A Terceira Margem – Parte XI

Momentos Transcendentais no Rio Solimões

Parte III

Cântico das Criaturas

(São Francisco de Assis)  

Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.  

A ti só, Altíssimo, se hão de prestar e nenhum homem é digno de te nomear.

 Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o meu senhor irmão Sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia.

 E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.

 Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e as estrelas: no céu as acendeste, claras, e preciosas, e belas.

 Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento e pelo ar, e nuvens, e sereno, e todo o tempo, por quem dás às tuas criaturas o sustento.

 Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é tão útil, e humilde, e preciosa e casta.

 Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo qual alumias a noite, e ele é belo e jucundo e robusto e forte.

 Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa, e produz variados frutos, com flores coloridas, e verduras.

 Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor e suportam enfermidades e tribulações.

 Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz, pois por ti, Altíssimo, serão coroados.

 Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal, à qual nenhum homem vivente pode escapar.

 Ai daqueles que morrem em pecado mortal! Bem-aventurados aqueles que cumpriram tua santíssima vontade, porque a segunda morte não lhes fará mal.

 Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças e servi-o com grande humildade.

 A Vingança da Samaúma (05.01.2009)  

A sumaumeira morta, que tombou.
Ela era antiga e gloriosa
Como um deus que passou,
Que vai bem longe, um deus heroico, um deus pagão.
(Francisco Pereira da Silva – Sumaumeira morta)
 

A primeira visão que se tem da Comunidade, Laranjal, quando se desce o Rio Solimões, é a da exuberante samaúma com suas enormes sapopemas que lembram os véus de uma deusa da floresta. Existiam três na região; a maior delas foi criminosamente abatida para ser vendida e transformada em compensado. Uma árvore magnífica como esta deveria ser tombada como patrimônio da humanidade e, nunca, utilizada para comercialização. O senhor Idelfonso, um dos líderes da comunidade, construiu um barco à sombra de uma das imponentes samaúmas sobreviventes próxima à sua casa.

O barco ficou pronto e permaneceu no local da construção. Em uma determinada noite, a vingança ocorreu. A samaúma despencou um de seus mais frondosos galhos, esmigalhando o barco e vingando a irmã abatida pela Comunidade.

Partida para Camarazinho (11.01.2009)

Tardamos quatorze dias para realizar essa obra, de contínua e ordinária penitência, passamos muita fome e a pouca comida que tínhamos, eram os mariscos que vinham à beira da água, que eram uns caracóis e uns caranguejos vermelhinhos, do tamanho de rãs. Metade dos companheiros lutava nesse afã e a outra metade, continuava trabalhando. (CARVAJAL)

[…] Partimos e resolvi parar próximo à Foz do Lago Mamiá, cujas praias tínhamos visitado com o Major Denildo. Fizemos um lanche rápido enquanto observávamos o encontro das águas pretas do Mamiá com o Solimões e a pequena Comunidade junto à Foz. Rumei para o braço direito do Rio Solimões, à direita de uma grande Ilha e, na parada seguinte, encontrei um belo “caranguejo vermelho” que fotografei (Imagem 02) lembrando de um comentário feito pelo Padre Gaspar de Carvajal na expedição de Francisco de Orellana.

Partida para Codajás (12.01.2009)

[…] Agradecemos o apoio e o belo cacho de bananas que nos presentearam. Mantive a rota próxima à margem direita até a primeira parada, numa bela praia, e depois, na altura da Costa da Salvação, me aproximei da margem esquerda onde estava o talvegue.

O Romeu e a Maria Helena mantiveram uma rota paralela próxima à margem direita, embora eu os orientasse insistentemente para alterá-la. Minha ideia era parar na margem esquerda de um enorme banco de areia localizado a uns 12 km da Costa da Salvação mas, como a dupla continuasse fora da rota, tive de alterar para aportar na margem direita do banco, aumentando o percurso e me afastando do talvegue. Esta mudança nos fez, mais tarde, enfrentar, desnecessariamente, o mau tempo no meio do Rio. Aportando, bastante aborrecido, no grande banco, caminhei até a parte mais alta para um reconhecimento acompanhado pela Maria Helena. O tempo estava carregado e várias pancadas de chuvas tropicais eram avistadas ao longe. Mostrei a ela por que eu estava indo pela margem esquerda e o grande furo à direita que tínhamos de evitar para não ultrapassar Codajás.

Requiem Dies Irae

Wolfgang Amadeus Mozart nasceu Johannes Chrysostomus Wolfgang Gottlieb Mozart, no dia 27 de janeiro de 1756, em Salzburgo, Áustria. Com quatro anos, começou a ter aulas de música com o pai, demonstrando uma extraordinária vocação musical e, logo, começou a compor pequenas peças.

A perícia do menino ao teclado encantou o pai que o levou para a primeira turnê pela Europa, com apenas seis anos de idade, onde alcançou fragoroso sucesso nas cortes. No intervalo das apresentações, Mozart encontrava tempo para compor e sua composição mais importante foi a ópera “La finta semplice”, escrita quando tinha apenas doze anos.

Em 1784, entrou para a ordem maçônica. A influência da maçonaria marcou todas as peças produzidas a partir de então, quando ele alcança o mais alto nível em matéria de profundidade e expressão artística. São obras que simbolizam a conquista da liberdade tão almejada pelo compositor.

Em 1791 recebeu, de um irmão maçom, a encomenda de uma ópera popular. A história, relatada através de um conto de fadas, fazia a apologia da maçonaria, da sua trilogia fundamental “a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade”, de seus valores e a busca de si mesmo. Era “A Flauta Mágica”, a obra-prima de Mozart. A estreia foi um triunfo total e a fama da ópera correu toda a Cidade de Viena e se estendeu pela Europa. A partir de então, as encomendas não pararam.

O “Requiem Dies Irae”, de Wolfgang Amadeus Mozart, está envolto por um manto de mistério, romantismo e fantasia. A obra foi encomendada pelo Conde Walsegg-Stuppach, em memória de sua esposa, e Mozart, atarefado e doente, foi compondo o Requiem quando podia, dando mais importância a outras obras.

A esposa estava preocupada com a mudança no seu comportamento. Um dia, quando passeava com o marido com intuito de animá-lo, Mozart disse que estava escrevendo o “Requiem” para si próprio afirmando:

Eu não consigo tirar da minha cabeça a imagem desse estranho. Vejo-o constantemente a me perguntar, solicitando-me e implorando-me impacientemente que complete a tarefa, é o meu Requiem, não o posso deixar inacabado.

Infelizmente a morte interrompeu o mais belo Requiem produzido até hoje pelo maior de todos compositores clássicos. Mozart faleceu no dia 05 de dezembro de 1791 e, finalmente, o “Requiem” foi concluído pelo seu discípulo Franz Xaver Sussmayr.

Requiem a uma Velha Bússola de Guerra

Voltei para o meu caiaque e, ao embarcar, depois de mais este aborrecimento proporcionado pela falta de experiência do Romeu, acabei perdendo minha bússola sueca “Silva” que me acompanhava desde os tempos de Aspirante há 32 anos. Ela mergulhou celeremente nas águas lamacentas do velho Rio e as notas do “Dies Irae” soaram nos meus ouvidos numa justa homenagem à amiga de longa data.

A velha bússola participou, ombro a ombro, de diversas competições, pistas de orientação, manobras, montagem de exercícios, marchas, uma série infindável de momentos, sempre apontando a rota correta. As imagens de competições de PELOPES em que a Engenharia de Vilagran sobrepujara os camaradas da Infantaria e da Cavalaria, as montagens de pistas de orientação em que ela era minha parceira inseparável e as pistas que juntos executamos, tudo isso vinha à minha mente junto com o som do “Requiem” imaginário. Adeus, querida amiga! Partiste como um dia quero partir, “vendo, tratando e pelejando!

Por Hiram Reis e Silva (*), Bagé, 30.07.2020um Canoeiro eternamente em busca da Terceira Margem.

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;  

  • Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)
  • Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
  • Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);
  • Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);
  • Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)
  • Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
  • Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
  • Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);
  • Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)
  • Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);
  • Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)
  • Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).
  • Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).
  • E-mail: [email protected].

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