Para a Amazônia gerar riquezas é preciso tecnologias adequadas de manejo considerando as realidades locais, afirma diretor do IDSM

João Valsecchi também revelou outros desafios e os trabalhos de sucesso do Instituto de Desenvolvimento Social Mamirauá, organização social do MCTI

“Nós não vamos conseguir explorar a Amazônia e gerar riquezas para o país se não houver tecnologias adequadas de manejo considerando as realidades locais. Não é possível pescar, retirar madeira, fazer agricultura na região, considerando um cenário de floresta preservada, se dependermos de tecnologias existentes para outras áreas. É preciso investimento específico continuado e de grande porte.” O alerta foi feito pelo pesquisador, João Valsecchi que é diretor do Instituto de Desenvolvimento Social Mamirauá (IDSM) organização social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O diretor participou de um bate papo na tarde desta sexta-feira (30), dia escolhido para o Instituto Mamirauá participar do Mês Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovações (MNCTI).

A sede do Instituto Mamirauá fica no município de Tefé (AM), a cerca de 500 quilômetros da capital do estado, Manaus. E a distância é um grande desafio apontado pelo diretor João Valsecchi. A sede do instituto fica longe dos grandes centros urbanos e isolada no meio da floresta onde os serviços são precários, e a estrutura necessária à pesquisa e inovação muitas vezes não é a mais adequada. “A distância gera problemas econômicos. A alimentação é cara, o combustível é caro. As vezes para se fazer uma pesquisa de campo é necessário deslocamento de três dias de barco. Os custos de combustível, de equipe, alimentação, são altos”, revela.

Outra dificuldade enfrentada pelo Instituto Mamirauá diz respeito à captação e fixação de pesquisadores na região. Valsecchi explica que neste cenário o pesquisador residente é fundamental pois a pesquisa é um processo de médio, longo prazo e demanda um esforço grande para que gere bons resultados. “Não conseguimos gerar grandes séries de monitoramento, grandes séries de dados, ou fazer qualquer desenvolvimento tecnológico em pouco tempo. Por isso precisamos de pesquisadores fixos na região que sejam capazes de compreender a realidade regional e não cheguem tentando impor um modelo externo não sustentável”, afirma.

Para o diretor, o sucesso do Instituto possui principalmente dois fatores: o primeiro é o apoio e investimento do MCTI e o segundo ele credita ao compromisso da equipe. “Não é simples trabalhar na Amazônia e não é fácil conseguir pessoas que aceitem permanecer um tempo na região. São essas pessoas compromissadas com a missão institucional que permitem o nosso sucesso tanto na área de conservação como na área de desenvolvimento sustentável na região”, reconhece.

Casos de sucesso

Dentre os projetos de sucesso do instituto, João Valsecchi cita dois. O primeiro de manejo do peixe pirarucu. A espécie chegou a estar ameaçada de extinção e que hoje com a tecnologia e o apoio do Instituto Mamirauá está sendo explorada por milhares de pescadores de maneira sustentável. A iniciativa gera renda para as famílias ribeirinhas e para o estado. A tecnologia consiste em monitorar a população de pirarucu, contabilizando o número de indivíduos adultos e reprodutivos para o estabelecimento de uma cota de retirada. Essa quantidade é autorizada pelos órgãos competentes e os pescadores só podem extrair essa cota da população. Obtendo lucros com a atividade e fazendo com que a população natural se recupere. “A pesca da espécie que era proibida no estado do Amazonas hoje é manejada por milhares de pescadores tanto da reserva Mamirauá, quanto de outras unidades de conservação o projeto é sucesso, tanto do ponto de vista ambiental de conservação, quanto do ponto de vista de desenvolvimento social e econômico da região”, comemora.

Outro projeto de destaque do IDSM é o “Providence” que utiliza inteligência artificial para detectar, identificar espécies e monitorar a fauna na Amazônia. A tecnologia utiliza as imagens e os sons produzidos pelos animais na mata para identificar automaticamente as espécies. Em seguida, essas informações são transmitidas em tempo real para os pesquisadores. Com uma rede de câmeras e microfones escondidos na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a 600 quilômetros de Manaus, o projeto está automatizando o processo de monitoramento da fauna brasileira e identificando as espécies por conta própria, em tempo real.

“Essa tecnologia tem diminuído muito o esforço de campo, os custos da pesquisa associados a essa necessidade de ter que ir a campo e aumenta muito a velocidade da pesquisa”, explica Valsecchi.

O projeto Providence tem ajudado a monitorar espécies ameaçadas na Amazônia. O uso de tecnologias permite estimar as populações de diversas espécies, gerando dados essenciais para identificar o nível do risco de extinção da fauna. Também viabiliza analisar o modo como os animais ocupam o espaço e, a partir disso, identificar possíveis perigos para as espécies.

Além deste projeto, o Instituto Mamirauá possui vários outros projetos em saneamento, acesso à agua, inclusão social que são executados ou em parceria com outros órgãos e instituições. Saiba mais em mamiraua.org.br 

PUBLICADO EM:     MCTI   

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