Informação genética do açaí pode garantir produtos com alto valor agregado

Projeto pioneiro vai trazer, pela primeira vez, um DNA nuclear do açaí (Euterpe oleracea), ao codificar a sequencia dessa espécie de palmeira que é tão comum na Região Amazônica.  

O estudo do Genoma do Açaí vai muito além de conhecer essa fruta hoje tão consumida pelo mundo todo. Quando se faz a retirada do suco da fruta se dá uma única função para o açaí: o uso culinário. A fruta, típica da região Norte do Brasil é famosa pelo “açaí na tigela”, mas também pode ser utilizada do ponto de vista biotecnológico e bieconômico. “É a verdadeira transformação da fruta. Uma fruta nativa e comumente usada pelo paraense, que do ponto de vista biotecnológico pode ser utilizada não somente para a gastronomia, mas também para fins biotecnológicos”, explicou o Pesquisador Empreendedor Associado da BioTec-Amazônia, Rafael Azevedo Baraúna, com doutorado pela Universidade Federal do Pará – UFPA, em Genética e Biologia molecular.

O pesquisador Rafael Baraúna compõe a equipe do Laboratório de Engenharia Biológica (Engbio), instalado no Parque de Ciência e Tecnologia – PCT Guamá, que faz parte do grupo de laboratórios da UFPA que dão suporte à BioTec-Amazônia para ações estratégicas de coordenação e elaboração de pesquisas com recursos do Governo do Estado. O estudo Genoma do Açaí vai trazer informações até então desconhecidas para a Amazônia e para o mundo. A partir do DNA sequenciado é possível construir um mapa metabólico da célula e compreender os aspectos moleculares da espécie.

O pesquisador explica que, saindo da gastronomia, ao se pensar em bioeconomia, biotecnologia e indústria, o açaí pode ser fonte para uma infinidade de produtos cosméticos e farmacêuticos. “Então, ter o DNA codificado vai nos ajudar a descrever as vias que produzem esses metabolitos e ai quem sabe esses produtores não só consigam passar a vender o fruto do açaí, mas também vão passar a vender aquele açaí para extração dos metabolitos e produção na indústria, como componentes de cosméticos ou produtos farmacêuticos, criando uma produção com alto valor agregado”, explicou Rafael.

É preciso lembrar que o açaí é uma planta, então é um organismo que produz vários metabolitos que estão presentes nas folhas, nos frutos e no caule. Ou seja, há muito que se estudar do ponto de vista biotecnológico. “O açaí pode ter metabolitos com atividade anti-inflamatória, antiproliferativa, antimicrobiana, e ter esse DNA todo codificado vai permitir também que se desenvolvam ferramentas para poder encontrar esses metabólitos, estudá-los, e conseguir extrair a partir do açaí produtos que tenham muito valor agregado e que vão ser comercializados”.

Rastreabilidade – Com o resultado da pesquisa do Genoma do Açaí será possível verificar a rastreabilidade da espécie. “Você tem o açaí de Barcarena que produz um fruto muito bom, com características gastronômicas muito boas. Mas, como é que o consumidor final sabe que aquele açaí está vindo de Barcarena? Então, o DNA sequenciado servirá como um código de barras que nos permitirá fazer uma rastreabilidade genética daquela planta. Dessa forma o consumidor saberá se aquele açaí que está naquela embalagem, que está sendo consumido, é realmente um açaí que vem daquela região”, enfatizou Rafael.

Outro ponto importante que o estudo vai esclarecer é a questão da variabilidade genética da população de açaí. “Não é só o consumidor que será impactado com o projeto, mas também o próprio produtor, porque nesse caso o produtor junto com outros atores da bioeconomia poderão fazer um melhoramento genético da produção, gerando plantas com características que agregam valor ao fruto e etc.”.

Biotecnologia – O estudo do Genoma do Açaí busca o sequenciamento do DNA do fruto. Essa informação não pode ser encontrada em nenhum banco de dados genético. É o que diz Rafael Baraúna: “Nenhuma Euterpe, nenhuma dessas palmeiras – oleracea, edulis, que são aquelas palmeiras que a gente conhece como açaí, juçara, ou até mesmo o açaí da região do Amazonas. Não há nenhuma informação para essas espécies dentro dos bancos de dados”. A análise genética para essa espécie trará toda a informação biológica que aquele organismo possui.

O acesso às informações da planta se pode pensar em vários tipos de aplicação futura. “A gente pode pensar em melhoramento genético, e outros tipos de atividades mais aplicadas, a partir do momento que gente tem aquele genoma sequenciado”.

Para realizar o sequenciamento, é utilizado um sequenciador de nova geração, uma plataforma que permite fazer o sequenciamento do DNA em larga escala. Após gerar os dados, as informações passam a ser analisadas por bioinformática. Desde outubro de 2021, já se realiza a extração do material e o sequenciamento dele. “Depois desse sequenciamento e após passar por várias etapas de análise, ou bioinformática, os dados gerados serão analisados em servidores computacionais de alto desempenho”.

Por rodada de sequenciamento, a pesquisa gera 25 gigabases, ou seja, 25 bilhões de pares de bases de informação genética. “O Genoma do Açaí possui, em média, uns quatro gigas de tamanho e a gente pretende obter várias rodadas de sequenciamento para conseguir ter um genoma quase que na sua totalidade. Serão quatro bilhões de pares de bases analisados, quatro bilhões de letrinhas daquelas que a gente tem no nosso DNA – timina (T), guanina (G), citosina (C) e adenina (A)”, finalizou.

Financiamento – A Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), vinculada à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Profissional e Tecnológica (Sectet), assinou convênio com a Associação BioTec-Amazônia, para execução do projeto Genoma do Açaí. “Então, o projeto genoma visa identificar que tipos de genes nós temos dentro do organismo. Uma vez que eu sei que genes a gente tem, a gente é capaz de dizer quais são as funções que aquele organismo está desempenhando ou é capaz de desempenhar. Assim, também, se tiver alterações eu sou capaz de dizer quais são os erros que tiveram ali que estão fazendo com que ela tenha determinada função”, explica o pesquisador Artur Silva, diretor técnico-científico da BioTec-Amazônia e coordenador do Laboratório de Engenharia Biológica (Engbio).

Escrito por:  Silvia Leão – BioTec-Amazônia  

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