A Terceira Margem – Parte CCXCV

Expedição Centenária Roosevelt-Rondon  3ª Parte – III

Cel Hiram em seu caiaque

2014, um Ano de Muitas Expectativas

A Esperança 

(Augusto dos Anjos)

A Esperança não murcha, ela não cansa,

Também como ela não sucumbe a Crença.

Vão-se sonhos nas asas da Descrença,

Voltam sonhos nas asas da Esperança. […]

A cada virada de ano renascem as esperanças, esboçamos novos projetos, traçamos novas metas, visamos novos objetivos, enfim, encaramos com coragem e determinação os novos desafios.

A cada dia que passa, algumas dessas perspectivas são alcançadas, para nosso júbilo, e, infelizmente, não raras vezes, percorrendo os tortuosos, soturnos e insondáveis labirintos do destino, o fracasso cruel desponta nos trazendo profundo desalento.

Academia de Letras de Rondônia (ACLER)  

Na minha quarta jornada pelos amazônicos caudais, desci de caiaque os Rio Madeira e Amazonas, com meu filho João Paulo, desde Porto Velho, RO, até Santarém, PA (22.12.2011 a 15.02.2012). Foram 2.000 km de pura magia e deslumbramento.

Em Porto Velho, tive a honra e o privilégio de conhecer e entrevistar o Professor, Historiador e Escritor Doutor Dante Ribeiro da Fonseca, da Universidade Federal de Rondônia, com quem venho mantendo, desde então, uma salutar correspondência.

No início deste ano, graças à proposta do Professor Dante, passei a fazer parte da ACLER, como registra a ata de 22.01.2014:

Em reunião realizada no dia 22.01.2014 a Assembleia Geral da ACLER decidiu por unanimidade aprovar a proposta de admissão do Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva, que passa desde já a compor seu quadro de associados correspondentes. […]

Essas obras resultam de um ambicioso projeto denominado “Desafiando o Rio-Mar” através do qual nosso novo associado tem percorrido, conhecido e descrito a realidade de todos os afluentes do Rio Amazonas. O Acadêmico Hiram Reis e Silva ocupará a cadeira de número 41, sob o patronato de Emilie Snethlage ([1]). (acler.com.br)

Marçal, meu Fiel e Desassombrado Escudeiro  

No alvorecer deste ano, eu ainda trazia no coração e na mente as gratas lembranças de minha sexta jornada pelos amazônicos caudais – singrara, em outubro de 2013, as belas águas cor de esmeralda do Rio Tapajós, onde contei, pela quarta vez, com o apoio fundamental de meus intimoratos escudeiros Cabo Mário Elder Guimarães Marinho e do Soldado Marçal Washington Barbosa Santos, valorosos guerreiros do Grupo Fluvial do 8°BEC (Santarém, PA). Infelizmente, no dia 28 de fevereiro do corrente ano, tomei conhecimento de que meu valoroso parceiro Marçal estava sendo dispensado das fileiras do Exército. Tive a honra e o privilégio de conviver com este destemido e arrojado guerreiro, nas descidas de caiaque pelo Rio Amazonas (851 km), Rio Madeira (2.000 km) e Rio Juruá (3.950 km) além da circunavegação do Baixo Tapajós (630 km). Em cada uma destas etapas, o Marçal jamais refugou os grandes desafios que lhe propus. Foi com enorme alegria que o vi transformar-se de espectador em protagonista acompanhando-me galhardamente, de caiaque, na descida dos quase 4.000 km que nos separavam a comunidade da Foz do Breu, fronteira do Acre com o Peru, até Manaus. Considero-o, sem sombra de dúvida, um dos melhores profissionais com quem já tive a oportunidade de conviver desde que incorporei à minha alma, meu sangue, músculos e nervos a augusta farda verde-oliva, em fevereiro de 1972, na gloriosa Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Se fosse chamado, algum dia, para comandar uma árdua missão, fosse qual fosse, nos ermos sem fim, sob quaisquer condições de terreno ou meios, certamente eu o chamaria, mais uma vez, para compor minha equipe.

Obrigado, amigo Marçal, por tudo e esteja certo de que nossa amizade permanecerá viva, independentemente da enorme distância física que separa os Estados do Pará e Rio Grande do Sul. Sede muito feliz na tua nova marcha, na bela Aveiro, assentada à margem direita do formoso Tapajós, junto à sua querida esposa Jamily e sua mimosa filhinha Carmem.

Centenário da Expedição Roosevelt-Rondon  

É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota. (Theodore Roosevelt)

Pois bem, recebi no dia 28 de fevereiro, curiosamente no mesmo dia da baixa do Marçal, como se a providência divina conspirasse para neutralizar meu desalento, um e-mail do Dr. Marc André Meyers que me informava estar planejando uma histórica e oportuna homenagem ao Centenário da Expedição Roosevelt-Rondon. Respondi, no mesmo dia, que estava pronto, “De Pé e à ordem” para cumprir esta épica missão que pretendia percorrer o trajeto fluvial da Expedição Científica Roosevelt-Rondon. A saída seria da Fazenda Baliza, na fronteira de Pimenta Bueno e Vilhena, e sua conclusão na confluência do Rio Roosevelt com o Rio Aripuanã. Espero que o Exército Brasileiro se alie a esta homenagem, mais que merecida ao Marechal da Paz e ao ex-Presidente Roosevelt, concebida pelo Dr. Meyers. Para aqueles que não o conhecem, vamos apresentar parte do seu currículo:

Currículo do Doutor Marc André Meyers  

O Professor Doutor Marc André Meyers é brasileiro, natural de Belo Horizonte, nasceu em 10.08.1946, filho de doutor Henry Meyers e de dona Mariana Meyers, vindo para a cidade de João Monlevade, na primeira semana de vida. Desde criança, foi fascinado pela metalurgia.

É ex-aluno de escolas públicas de João Monlevade. Formou-se em Engenharia Mecânica pela UFMG e foi escolhido, no último ano, como Monitor da Cadeira de Metalurgia Física e melhor aluno dessa matéria em uma classe de oitenta estudantes. Fala cinco idiomas, possui seis cursos de graduação em Administração, em Universidades Americanas. É Doutor em Metalurgia Física pela Universidade de Denver. […]

Materiais Bioinspirados  

Nos últimos anos, enveredou por nova área de investigação científica e materiais biológicos. […] Foi também o autor do primeiro trabalho científico sobre as propriedades mecânicas do bico do tucano, que é um material complexo otimizado para peso e resistência à flexão. Este trabalho foi inspirado por uma viagem que o professor Marc fez a Diamantina quando adolescente.

Enquanto seu pai caçava perdizes, ele se repousou em uma mata observando os tucanos nas copas das árvores. Por acaso encontrou um esqueleto. Ao levantar o bico, surpreendeu-se com o peso baixíssimo e relativa resistência a flexão. Este trabalho suscitou o interesse de diversas publicações de divulgação científica e um artigo foi publicado em dezembro 2006 pela National Geographic. (Fonte: www.pmjm.mg.gov.br)

Nova Morada  

Desde 06.05.2011 que eu e meus irmãos estamos tentando regularizar o imóvel herdado de nossos pais. Os nebulosos meandros judiciários só foram plenamente contornados no primeiro semestre de 2015. Acompanhou-nos neste périplo o Arquiteto Sólon, interessado na compra de nosso patrimônio. Tivemos a grata ventura de encontrar nele muito mais que um empresário, mas um ser humano diferenciado, um facilitador que não poupou esforços para que conseguíssemos adquirir nossa nova morada antes mesmo de regularizar a documentação da venda da anterior. Estamos agora instalados em Ipanema, nas proximidades do Guaíba, um Bairro realmente residencial, com uma vizinhança encantadora. O Brasil acompanha estarrecido os inúmeros escândalos envolvendo a PETROBRAS. A estatal que há cinco anos era a 12° maior empresa do mundo, caiu, em 2013, para 48° lugar e hoje ocupa um sofrível 120°, graças às inúmeras falcatruas e péssima gestão capitaneada por um desgoverno acéfalo e despreparado. A instituição dos “propinodutos” propaga-se como uma pandemia e mina a administração pública nacional. Inúmeras vezes, funcionários públicos dos mais diversos escalões envolvidos na venda de nosso imóvel sugeriram algum tipo de “prêmio” para agilizarem o processo que se arrastava indefinidamente. A venda tinha como objetivo, e isto consta da ação, quitar parcialmente as altas despesas que tenho com o tratamento da esposa, há quase onze anos e que minaram totalmente minhas finanças. Infelizmente os juízes que trataram do assunto jamais deram a devida prioridade ao nosso caso tratando-o como uma venda de imóvel comum.

Os encaminhamentos errados e as decisões equivocadas provocaram atrasos que nos fizeram ir ao encalço de empréstimos cada vez mais onerosos, mas nada disso pareceu influenciar o ânimo de nossos magistrados, que ao contrário dos simples mortais, tem direito a magníficos salários e inúmeros recessos.

Conclusão 

Uma série de outros eventos importantes relativos à descida e pesquisas na Laguna dos Patos e Lagoa Mirim, a possível publicação da coleção Desafiando o Rio-mar (nove livros), em 2015, embora aguardem confirmação nos estimulam a prosseguir, pois constatamos que, aos poucos, nosso trabalho começa a receber maior visibilidade e reconhecimento. O convite do Dr. Meyers me emocionou muito e, se realmente vier a se concretizar, será uma maneira de participarmos pessoalmente da homenagem àquele que considero a maior figura humana das Américas – Rondon – o Marechal da Paz.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 06.09.2021 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) (2000 a 2012);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

[1]    Emilie Snethlage: A ornitóloga alemã Henriette Mathilde Maria Elisabeth Emilie Snethlage (1868-1929) desenvolveu sua carreira científica no Brasil, trabalhando no Museu Paraense Emilio Goeldi e no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Um dos pontos altos da sua obra científica foi o “Catálogo das aves amazônicas”, publicado em 1914. Outro foi a travessia que realizou a pé, acompanhada apenas por guias nativos, entre os Rios Xingu e Tapajós, em 1909, percorrendo um território até então desconhecido. A historiografia das ciências no Brasil apresenta, até agora, poucos exemplos da atuação feminina no campo das ciências naturais antes da fundação das universidades na década de 1930. A análise da trajetória de Emilia Snethlage, articulando questões de história das mulheres e o estudo das formas de inserção da cientista em redes institucionais e sociais, poderá contribuir para o melhor entendimento de campos historiográficos pouco percorridos. (JUNGHANS)

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