Garimpo ilegal e o avanço da prática na Terra Indígena Kayapó

Pesquisa documental e histórica analisa os impactos da atividade garimpeira nesta Terra Indígena localizada no sudeste do Pará, e que já tem 7.602 hectares de área minerada.

Agência Museu Goeldi – A prática do garimpo ilegal na Amazônia é uma questão recorrente e extremamente preocupante por diversos aspectos. O garimpo destrói territórios indígenas, desorganizando socialmente as comunidades e inclusive levando violência, originando doenças ao poluir o ambiente e atingir gravemente a fauna e a flora de florestas. Esse será o tema do primeiro estudo a ser apresentado no XXX Seminário do Programa de Iniciação Científica (PIBIC) do Museu Paraense Emílio Goeldi, que iniciou dia 22 e encerra dia 26, no Auditório do Campus de Pesquisa da instituição.

O estudo ‘Avanço dos garimpos ilegais na terra indígena Kayapó. Uma análise histórico – crítica desse conflito – 2000 a 2020’ abre a sessão temática “Socioculturalidade dos povos, Política Científica e Popularização do Conhecimento”. O bolsista, autor do estudo, é Alberto da Silva Amaral, graduando de Sociologia e Serviço social da Universidade Estácio, e que trabalhou sob a orientação da pesquisadora Claudia López Garcés, da área de Ciências Humanas do Museu Goeldi. A pesquisa de Alberto envolve uma abordagem interdisciplinar, abraçando aspectos sociais, mas também históricos, econômicos e das ciências políticas, e seu autor deseja que seja uma contribuição para a análise desse fenômeno, estimulando o fim do garimpo ilegal.

Garimpo – Trata de extrair do solo minérios e metais preciosos (em especial o ouro) que possuem valor econômico. O solo amazônico é disparadamente, segundo o MapBiomas, o que possui a maior ocupação de garimpos.

O garimpo é considerado uma atividade econômica ilegal, de acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM), quando é realizado em áreas que passam de 50 hectares ou em Terras Indígenas. Pela lei vigente no Brasil, os povos indígenas não poderiam estar sendo afetados de forma alguma, porém, assim como nas unidades de conservação da Amazônia, as áreas ocupadas pela atividade nas Terras Indígenas só vêm aumentando.

Segundo o MapBiomas, as maiores áreas de garimpo em Terras Indígenas no Brasil estão no território Kayapó, com 7.602 hectares de área minerada.

Alberto conta que o trabalho se deu por meio de um grande levantamento bibliográfico de diversos estudos e dados, alguns vindos de fontes como o Conselho Indigenista Missionário e MapBiomas, que relatam como o garimpo afeta constantemente o bem-estar dos indígenas. “Meu trabalho é focado no povo Mebêngôkre-Kayapó, isso partiu de uma sugestão da minha orientadora, que tem uma grande experiência com esse povo aqui no Pará, e assim eu faço a escolha de estudar o garimpo na  Terra Indígena Kayapó (TIK). É um território que está situado na região sudeste do Pará (abrange mais de cinco municípios daquela região), e fica em torno de Redenção e Ourilândia. Dentro dessa Terra Indígena, há várias aldeias. Como eu tenho focalizado o garimpo, eu não trabalhei com uma aldeia específica”, pontua.

Consequências do garimpo – Alberto explica que a maior problemática do processo da extração do ouro se dá na utilização de mercúrio para fazer a separação dos cascalhos e do metal precioso. O mercúrio é um metal líquido extremamente tóxico que pode ocasionar diversos problemas de saúde quando entra em contato com o organismo, como por exemplo falhas no sistema nervoso e problemas renais. “Em todo o garimpo de ouro é necessária a utilização de mercúrio para separar os sedimentos do solo, logo depois esse mercúrio é todo despejado nos rios, contaminando os peixes e consequentemente o indígena que vai se alimentar daquele pescado contaminado e isso pode ocasionar futuramente câncer, má formação fetal, problemas neurológicos, etc. Precisamos compreender que a água é fundamental, é de onde os povos tiram os alimentos, é onde vão tomar banho, beber água”, ressalta o estudante.

Além da saúde, os impactos ambientais da prática do garimpo também são inquietantes visto que a floresta amazônica já perdeu parte significativa de sua biodiversidade em razão do desmatamento. Desvios do curso de rios, contaminação do solo, ar e águas através dos metais pesados são desdobramentos do garimpo que ameaçam a vegetação e animais.

“O que nós precisamos hoje é que o homem viva em harmonia com a natureza. E sabemos que os povos indígenas dependem 100% da natureza e lutam pela preservação do seu território, da sua floresta e dos seus rios. O garimpo em terra indígena é justamente o contrário de tudo isso, é a destruição da floresta e dos rios”, ressalta o jovem pesquisador.

O garimpo dentro da economia – Alberto também comenta que, no campo sociológico e também da economia, ideias como “desenvolvimento” e “progresso” são cruciais para a nação brasileira. Mas quando observamos a situação de povos indígenas, desamparados socialmente, esse discurso se torna uma tática de opressão. “Isso é um discurso colonial, e o garimpo é uma estratégia que faz parte dessa lógica colonial, porque o garimpeiro alicia o indígena com o discurso de que aquilo vá trazer algum favorecimento, sobretudo econômico, e o que observamos é que a economia extraída ali não fica com eles, mas vão para grandes mercados internacionais. Podemos observar que parte do ouro ilegal que saiu da Terra Indígena Kaypó, foi comprada por um multinacional italiana e revendida para empresas como Amazon, Google, Microsoft e Apple”, explica o estudante.

As lutas indígenas que atuam contra a presença dos garimpos em suas terras estão constantemente buscando apoio. No decorrer de sua pesquisa, Alberto pode perceber “o quanto o povo Kayapó protagoniza a luta pela defesa da Amazônia desde a constituinte de 1988. Me deparei com a problemática de que hoje dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, MapBiomas e diversos outros orgãos que pesquisam e defendem a preservação, apontam que o garimpo ilegal em terras indígenas é responsável por 60% do desmatamento da Amazônia e o garimpo especificamente na Terra Indígena Kayapó lidera essas ações”, completa o bolsista.

A antropóloga Claudia López, orientadora do estudo, avalia que “a escolha da temática da pesquisa do Alberto foi muito importante. Ele é uma pessoa engajada, no sentido de querer que suas pesquisas contribuam para solução de problemáticas que são evidentes entre os povos indígenas. Ele escolheu a temática do garimpo na Terra Indígena Kayapó por pensar que é tema que pouco se conhece – num âmbito acadêmico é pouco explorado a partir das pesquisas sociais, principalmente as pesquisas antropológicas”, pontua López.

A pesquisadora ainda analisa que é extremamente importante a sociedade ter consciência de que não se trata de uma problemática restringida aos indígenas. “Nós vivemos numa região que é fundamental para a preservação do clima e a manutenção da vida do planeta. Então é preciso compreender que a atividade garimpeira ilegal é uma temática que afeta não só os povos indígenas, está afetando a humanidade inteira, está contribuindo para as mudanças climáticas no planeta. É importante que a sociedade em geral tenha consciência da importância do equilíbrio socioambiental dentro desses territórios”, completa. Acesse a programação completa do XXX Seminário PIBIC MPEG.

Texto: Kauanny Cohen  –  Edição: Joice Santos

Serviço

XXX Seminário de Iniciação Científica do Museu Paraense Emílio Goeldi

‘Avanço dos garimpos ilegais na terra indígena Kayapó. Uma análise histórico – crítica desse conflito – 2000 a 2020’de Alberto Amaral, será apresentado no dia 23 de agosto, às 8h30, no Auditório do Campus de Pesquisa do Museu Goeldi.

PUBLICADO POR:  MUSEU GOELDI 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *