A contagem para o fim da Amazônia já começou

O agronegócio e o garimpo são hoje os dois maiores inimigos da Amazônia, sendo os principais responsáveis pelo desmatamento da floresta. O primeiro é responsável pela perda de 90% da vegetação natural do Brasil e o segundo tem criado uma indústria que além de desmatar, trazendo doenças para os povos indígenas, planeja, com a ajuda do governo, explorar mais de 200 mil hectares de reservas naturais e indígenas em busca de minério.

Foto: Christian Braga / Greenpeace /IHU.UNISINOS.BR

A reportagem é de André Martins, estagiário do Curso de Jornalismo da Unisinos.

Todas essas questões foram levantadas e debatidas nesta quinta-feira, 10-09-2020, em evento realizado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, o qual contou com a participação do padre Dario Bossi e da profa. dra. Nurit Bensusan, que ministraram a palestra intitulada “Amazônia. A devastação da floresta pelo agronegócio e a mineração”.

O agronegócio

No primeiro momento, Nurit explicou como a criação de gado e a plantação de soja estão sendo prejudiciais para a floresta amazônica, sendo as principais responsáveis pelo alto índice de desmatamento. O agronegócio, segundo ela, não é essencial nessa região; ao contrário, é muito mais uma oportunidade capitalista para as grandes empresas. No entanto, ela defende que há outras maneiras de expandir o cultivo de pasto fora da Amazônia e até controlar o que já é cultivado na região. “As empresas podem criar mecanismos para o gado que é vendido naquela região e controlar a produção, para não serem responsáveis pelo desmatamento”, afirma.

Para Nurit, a agropecuária é implacável na destruição da Amazônia e os povos indígenas estão vendo seus territórios serem invadidos não só pelos responsáveis de crimes ambientais, mas pelo vírus da Covid-19 que essas pessoas trazem. “A Covid-19 trouxe uma situação dramática para as comunidades indígenas e resultou em centenas de mortes, principalmente dos mais velhos. Com essas mortes, muitos aspectos da cultura, da linguagem e ensinamentos estão se esvaindo dessas comunidades”. Nurit também afirma que, com o aumento gigantesco do desmatamento nos últimos dois anos, mais a pandemia, é possível que ocorra um etnocídio na região.

O desmatamento inconsequente e de grandes proporções tem como consequência o desequilíbrio do ecossistema. Com a expansão do rebanho de gado na região, os resultados para o bioma podem ser ainda mais preocupantes. “O encontro de espécies exóticas, como o gado, com espécies nativas, pode gerar resultados catastróficos para o ecossistema”, afirma.

Nurit ainda questiona como será o futuro da Amazônia. Segundo ela, tudo que está acontecendo na floresta nos últimos anos terá consequências futuramente, causando catástrofes inimagináveis para a floresta, para as comunidades indígenas e até mesmo para o mundo. “A contagem para o fim da Amazônia já começou. A pergunta é o que podemos fazer para evitar que o céu despenque sobre nossas cabeças”, assegura.

O garimpo na floresta

O padre Dario Bossi abriu sua palestra mostrando um vídeo de como a indústria do minério afetou uma comunidade desde a sua chegada na região, nos anos 1980. Com a mineração, vieram doenças, poluição e quilômetros de estradas que abriram a Amazônia até o coração da floresta. Bossi explica que todos esses movimentos foram programados. “Um ataque foi desenhado desde os anos 1960 para procurar minérios na Amazônia, onde 15 anos depois se instalou a maior mina de minério do mundo”, informa.

A exploração do minério ocasionou uma grande cadeia de acontecimentos maléficos naquela área, já que para a mina funcionar, foi instalado um polo siderúrgico na região e foram criadas rodovias de vias duplas por toda a extensão do local. Para viabilizar esse projeto, foram desmatados quilômetros de florestas ao redor da indústria.

O ouro continua sendo muito cobiçado pelos grileiros. Com a pandemia, a cotação do ouro aumentou e, consequentemente, a procura por ele também, principalmente em terras indígenas. Com a incerteza econômica atual, investidores começaram a ver no ouro uma via segura para aumentar os investimentos. “É impressionante ver que o aumento da curva do preço ouro também ocorreu nas terras indígenas”, afirma.

Para o padre Dário, a luta entre a comunidade que defende a floresta e os grileiros que querem ocupar a região traz à tona a violência contra os povos indígenas. “A violência tem crescido de uma forma descontrolada nesses últimos anos, gerando mais ameaças de morte nas comunidades”, relata.

Governo conivente

Tanto Bossi quanto Nurit concordam que o governo é um dos principais responsáveis pelo aumento do desmatamento na Amazônia. Na avaliação de Nurit, a narrativa governamental ajudou muito para que a ilegalidade ocorresse na floresta amazônica. “A narrativa de outros governos coibia o desmatamento, mas com o discurso de Bolsonaro, tudo pode”. Ela disse ainda que o Código Florestal abriu brechas para perdoar uma parte do desmatamento que ocorreu na floresta e que ainda ocorre.

Bossi denuncia que o governo, principalmente nomes fortes que estão em uma frente militar na Amazônia, faz reuniões com grandes empresários do minério, mas dificilmente se reúne com órgãos ou pessoas que tentam proteger a Amazônia das ameaças de desmatamento.

Porém, na avaliação dele, o principal inimigo da Amazônia e dos povos indígenas é o Projeto de Lei 191/20, que viabiliza a exploração de recursos minerais em terras indígenas e áreas protegidas. Para os dois palestrantes, se for aprovada, essa lei será um enorme problema para a vida na Amazônia, principalmente para os indígenas que já sofrem com os ataques brutais de grileiros e de grandes transnacionais.

Ao final da palestra, padre Dário Bossi mencionou a luta da comunidade indígena que está se articulando para se opor à lei 191/20 no Congresso, e a campanha Amazoniza-te, que articula lideranças dos povos indígenas e da Igreja em defesa da Amazônia.

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PUBLICADO POR:  IHU UNISINOS  –  AMAZÔNIA.ORG.BR   

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