Estado brasileiro não pode ser responsabilizado pelo desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips

O desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na região do vale do rio Javari, sudoeste do Amazonas, é um acontecimento lamentável, dentro do quadro geral de insegurança permanente que paira sobre grande parte da população brasileira, em áreas onde o Estado não exerce uma presença efetiva e se mostra incapaz de oferecer garantias mínimas de segurança à cidadania.

(Foto: Ministério da Defesa.) – Postada em: MSIA Informa

Todavia, o Estado brasileiro não pode de modo algum ser responsabilizado mesmo indiretamente pelo fato e, muito menos, acusado de omissão nas buscas, como se apressam a proclamar a militância ambientalista-indigenista, sempre ávida de explorar tais casos para suas campanhas antinacionais, e seus porta-vozes midiáticos, além de opositores políticos do governo.

Bruno Pereira é funcionário licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) e estava na região em atividade privada de assessoria à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), coordenando a formação de equipes de vigilância em terras indígenas, inclusive com o uso de drones e computadores. Na região, situa-se a Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do País, com 85 mil quilômetros quadrados, área pouco menor que a de Portugal. Há décadas, a área experimenta conflitos e invasões provocados por madeireiros, garimpeiros, pescadores ilegais e narcotraficantes, que se aproveitam da vastidão da área e de sua proximidade da fronteira com o Peru. Pereira vinha sendo ameaçado pelo seu trabalho junto aos vigilantes indígenas.

Dom Phillips é jornalista free lancer especializado em temas ambientais e vive no Brasil desde 2007, sendo casado com uma brasileira. Atualmente, é colaborador do jornal inglês The Guardian, para o qual escreveu numerosas reportagens sobre a Amazônia, e prepara um livro sobre a região com uma bolsa da Alicia Patterson Foundation.

Os dois desapareceram na manhã do domingo 5 de junho, em um trajeto relativamente curto de duas horas entre a comunidade São Rafael e a sede municipal de Atalaia do Norte. À tarde, uma equipe da Univaja percorreu sem sucesso o rio ao longo do trajeto, após o que a entidade comunicou o desaparecimento às autoridades e pediu apoio para as buscas. Na segunda-feira 6, homens da Polícia Civil, da Funai e uma lancha da Marinha do Brasil se juntaram às buscas e, no dia seguinte, chegaram equipes das polícias Militar e Federal e 150 militares do Exército e da Marinha, com mais lanchas, motos aquáticas e dois helicópteros.

Esse esforço não foi suficientemente rápido para a militância “identitária”, que não perdeu tempo em apontar o dedo para o governo federal.

Na terça-feira, em Nova York, a líder indígena Sonia Guajajara chegou a pedir ao enviado especial para o Clima do presidente Joe Biden, John Kerry, “um posicionamento sobre essa violência no Brasil com os indígenas e nossos aliados (G1, 07/06/2022)”. Ela estava na cidade para um evento promovido pela revista Time, que a elegeu uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Na mesma linha foi a representante da Human Rights Watch no Brasil, Maria Laura Canineu, que acusou o governo de não tratar o caso “com a devida seriedade”. Segundo ela: “É imperativo que o governo brasileiro use imediatamente todos os recursos disponíveis para um esforço coordenado de busca, em larga escala e sem mais atrasos. A resposta claramente insuficiente do governo brasileiro tem causado grande angústia para as famílias e entes queridos de Dom e Bruno, e também para todas as pessoas engajadas em esforços para expor e enfrentar a violência e a destruição ambiental que assolam a Amazônia (Valor Econômico, 09/06/2022).”

Na quarta-feira 8, o Guardian juntou-se ao coro com um corrosivo e mal informado editorial, no qual acusava a resposta das autoridades brasileiras de “lerda e decepcionante”. Para os editorialistas, “apenas um punhado de militares parece estar envolvido na busca, em uma região com amplos recursos militares”, pelo que exigem “uma grande operação de busca e resgate”.

A diatribe do Guardian sobre os recursos militares empregados na busca é proporcional à dimensão da militância ambientalista do jornal, considerado por muitos como o principal arauto midiático do alarmismo ambiental internacional. Assim como se mostram desinformados sobre os fatos científicos reais, seus jornalistas ignoram que as Forças Armadas brasileiras não têm mais que duas dúzias de helicópteros e 18 mil homens no Amazonas, para cobrir uma área maior que o Reino Unido, a Noruega, a Alemanha e a França combinados – ou seja, a busca mobilizou 8,3% dos helicópteros e 0,83% dos efetivos militares disponíveis no estado, números que de modo algum podem ser qualificados como “um punhado”.

No Globo, a infalível colunista Miriam Leitão acusou o governo de estar “entregando a Amazônia ao crime” (09/06/2022). Ora, o Estado brasileiro não consegue exercer presença sobre amplos territórios urbanos dominados por traficantes e milicianos. Como conseguiria exercê-la adequadamente numa área maior que a Europa Ocidental e de população escassa, ainda mais com os parcos recursos disponíveis às suas forças de segurança e militares, que disputam as migalhas orçamentárias com todas as demais rubricas colocadas em prioridade inferior ao serviço da dívida pública, que ela própria considera intocável?

Além das tragédias pessoais, se o pior ocorrer, o Brasil deve preparar-se para uma reedição das avalanches de acusações e pressões que se seguiram aos assassinatos de Chico Mendes (1988) e Dorothy Stang (2005). Em ambos os casos, o País fez enormes concessões limitadoras de sua soberania sobre a Amazônia. Espera-se que não se repitam agora.

(Foto: Ministério da Defesa.)

Posted by: Editoria

PUBLICADO POR:   MSIA INFORMA 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *