Estudo mostra que as florestas secundárias tiveram ação limitada na mitigação das mudanças climáticas

Um novo estudo de pesquisadores da Rede Amazônia Sustentável (RAS) mostra que as florestas secundárias (ou capoeiras) na Amazônia, embora importantes para ações de recuperação ambiental, têm contribuído pouco para a absorção de carbono e controle das mudanças climáticas.

A Amazônia tem 130 mil km² de florestas secundárias -Foto: EMBRAPA

Nas últimas três décadas, essas florestas absorveram apenas 10% do que foi emitido pelo desmatamento na região. O resultado do trabalho, conduzido por cientistas brasileiros e estrangeiros, foi publicado recentemente na revista internacional Global Change Biology e pode ser acessado neste link.

As florestas secundárias, ou capoeiras, são aquelas que crescem em áreas anteriormente desmatadas. Dos 700 mil quilômetros quadrados de áreas já desmatadas na Amazônia, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cerca de 130 mil km² estão cobertos pelas florestas secundárias.

O estudo, que tem na Embrapa Amazônia Oriental um das instituições participantes, utilizou dados do MapBiomas de código aberto para mapear a idade, extensão e o estoque de carbono das florestas secundárias em toda a Amazônia brasileira no período de 1986 a 2017.  Após calcular quanto carbono havia sido perdido devido ao desmatamento, os cientistas descobriram que, em mais de 30 anos, o crescimento das florestas secundárias nas áreas desmatadas na Amazônia brasileira compensou menos de 10% das emissões provenientes da perda de florestas antigas.

A pesquisadora Charlotte Smith, da Universidade de Lancaster (Reino Unido) e principal autora do estudo, explica que as florestas secundárias têm um potencial incrível para armazenar grandes quantidades de carbono. “No entanto, leva muito tempo para que eles construam esse estoque de carbono, portanto, sem um declínio drástico na taxa de desmatamento, seus benefícios ambientais continuarão a ser minados”, alerta a cientista.

Os pesquisadores descobriram também que a maioria das florestas secundárias são relativamente jovens – mais de 85% têm menos de 20 anos e quase a metade (42%) tem menos de cinco anos. Isto acontece, segundo os especialistas, porque as florestas secundárias também estão sujeitas ao desmatamento. “De todas as florestas secundárias mapeadas durante o período de 32 anos, 60% haviam sido desmatadas novamente até 2017”, revela a cientista.

Clima e paisagem também influenciam

Os pesquisadores analisaram outros fatores que afetam o crescimento secundário das florestas e a absorção de carbono, como o clima, a paisagem e a proximidade de florestas antigas, que podem atuar como fonte de sementes. Eles descobriram que a maioria das florestas secundárias está situada longe das florestas primárias, nas partes mais secas da Amazônia. Estes fatores sugerem que as expectativas quanto ao papel dessas florestas em absorver carbono precisam ser ajustadas para as diferentes situações.

O pesquisador Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, co-autor do estudo, explica que, embora as florestas secundárias possam ser uma parte importante da solução para a mudança climática, também é importante não exagerar sua relevância. “Apesar de sua escala e importância para as metas climáticas, nossa compreensão de sua contribuição para o balanço de carbono tropical é incompleta. Não ficou claro até que ponto as emissões de carbono provenientes do desmatamento foram compensadas pelo crescimento secundário das florestas”, destaca o cientista.

Apoio a políticas públicas

De acordo com a pesquisadora Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, e co-autora do trabalho, os resultados do trabalho ajudam a subsidiar políticas e propostas de gestão ambiental na Amazônia. “Exemplos concretos da aplicação de resultados como esses podem ser vistos em ações que o estado do Pará já implantou, como o Plano Amazônia Agora, que conta com as florestas secundárias e a redução do desmatamento para zerar as emissões líquidas de carbono”, destaca a cientista.

De acordo com o Plano, o Pará deverá zerar suas emissões líquidas de carbono a partir do ano de 2036. Ou seja, ao mesmo tempo em que precisa reduzir o desmatamento ilegal, tem que promover o aumento da regeneração de florestas secundárias (capoeiras) que atuam na absorção do carbono. Para apoiar a política pública, os pesquisadores calcularam o acúmulo de carbono em florestas secundárias (capoeiras) em diferentes regiões do estado.

Outro exemplo prático, destacado pela pesquisadora, é a Instrução Normativa 02/2014 do Pará, conhecida como a “Lei das Capoeiras”, que a pesquisa também ajudou a orientar. Ela estabelece critérios de conservação das florestas secundárias no estado, evitando assim a retirada da vegetação nas áreas que prestam serviços ambientais mais relevantes.

Joice Ferreira ressalta que as florestas secundárias são uma solução muito importante para absorção de carbono e controle das mudanças climáticas, além de conservarem a biodiversidade. O estudo recente não diminui o papel dessas florestas na solução, mas mostra que a capacidade delas é limitada frente à taxa de desmatamento na região. “Portanto, a redução do desmatamento, a manutenção das capoeiras e a agricultura e pecuária sustentáveis nas áreas já incorporadas são vitais para combater as mudanças climáticas”, finaliza.

Ana Laura Lima (MTb 1268/PA)
Embrapa Amazônia Oriental

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Com informações da Universidade de Lancaster (Reino Unido)

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