A Terceira Margem – Parte CII

Porto Velho, RO/ Santarém, PA ‒ Parte LXXII 

Hidrelétrica de Santo Antônio, Porto Velho

Descendo o Rio Madeira ‒ III 

Hidrelétricas do Rio Madeira 

Nessa descida pelo maior afluente da margem direita da Bacia do Amazonas, três matérias chamaram, em especial, nossa atenção: a verdadeira epopeia da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, os garimpos de ouro ao longo do Rio e suas hidrelétricas.

Hidrelétricas do Rio Madeira 

Fonte: www.furnas.com.br 

As usinas hidrelétricas do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau, não são apenas grandes projetos de engenharia e arquitetura moderna. A construção das Usinas do Madeira faz parte de um grande projeto para o desenvolvimento sustentável da região, integração nacional e para a melhoria de vida das populações de Rondônia, Acre, Amazonas e Mato Grosso. Com a construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, serão mais 6.450 MW colocados no mercado, e com a construção de linhas de transmissão para o Acre, Amazonas e Norte do Mato Grosso será possível a conexão com o Sistema Interligado Brasileiro.

Santo Antônio 

Fonte: www.furnas.com.br 

Santo Antônio terá capacidade de gerar 3.150 MW e o investimento previsto é de R$ 9,5 bilhões, em valores de 2006.

O início das obras está previsto para dezembro de 2008. Estima-se que a primeira e segunda unidades geradoras, das 44 previstas, devam entrar em funcionamento em dezembro de 2012.

A obra empregará até 20 mil trabalhadores diretos no pico da construção. As turbinas utilizadas em Santo Antônio serão as maiores em potência nominal no mundo: cada uma terá capacidade de gerar 72 MW.

Um Projeto com Consciência Ambiental 

Fonte: www.furnas.com.br

A história da ELETROBRAS Furnas se funde com a história do desenvolvimento sustentável do Brasil. Por entender que suas atividades interferem no meio ambiente, a Empresa tem o cuidado de integrar sua política ambiental às demais políticas, seguindo a legislação vigente e assumindo compromissos de conservação e preservação da biodiversidade das regiões onde atua, procurando garantir o uso sustentável dos recursos naturais.

Em Rondônia, foram conduzidos estudos que diagnosticaram os meios físico, biótico e socioeconômico. Para esse trabalho tornou-se fundamental a parceria entre a ELETROBRAS Furnas e as instituições de ensino e pesquisa localizadas na região amazônica, como a Universidade Federal de Rondônia, o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia e a Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais.

Ao final dos trabalhos, a comunidade científica e a sociedade brasileira podem contar com um importante acervo para tomar como base na implantação de um sólido projeto de desenvolvimento regional sustentável.

Um instrumento de gestão que possibilitará a instalação, construção e operação de empreendimentos atendendo as exigências legais e, acima de tudo, preservando a integridade ambiental com respeito às comunidades locais.

Soluções de Menores Impactos 

Fonte: www.furnas.com.br 

Os estudos de engenharia adotaram cuidados para que os impactos na construção das usinas hidrelétricas sejam os menores possíveis. Assim, as duas barragens terão baixa queda, sendo Santo Antônio com 13,9 m e Jirau com 15,2 m. O tipo de turbina previsto nos estudos de viabilidade foi bulbo, pois esse tipo de turbina é o que melhor se adapta às condições locais não exigindo grandes reservatórios, mas sim grandes volumes e velocidade de água. Outro cuidado é em relação às áreas que serão inundadas. Elas serão praticamente as mesmas já inundadas durante as cheias anuais do Rio Madeira.

Usina de Jirau 

Fonte: www.furnas.com.br  

A Usina Hidrelétrica de Jirau é uma usina hidrelétrica em construção no Rio Madeira, na Cidade de Porto Velho, em Rondônia, que terá capacidade instalada de 3.450 MW, e que faz parte do Complexo do Rio Madeira. A construção está sendo feita pelo consórcio “ESBR – Energia Sustentável do Brasil”, formado pelas empresas Suez Energy [50.1%], Eletrosul [20%], Chesf [20%] e Camargo Corrêa [9,9%]. Em 28 de janeiro de 2010, o consórcio construtor informou o novo cronograma de operação, prevendo o início de funcionamento da primeira das 46 turbinas do tipo bulbo para março de 2012 e o pleno funcionamento da usina para novembro do mesmo ano.

Seu reservatório vai alagar uma área de 258 quilômetros quadrados. Um problema a ser resolvido é como tratar os resíduos sólidos maiores que descem pelo Rio [estima-se que cerca de 1.600 troncos descem diariamente pelo Rio].

O contrato prevê que os troncos não podem ser devolvidos ao Rio, nem serem usados com fins lucrativos.

Turbina Hidráulica Tipo Bulbo 

Fonte: Enciclopédia Wikipédia. 

Basicamente trata-se de uma unidade geradora composta de uma turbina Kaplan e um gerador envolto por uma cápsula. A cápsula, por sua vez, fica imersa no fluxo d’água [imerso na água], isto acarreta em um equipamento que exige uma vedação mais precisa, o que impacta em um espaço menor para acesso de manutenção. Operam em quedas abaixo de 20 m. Foram inventadas na década de 30. As primeiras foram construídas pela empresa Escher Wyss, em 1936. Possui a turbina similar a uma turbina Kaplan horizontal, porém, devido à baixa queda, o gerador hidráulico encontra-se em um bulbo por onde a água flui ao seu redor antes de chegar às pás da Turbina. A maior unidade tipo Bulbo construída encontra-se no Japão, na usina de Tadami, que possui 65,8 MW de potência, queda de 19,8 m e rotor com diâmetro de 6,70 metros. No Brasil, existe o planejamento da construção das Usinas de Santo Antônio e Jirau, constando no projeto de cada usina a instalação de 44 e 46 turbinas do tipo Bulbo com potência unitária igual a 73 MW e 75 MW, respectivamente. As turbinas a serem instaladas nestas usinas passarão a ser as maiores turbinas bulbo do mundo.

Usina Hidrelétrica de Santo Antônio 

Visita Sede Eletronorte, Porto Velho

Dando sequência a nossas pesquisas referentes a esta 4ª Fase do Projeto Desafiando o Rio-Mar, no dia 19.12.2011, fomos apresentados ao Jornalista José Carlos de Sá Júnior ‒ Coordenador de Relações Institucionais da Santo Antônio Energia. O primeiro contato, na parte da manhã, na sede da empresa em Porto Velho, não poderia ser mais agradável do que foi, a lucidez, simpatia e inteligência de Sá Júnior cativaram a todos que lá estavam. Sá é, sem dúvida, “The Right Man in The Right Place” (O Homem Certo, no Lugar Certo), à tarde tivemos o privilégio de acompanhá-lo em uma visita às instalações da Hidrelétrica. Aqueles que condenam a construção de Usinas Hidrelétricas na Amazônia Legal se esquecem que é nesta região que se encontra 70% do potencial hidrelétrico ainda não explorado e que as hidrelétricas são a forma mais adequada de se obter energia necessária para garantir o desenvolvimento sustentável do país. Graças a essa nova demanda de energia limpa e barata, os Estados de Rondônia e Acre viverão, a partir do ano que vem, um novo ciclo econômico sem as limitações impostas pela falta de oferta de energia.

Construção da Usina de S. Antônio (19.12.2011) 

Fonte: Santo Antônio Energia e José Carlos de Sá Júnior 

Hidrelétrica de Santo Antônio, Porto Velho

O Projeto de construção da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio começou a ser desenvolvido em 2001, com a realização de estudos geológicos e de engenharia pelo consórcio Furnas-Odebrecht, para identificar o lugar mais apropriado para sua instalação, bem como a tecnologia de geração de energia mais indicada para o Rio Madeira e de menor impacto para as comunidades ribeirinhas e a biodiversidade amazônica.

Santo Antônio será uma hidrelétrica com baixo impacto ambiental, considerando a relação entre a capacidade instalada e as dimensões do reservatório, passando a ser um marco na história de produção de energia por meios hídricos no país. A área do reservatório, de 271 km², incluiu a calha natural do Rio que é de 164 km², e devemos considerar, ainda, que dos 107 km² restantes, grande parte se constituía em regiões de várzea inundadas no período das cheias.

Neste ano ainda deve entrar em operação a primeira das oito turbinas do primeiro grupo de casas de força.
(José Carlos de Sá Júnior)

A construção teve início no trecho do Rio que vai da margem direita à Ilha do Presídio no Rio Madeira, em Porto Velho ‒ RO, em setembro de 2008, que foi isolado com a construção de ensecadeiras (aterros temporários para manter seco o leito do Rio a ser trabalhado).

Nesta área, teve início o trabalho de escavação em rocha que hoje abriga o primeiro dos quatro grupos de casas de força da Usina. Neste segmento da UHE, a primeira unidade geradora com oito de suas 44 turbinas do tipo bulbo, antecipando o cronograma em cinco meses, vai começar a operar em dezembro de 2011.

Curiosamente, ao se construir uma das ensecadeiras, verificou-se que, sob as ciclópicas rochas que se apresentavam aos olhos admirados daqueles que tiveram a oportunidade de conhecer a Cachoeira no passado, se escondiam cotas negativas de seis metros abaixo do nível do Mar só descobertas graças ao trabalho desenvolvido pelos engenheiros da Santo Antônio.

Hidrelétrica de Santo Antônio, Porto Velho

Santo Antônio será uma das quatro maiores usinas hidrelétricas do país, com capacidade instalada de 3.150,4 MW (2.218 MW de geração assegurada), energia suficiente pra abastecer cerca de 40 milhões de pessoas. Infelizmente, os “Talibãs Verdes” teimam em criticar esta diferença de valores, mostrando sua ignorância em relação ao regime de águas da Bacia Amazônica e ao projeto de uma hidrelétrica que prima pela produção de energia limpa, com a diminuição do uso das poluidoras termelétricas.

As turbinas usadas em Santo Antônio trabalham com o processo denominado “fio de água” que aproveitam a alta vazão do Rio Madeira, evitando a construção de grandes quedas d’água e consequentemente minorando os impactos ambientais decorrentes.

É muito fácil criticar empreendimentos tão necessários ao desenvolvimento e melhoria das condições de vida dos amazônidas e demais brasileiros saboreando uma bebida gelada em ambiente climatizado como fazem os idiotizados “inocentes úteis” cooptados por ONGs que defendem inconfessos interesses estrangeiros.

Turbinas Bulbo   

Fonte: Santo Antônio Energia e José Carlos de Sá Júnior   

Grande parte das Hidrelétricas do Brasil usa turbinas que ficam na vertical. Em Santo Antônio, serão utilizadas turbinas bulbo que são instaladas na horizontal. As turbinas bulbo trabalham com a força da correnteza, ou seja, com o fluxo d’água, e não com a altura de sua queda.

Justamente por isso não há necessidade de barragens muito altas nem de grandes reservatórios. Isso quer dizer menor área alagada, menor impacto e uma maior quantidade de energia gerada. O índice de 0,09, que representa a relação entre a área do reservatório e a potência produzida de Santo Antônio é um dos menores do país.

Sistema de Transposição de Peixes (STP) 

Fonte: Santo Antônio Energia e José Carlos de Sá Júnior  

O Fantástico comentou, recentemente, em tom de crítica, que o sistema de transposição de peixes adotado em Santo Antônio vai selecionar o tipo de peixe que vai subir o Rio. O sistema foi criado atendendo orientação do Ibama justamente para que não seja alterado o ecossistema a montante da usina. (José Carlos de Sá Júnior)

Anualmente, os peixes nadam contra a corrente, procurando locais mais adequados e seguros para reprodução. Estas construções, localizadas na margem esquerda do Rio e na Ilha do Presídio, garantirão que os peixes não tenham seu ciclo de vida alterado. A velocidade das águas e a inclinação do sistema foram cuidadosamente planejados de maneira a impedir que as espécies que, antes da construção, não tinham acesso às águas a montante da Cachoeira, não consigam fazê-lo através do STP.

Sistema Interceptor de troncos 

Fonte: Santo Antônio Energia e José Carlos de Sá Júnior 

A ideia inicial era deslocar toda a madeira para uma curva do Rio de onde seria retirada. Em virtude da quantidade do material coletado [1.600 troncos por dia], não seria possível estocá-lo e se pensou em dar-lhe um aproveitamento industrial adequado. (José Carlos de Sá Júnior)

Na UHE S. Antônio seria colocado um sistema de boias em forma de funil que conduziriam os troncos para três vertedouros de 20 m de largura que serão abertos de tempo em tempo para sua passagem. A empresa chegou a arquitetar um projeto que aproveitasse o material coletado, impedindo que o mesmo continuasse a prejudicar a navegação no Rio Madeira, a jusante da usina.

Os “ecoxiitas” do IBAMA, estão mais preocupados com a sobrevivência destes microrganismos do que com a vida dos ribeirinhos ceifada constantemente por estes obstáculos flutuantes, embargou o projeto. Somente aqueles que já navegaram pelo Madeira conhecem o perigo que representam estas enormes armadilhas que mais parecem aríetes flutuantes. Recentemente, a ponte da BR 319, em construção, próxima a Porto Velho, teve seu pilar levado pela torrente em virtude do acúmulo de troncos. Se a ponte já estivesse em operação inúmeras vidas teriam se extinguido, mas, para o IBAMA, isto não é importante.

Será que o IBAMA é capaz de explicar sua absurda lógica aos familiares daqueles que perderam seus entes queridos, vítimas dos maravilhosos troncos cuja superfície é pródiga em microrganismos que precisam a qualquer custo serem preservados?

Curiosidades 

Fonte: Santo Antônio Energia e José Carlos de Sá Júnior

  • Será a sexta maior do Brasil em potência instalada [atrás de Itaipu, Tucuruí, Ilha Solteira, Jirau e Xingó], e a terceira em energia assegurada;
  • Sua geração será suficiente para suprir a necessidade de 44 milhões de brasileiros, o que equivale a quatro vezes a população da Cidade de São Paulo;
  • As 44 turbinas bulbo da usina hidrelétrica são consideradas as maiores do mundo com essa tecnologia;
  • A quantidade de ferro usado na construção da usina [138 mil toneladas] daria para construir 18 torres Eiffel;
  • A construção de Santo Antônio irá consumir cimento suficiente para erguer 37 estádios do Maracanã.

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 04.12.2020 – um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: hiramrsilva@gmail.com.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *