Os rios estão baixos, então pequenos grupos saem caminhando pelas praias procurando ovo de tracajá [quelônio]. Fazem um acampamento aqui.  Dois, três dias depois descendo o rio, fazem outro. Às vezes você vê cinco, oito acampamentos e passa a impressão de ser grupos diferentes, mas é o mesmo”, disse Possuelo à agência Amazônia Real.

A presença dos indígenas isolados foi relatada na manhã da última segunda-feira (1o) na margem do médio rio Ituí em frente à aldeia São Joaquim, do povo Marubo.  As primeiras informações dão conta de que eles estavam agitados e próximos a roça de banana, segundo reportagem exclusiva da Amazônia Real.

“Este tipo de aproximação não significa necessariamente que eles estejam interessados em fazer contato. Os avisos sonoros escutados pelas mulheres Marubo seriam apenas uma forma de comunicação para informar que estão por perto”, afirmou o sertanista.

A aldeia São Joaquim fica a quatro dias de viagem de barco até a cidade de Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas, subindo pelo rio Itacoaí. De helicóptero, o percurso seria encurtado para uma hora e meia. Mas, na ocasião, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério da Saúde, que é responsável pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), não tinham meios de enviar uma equipe em aeronave ao território.

O helicóptero foi contratado pela Sesai apenas no dia 3, em Tabatinga, pelo Distrito Sanitário Indígena (Dsei) Alto Solimões. Seguiram na aeronave para a terra indígena o novo coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, indigenista Gutemberg Castilho dos Santos, o intérprete Dashe Mayuruna e uma enfermeira da Sesai. A reportagem solicitou informações da Funai sobre a missão, mas, segundo o órgão, a equipe permanece investigando o avistamento, que inclui também a aldeia São Joaquim, dos Marubo.

Por Fabio Pontes

ÍNTEGRA DISPONÍVEL EM:  AMAZÔNIA REAL

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